"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 26 de outubro de 2014

APAGÃO DE INFORMAÇÕES E USO DA MÁQUINA PÚBLICA




Apuradas as urnas, é possível que se constate que nestas eleições houve a mais escandalosa manipulação de recursos públicos a favor da candidatura oficial


Transcorria o governo Itamar Franco, o Plano Real havia começado a ser implementado, quando o ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, ao se preparar para conceder uma entrevista à Globo, não percebeu que os microfones estavam abertos e verbalizou o enunciado dos governos: “O que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde".

Era setembro de 94, FH estava em campanha para ganhar sua primeira eleição presidencial. Ricupero entregou o cargo a Itamar, mas suas palavras nunca deixaram de, volta e meia, ser confirmadas.

É o que acontece, duas décadas depois, nesta campanha das eleições de 2014, em que o governo do PT evita divulgar pesquisas, informações em geral de interesse da população, para proteger a presidente Dilma na campanha de reeleição.

Em mais uma prova de que todo o governo subiu ao palanque da presidente, o Ministério da Educação adiou a liberação da listagem do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) referente ao rendimento em Português e Matemática, em 2013. Em setembro, foram divulgados os índices para as redes pública e particular. O resultado nos anos finais do ensino fundamental e em todo o ciclo médio não foi bom, tendo ficado abaixo das metas. Deduz-se que as informações agora sonegadas confirmem este cenário pouco animador. Para não dar munição ao candidato da oposição, Aécio Neves, segurou-se o dado, como estabelece o enunciado de Ricupero.

Também foi postergado o relatório de setembro sobre a arrecadação tributária, campo em que o governo também não se sai bem, devido aos efeitos da atividade lenta na economia. A coleta fraca de impostos projeta ainda mais preocupações sobre as contas públicas, equilibradas apenas devido à aplicação de técnicas de “contabilidade criativa”. Pura fantasia.

O apagão eleitoreiro de informações também atinge o desmatamento da Amazônia. A ONG Imazon indica haver crescimento da destruição da floresta. Mas apenas em novembro o governo liberará o que aconteceu na Amazônia em agosto e setembro.

O flanco social da pobreza e miséria, muito explorado por Dilma e adversários, também tem sido bem protegido: a direção do Instituto de Pesquisa Ecônomica Aplicada (Ipea), subordinada à Secretaria de Assuntos Estratégicos, vetou a divulgação de análise de estatísticas sobre a miséria, feita com base na última Pnad. Por isso, um diretor, Herton Ellery Araújo, entregou o cargo, assim como o pesquisador Marcelo Medeiros. Nem na ditadura militar houve esse tipo de ingerência no instituto.

Apuradas as urnas amanhã, é possível que se constate que nestas eleições houve talvez o mais escandaloso uso da máquina e de recursos públicos a favor da candidatura oficial, pelos menos desde a redemocratização.

 
26 de outubro de 2014
Editorial O Globo

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