Em 1946, Perón assumiu o poder argentino com um golpe, apoiado pelo exército e pela classe trabalhadora contra um regime tido por conservador. Tendo os sindicatos como importante base de sustentação política, o governo de Juan Perón promulgou extensa legislação social em benefício dos trabalhadores, apresentando-se como uma espécie de pai dos pobres. Usando e abusando das técnicas de demagogia populista, o peronismo exacerbou a figura do líder carismático que, da noite para o dia, caiu nas graças das camadas populares. Mesmo após sua queda, em 1955, sua aura de representante do povo foi mantida e permanece idealizada entre os trabalhadores argentinos.
Se trocássemos as datas e substituíssemos os personagens, praticamente tudo que foi dito caberia na recente história política do Brasil. A única diferença é que o populismo argentino tinha o apoio das armas, enquanto aqui a pólvora fardada foi substituída pelo fogo insaciável da marquetagem oficial. No fim, a estratégia política era a mesma: saciar o povo com efêmeras conquistas de forte apelo eleitoral. Coincidentemente, apesar de toda a teatralidade retórica, o cerrar de ambas as cortinas foi marcado pelo tom de sérias denúncias de corrupção, indignidade no exercício da função pública e um progressivo desarranjar da situação econômica real.
Certa vez, uma prestigiada inteligência advertiu que insanidade seria repetir a mesma coisa e esperar resultados diferentes. Ora, a vida ensina que a melhora das condições de vida do povo é uma consequência do aprimoramento institucional de um país e não da suposta vinda de um líder messiânico. Política responsável se faz com trabalho sério, responsabilidade e observância das regras do jogo. Quando a atividade política se transforma em um teatro de palavras fáceis e uma peça de fragilidade ética, o resultado é o enfraquecimento das instituições do Estado com o consequente comprometimento das condições dinâmicas da economia.
Dito e feito. Os sintomas de que a situação brasileira é periclitante são absolutamente palpáveis: inflação alta, câmbio em disparada e famílias endividadas. Abandonando a demagogia e voltando a administrar o país com prudência e seriedade, ainda temos tempo de manter a estrutura econômica em ordem. Sem cortinas, precisamos retomar o bom hábito de fazer o certo, olhar com rigor para os problemas da realidade e deixar de dizer que os problemas são os outros. Enfim, está chegada a hora de um governo competente que ponha um basta nos descaminhos e ineficiências da máquina pública brasileira.
Ato contínuo, não podemos mais continuar dividindo o país e divorciando a nação. Independentemente de loiro ou moreno, branco ou preto, homem ou mulher, pobre ou rico, somos todos só, e somente só, cidadãos brasileiros e, assim, merecedores de igual respeito e atenção. A velha máxima do dividir para governar está vencida. Um bom governo deve unir pontos diferentes em vez de cavar valas separatistas entre iguais. Aliás, os divorcistas políticos apenas representam a flagrante inabilidade de formar os consensos necessários às boas soluções democráticas.
Ao fim e ao cabo, o Brasil precisa de um novo modelo de gestão pública, pautado por eficiência, legalidade e meritocracia. Não podemos mais aceitar o improviso, a incoerência e a mentira. Não podemos mais tratar criminosos como heróis de uma causa perdida. Não podemos mais tolerar a corrupção como um modus operandi de uma política rasteira e distanciada da ética. Não podemos mais condenar nossas crianças à miséria da ignorância e da incultura. Não podemos mais abandonar nossos idosos na solidão de um sistema de saúde pública sucateado. Enfim, precisamos resgatar o amor próprio e o orgulho de sermos cidadãos do Brasil.
O peronismo brasileiro tem de acabar. Assim como no futebol, dá para vencer os hermanos de plantão. Basta entrar em campo, jogar com seriedade e deixar aflorar o talento que pulsa em nosso peito. Temos plenas e totais condições de vencer a partida contra a imoralidade política desbragada que aí está. A bola da vez é o voto. Votando bem, vamos levantar o caneco e festejar a vitória na rampa do Planalto.
Como disse um grande goleador e agudo poeta futebolístico, “não existe gol feio; feio é não fazer o gol”. Falando nisso, quantos gols você prefere fazer: 13 ou 45?
26 de outubro de 2014
Sebastião Ventura Pereira da Paixão Jr., Gazeta do Povo, PR
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