O Brasil ganhou ontem novo motivo para rever o mais cedo possível a condução da política econômica que minou a competitividade da indústria e vem reduzindo a participação dos produtos brasileiros no comércio mundial. Além disso, é urgente mudar a política externa desenvolvida nos últimos anos, para abrir espaço para negociações com países ou blocos que estão saindo da crise mundial iniciada em 2008/2009.
Com mais um preocupante deficit em transações correntes, de US$ 7,9 bilhões em setembro, o país passou a acumular em nove meses um resultado negativo nas contas externas de US$ 62,73 bilhões. É maior (4%) do que o acumulado em igual período de 2013 e empurra para US$ 83,55 bilhões o acumulado nos últimos 12 meses.
O resultado equivale a 3,7% do Produto Interno Bruto (PIB), o pior desde 2002 (12 anos), quando essa proporção foi de 3,9%. Além disso, antecipa a superação da previsão pessimista do Banco Central, que espera fechar 2014 com o deficit em US$ 80 bilhões, o pior entre os países emergentes.
Pouco adianta a autoridade monetária minimizar o problema, afirmando que o país tem conseguido financiar o deficit. De fato, o ingresso de investimentos estrangeiros diretos somou US$ 4,2 bilhões em setembro, acumulando US$ 46,1 bilhões este ano. Na verdade, já vivemos dias melhores, quando superavits permitiram a formação das reservas cambiais que o país tem hoje.
Mas o crescimento dessa necessidade de financiamento, em razão do fraco desempenho comercial e das pressões sobre a balança de serviços, é uma preocupação que não pode deixar de ser levada em conta. Uma das razões é que ninguém sabe ainda ao certo como será o mercado financeiro internacional no ano que vem, quando os Estados Unidos passarem a aumentar as taxas de juros, como está anunciado.
Soma-se a esse cenário de incerteza no mercado internacional o baixo crescimento da economia brasileira e a dificuldade do governo em fechar o balanço fiscal, tendo de recorrer a recursos conhecidos como "contabilidade criativa". São dados que podem levar o país a ter de pagar mais caro por empréstimos e financiamentos, como consequência de eventual rebaixamento na classificação da dívida soberana, e mesmo dos bancos e empresas nacionais, pelas agências internacionais de risco de crédito (rating).
É preciso recuperar a confiança do investidor privado na economia do país, para que os investimentos na modernização da indústria e na reciclagem de pessoal sejam retomados, em busca de aumento da produtividade. Ao mesmo tempo, é indispensável aumentar o investimento público em infraestrutura e educação, para atrair a parceria com o capital privado.
Relatório anual da Organização Mundial do Comércio (OMC), divulgado esta semana, revela que o Brasil, além de perder posições no comércio mundial, está se distanciando das cadeias globais de produção industrial. Considerando ser a formação dessas cadeias uma inexorável tendência mundial ditada pela globalização da economia, esse distanciamento acabará provocando um isolamento que vai prorrogar a nossa condição de exportador de produtos primários, de baixo valor agregado. Temos de deixar as velhas práticas do protecionismo e ir em busca da competitividade, ou ficaremos à margem do comércio mundial.
26 de outubro de 2014
Editorial Correio Braziliense
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