"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 26 de outubro de 2014

DIFERENÇAS EXTERNAS




Em entrevistas a esta Folha, assessores de Dilma e Aécio reafirmam divergências de PT e PSDB em relação à estratégia internacional


Embora tenha ocupado espaço secundário nos debates eleitorais, a política externa é fundamental para o desenvolvimento do Brasil, que precisa usar seu peso demográfico e econômico para defender de maneira pragmática seus interesses nas esferas internacionais.

Não há dúvida de que os presidentes Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) souberam impulsionar o país no cenário global.

Coincidiram em algumas linhas gerais, como a consolidação da liderança regional e a valorização do "soft power". Divergiram, contudo, em questões relevantes.

Ao nomear o petista Marco Aurélio Garcia como assessor palaciano para a área, Lula diminuiu o papel do Itamaraty e adotou abordagem mais ideológica, anti-EUA.

Tal inflexão, que serviu para recompensar setores da esquerda do PT, culminou em posicionamentos criticáveis --caso do apoio ao então presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad (2005-2013), um líder autocrático que fustigava os EUA e pregava a eliminação de Israel.

Por outro lado, a reorientação ajudou o Brasil a se tornar menos dependente dos EUA. O país, que em 2002 recebia 25,5% de nossas exportações, neste ano é o destino de 11,5% delas, enquanto a participação da China, nesse período, saltou de 4% para 20%.

A presidente Dilma Rousseff (PT), no início de seu mandato, parecia disposta a corrigir rumos. Essa impressão, porém, durou pouco.

A falta de apetite de Dilma para o tema parece ter contribuído para aumentar o desgaste do Itamaraty. Vieram dificuldades orçamentárias e uma inédita carta contra o congelamento da carreira, além de decisões reprováveis, como a suspensão do Paraguai do Mercosul, num agrado à Venezuela.

Em entrevistas a esta Folha, os responsáveis pela área externa das campanhas presidenciais de Dilma e Aécio Neves (PSDB) reafirmaram as conhecidas diferenças.

O tucano Rubens Barbosa, ex-embaixador em Washington, defendeu a recuperação do papel do Itamaraty, maior aproximação com os EUA e a Europa, além de mudanças para que o Mercosul não trave a celebração de acordos bilaterais.

O petista Garcia reiterou o propósito de "falar grosso" com os EUA e de privilegiar os pactos regionais.

Os dois candidatos sabem, de todo modo, que a estratégia externa precisa ter como meta reverter o declínio do saldo comercial, que despencou de um superavit de US$ 12,7 bilhões nos primeiros nove meses de 2010 para um deficit de US$ 690 milhões no mesmo período deste ano.

Sabem ainda que o Brasil tem perdido um espaço que conquistou. Suas exportações, da ordem de US$ 60 bilhões em 2002, chegaram a US$ 256 bilhões em 2011, mas diminuíram no governo Dilma. Enquanto isso, os manufaturados, que em 2002 representavam quase 55% das vendas no exterior, agora nem chegam a 35% delas.

O próximo mandato presidencial, como se vê, deverá ser de ajustes também na política externa.


26 de outubro de 2014
Editorial Folha de SP

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