Proibição é em respeito ao aniversário da morte de Kim Il-sung, o ditador que iniciou o regime, em 1948. Também é proibido falar alto, beber álcool e dançar
Ditador norte-coreano Kim Jong-un visita um centro de cultivo de cogumelos (KCNA/Reuters)
Embora seja feriado nesta terça-feira na Coreia do Norte, esboçar um sorriso ou falar alto em público são ações vetadas durante o 20º aniversário da morte de Kim Il-sung, o fundador do país e considerado um 'pai' por seus cidadãos. Isso mesmo, por mais surreal que possa soar, no dia 8 de julho, é proibido sorrir na Coreia do Norte.
Desde que 1994, quando os norte-coreanos perderam seu primeiro ditador, a cada 8 de julho “está proibido sorrir, levantar a voz na rua, beber álcool ou dançar porque todo o país está de luto”, contou uma refugiada norte-coreana e ativista, Park Yeon-min, de 21 anos.
A rede de televisão estatal norte-coreana dedica o dia a transmitir a solene – e chata – cerimônia oficial em homenagem ao 'presidente eterno', assim como filmes sobre sua vida e obra glorificadas com narração entre o mito e a ficção pela incessante máquina de propaganda do regime.
O culto à personalidade de Kim Il-sung chega até um ponto máximo a cada 8 de julho – e também 15 de abril, aniversário de seu nascimento –, quando o regime tenta minimizar os frequentes cortes de luz no país para que todos os norte-coreanos possam assistir à maratona televisiva de eventos e filmes sobre o ditador.
Se não bastasse todo esse ritual exaustivo duas vezes por ano, a Coreia do Norte ainda dedica ao falecido ditador mais de 34.000 estátuas em todo o país. Nos dois feriados, os cidadãos depositam flores aos pés das estátuas, enquanto seu corpo é exposto embalsamado dentro do Palácio de Kumsusan, em Pyongyang.
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Herdeiros impopulares – A maioria dos analistas políticos concorda que tanto seu filho, Kim Jong-il, que governou durante 17 anos até falecer, em 2011, como seu neto, o atual ditador Kim Jong-un, fracassaram em tentar herdar a admiração e o profundo respeito que os norte-coreanos professam ainda ao falecido fundador da República Popular Democrática de Coreia (RPDC) – nome oficial da Coreia do Norte.
No caso de Kim Jong-il, seu mandato esteve marcado pela fome e a crise econômica, embora a propaganda e a repressão lhe garantissem a fidelidade do povo, enquanto que Kim Jong-un é visto como inexperiente aos olhos dos norte-coreanos, segundo os analistas.
Jang Jin-sung, escritor norte-coreano refugiado em Seul que chegou a ser próximo da elite de Pyongyang, garante que o jovem ditador fracassou ao tentar imitar a imagem de seu avô, e o regime se viu obrigado a mudar sua estratégia propagandística.
“Kim Il-sung era como um pai que recebe o povo e o protege em seus braços enquanto seu neto não consegue transmitir essa mesma imagem”, disse o escritor e criador da ONG New Focus International, que investiga os segredos do complicado e opaco Estado comunista.
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O ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, acena de um barco durante inspeção de exercícios militares - Reuters/KCNA
O fervor que Kim Il-sung desperta na Coreia do Norte tem suas raízes na colonização japonesa de Coreia (1910 – 1945), período durante o qual, segundo a amplificação da propaganda, despontou como o herói do movimento de libertação contra o domínio japonês.
Após a II Guerra Mundial, Kim aproveitou habilmente o surgimento da Cortina de Ferro para fundar, com o apoio da União Soviética, a RPDC e se tornar mandatário máximo do país, em 1948. Pouco depois, ele ordenou a invasão à Coreia do Sul, o que deu origem à Guerra da Coreia (1950 –1953), um conflito que confirmou a divisão do povo coreano.
O chamado 'grande líder', que nunca renunciou a seu sonho de unir as duas metades da Coreia em um regime comunista sob seu comando, preparou nas décadas seguintes uma nova invasão ao sul que nunca aconteceu e ordenou vários ataques terroristas ao governo de Seul que custaram centenas de vidas. Kim Il-sung também inspirou a ideologia juche, o socialismo ortodoxo baseado na autossuficiência que prolongou o auge econômico nos anos 70, mas acabou arruinando o país nos anos 90 com uma crise de fome que matou um décimo da população e que provocou uma grave crise humanitária que dura até hoje.
(Com agência EFE)
08 de julho de 2014
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