Na média, o governo Dilma deve encerrar com um avanço do PIB de 1,6%, desempenho inferior a todos os períodos presidenciais completos entre todos os presidentes desde Floriano Peixoto (1891-1894)
O fraco desempenho da economia brasileira, em recessão técnica, tem pouco a ver com uma crise internacional e está mais ligado à desaceleração da demanda doméstica e à redução dos investimentos na produção. A visão, contrária aos argumentos da presidente Dilma Rousseff e do ministro da Fazenda, Guido Mantega, não vem da oposição ao governo, mas de uma ampla análise do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Divulgada sem alarde no site do Ipea, a Carta de Conjuntura derruba dois dogmas do discurso do governo federal. O Ipea reconhece a "recessão técnica", ou seja, a queda da atividade econômica por dois trimestres consecutivos. O governo rejeita esse conceito. O instituto, vinculado à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência (SAE), também nega que a crise mundial seja a única explicação para o fraco resultado do Produto Interno Bruto (PIB) registrado ao longo dos últimos quatro anos.
Governo reúne dados para mostrar fim da recessão Após recessão técnica, prévia do PIB tem leve alta de 0,27% em agosto Para a Fitch, Brasil está em recessão técnica Brasil vive recessão com crescimento baixo, diz Armínio Fraga Ipea confirma que país está em recessão técnica
A análise, assinada pela Diretoria de Estudos e Política Macroeconômicas, sai em um momento de crise interna no Ipea e de adiamento na divulgação de indicadores negativos para a economia às vésperas da eleição de domingo. Na semana passada, o diretor de Estudos e Políticas Sociais, Herton Araújo, entregou o cargo após ser voto vencido em reunião da cúpula do Ipea que decidiu, no início de outubro, não divulgar análises com dados públicos durante o período eleitoral. Na ocasião, Araújo defendia a divulgação de estudo técnico sobre miséria no Brasil a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) do IBGE.
Agora, a nova Carta de Conjuntura coloca ainda mais lenha na fogueira no debate político, partindo de análises econômicas. "Ao contrário de outros períodos em que o PIB caiu por dois trimestres consecutivos (por exemplo, 1998-1999, 2001, 2003 e 2008-2009), o momento atual não se caracteriza por crises externas, flutuações bruscas nos preços macroeconômicos e/ou "apagões" energéticos", escrevem os analistas do Ipea. "A inexistência de culpados óbvios isto é, de 'choques negativos' de grande monta torna ainda mais significativo o fenômeno da estagnação econômica recente."
Os economistas citam especificamente as últimas quatro crises vividas internamente, que deprimiram o PIB brasileiro. Entre 1998 e 1999, no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a economia sofreu os abalos da crise na Rússia e, na sequência, da maxidesvalorização do real, em janeiro de 1999. Dois anos depois, em 2001, o PIB recuou forçado pelo racionamento de energia no governo FHC, o chamado "apagão". Em 2003, a economia reagiu mal à brusca desvalorização do real, contaminado pela radicalização do período eleitoral do ano anterior. Finalmente, entre o fim de 2008 e o começo de 2009, o Brasil foi atingido pela explosão da crise econômica mundial, nos Estados Unidos e na Europa.
"Reitere-se que, nas últimas décadas, recessões técnicas só ocorreram em momentos em que o país foi atingido por choques negativos importantes", afirmaram os analistas do Ipea.
O Ipea destaca que "ainda que o quadro atual de baixo crescimento econômico seja obviamente indesejável, cumpre ressaltar que seus efeitos negativos têm sido mitigados pelo fato de a taxa de desemprego permanecer baixa e dos rendimentos reais continuarem crescendo". O bom ritmo do mercado de trabalho tem suavizado os problemas macroeconômicos e mantido um nível geral de atividade que impede que o PIB recue a zero. Depois de crescer 2,7% em 2011; 1% em 2012 ; e 2,5% em 2013, o PIB deve fechar em cerca de 0,3% neste ano, segundo projeções do mercado financeiro.
Na média, o governo Dilma Rousseff deve encerrar com um avanço do PIB de 1,6%, desempenho inferior ao de Floriano Peixoto (1891-1894) e de Fernando Collor (1990-1992) entre todos os presidentes. A admissão da recessão técnica fica clara no trecho em que o Ipea assinala as duas retrações consecutivas do PIB no primeiro e no segundo trimestre deste ano. "Este resultado (do 2º trimestre) configurou um cenário de recessão técnica, uma vez que o PIB já tinha caído 0,2% no trimestre anterior".
Inflação
Quanto ao desempenho da inflação, o Ipea reconhece que o cenário de aumento de preços no Brasil "vem se mantendo pressionado, em patamar elevado". De acordo com os economistas, o índice oficial (IPCA) fechará o ano em um nível superior aos 5,91% verificados em 2013 - isto é, estará ainda mais próxima do teto da meta perseguida pelo Banco Central, de 6,5%.
O Ipea também cita o estranho desempenho das despesas federais com programas sociais e previdenciários ao longo do primeiro semestre - as chamadas "pedaladas fiscais". O Tesouro atrasou o repasse de dinheiro aos bancos, notadamente a Caixa Econômica Federal, que continuaram realizando os pagamentos em dia de abono salarial, seguro-desemprego, benefícios previdenciários e Bolsa Família. Os atrasos nos repasses reduziram artificialmente as despesas federais. Após a revelação da manobra, o Tesouro iniciou uma correção dessas "pedaladas" em agosto e setembro, o que piorou o resultado fiscal do governo federal.
Sem citar diretamente essas operações, o Ipea assinala que houve "elementos incomuns do lado das despesas". "Os mais relevantes foram os pagamentos de abono e seguro-desemprego, que mais que dobraram, em termos reais, em relação aos registrados em agosto de 2013, compensando quedas expressivas ocorridas nos meses anteriores."
Divulgada sem alarde no site do Ipea, a Carta de Conjuntura derruba dois dogmas do discurso do governo federal. O Ipea reconhece a "recessão técnica", ou seja, a queda da atividade econômica por dois trimestres consecutivos. O governo rejeita esse conceito. O instituto, vinculado à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência (SAE), também nega que a crise mundial seja a única explicação para o fraco resultado do Produto Interno Bruto (PIB) registrado ao longo dos últimos quatro anos.
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A análise, assinada pela Diretoria de Estudos e Política Macroeconômicas, sai em um momento de crise interna no Ipea e de adiamento na divulgação de indicadores negativos para a economia às vésperas da eleição de domingo. Na semana passada, o diretor de Estudos e Políticas Sociais, Herton Araújo, entregou o cargo após ser voto vencido em reunião da cúpula do Ipea que decidiu, no início de outubro, não divulgar análises com dados públicos durante o período eleitoral. Na ocasião, Araújo defendia a divulgação de estudo técnico sobre miséria no Brasil a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) do IBGE.
Agora, a nova Carta de Conjuntura coloca ainda mais lenha na fogueira no debate político, partindo de análises econômicas. "Ao contrário de outros períodos em que o PIB caiu por dois trimestres consecutivos (por exemplo, 1998-1999, 2001, 2003 e 2008-2009), o momento atual não se caracteriza por crises externas, flutuações bruscas nos preços macroeconômicos e/ou "apagões" energéticos", escrevem os analistas do Ipea. "A inexistência de culpados óbvios isto é, de 'choques negativos' de grande monta torna ainda mais significativo o fenômeno da estagnação econômica recente."
Os economistas citam especificamente as últimas quatro crises vividas internamente, que deprimiram o PIB brasileiro. Entre 1998 e 1999, no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a economia sofreu os abalos da crise na Rússia e, na sequência, da maxidesvalorização do real, em janeiro de 1999. Dois anos depois, em 2001, o PIB recuou forçado pelo racionamento de energia no governo FHC, o chamado "apagão". Em 2003, a economia reagiu mal à brusca desvalorização do real, contaminado pela radicalização do período eleitoral do ano anterior. Finalmente, entre o fim de 2008 e o começo de 2009, o Brasil foi atingido pela explosão da crise econômica mundial, nos Estados Unidos e na Europa.
"Reitere-se que, nas últimas décadas, recessões técnicas só ocorreram em momentos em que o país foi atingido por choques negativos importantes", afirmaram os analistas do Ipea.
O Ipea destaca que "ainda que o quadro atual de baixo crescimento econômico seja obviamente indesejável, cumpre ressaltar que seus efeitos negativos têm sido mitigados pelo fato de a taxa de desemprego permanecer baixa e dos rendimentos reais continuarem crescendo". O bom ritmo do mercado de trabalho tem suavizado os problemas macroeconômicos e mantido um nível geral de atividade que impede que o PIB recue a zero. Depois de crescer 2,7% em 2011; 1% em 2012 ; e 2,5% em 2013, o PIB deve fechar em cerca de 0,3% neste ano, segundo projeções do mercado financeiro.
Na média, o governo Dilma Rousseff deve encerrar com um avanço do PIB de 1,6%, desempenho inferior ao de Floriano Peixoto (1891-1894) e de Fernando Collor (1990-1992) entre todos os presidentes. A admissão da recessão técnica fica clara no trecho em que o Ipea assinala as duas retrações consecutivas do PIB no primeiro e no segundo trimestre deste ano. "Este resultado (do 2º trimestre) configurou um cenário de recessão técnica, uma vez que o PIB já tinha caído 0,2% no trimestre anterior".
Inflação
Quanto ao desempenho da inflação, o Ipea reconhece que o cenário de aumento de preços no Brasil "vem se mantendo pressionado, em patamar elevado". De acordo com os economistas, o índice oficial (IPCA) fechará o ano em um nível superior aos 5,91% verificados em 2013 - isto é, estará ainda mais próxima do teto da meta perseguida pelo Banco Central, de 6,5%.
O Ipea também cita o estranho desempenho das despesas federais com programas sociais e previdenciários ao longo do primeiro semestre - as chamadas "pedaladas fiscais". O Tesouro atrasou o repasse de dinheiro aos bancos, notadamente a Caixa Econômica Federal, que continuaram realizando os pagamentos em dia de abono salarial, seguro-desemprego, benefícios previdenciários e Bolsa Família. Os atrasos nos repasses reduziram artificialmente as despesas federais. Após a revelação da manobra, o Tesouro iniciou uma correção dessas "pedaladas" em agosto e setembro, o que piorou o resultado fiscal do governo federal.
Sem citar diretamente essas operações, o Ipea assinala que houve "elementos incomuns do lado das despesas". "Os mais relevantes foram os pagamentos de abono e seguro-desemprego, que mais que dobraram, em termos reais, em relação aos registrados em agosto de 2013, compensando quedas expressivas ocorridas nos meses anteriores."
25 de outubro de 2014
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