Nosso governo acaba de escorregar numa imensa casca de banana. Talvez tenha sido o «politicamente correto» aplicado com exagerado rigor.
No entanto, pensando mais a fundo, pode-se até imaginar que tenha sido manobra de marketing para redirecionar holofotes. Quanto mais eles estiverem voltados para assuntos sem importância, menos risco haverá de focalizarem descalabros governamentais.
Falo das camisetas postas à venda por uma grande firma internacional de artigos esportivos, camisetas essas que o Planalto, num surto de pudicícia, considerou ofensivas.
O presente caso, como tantos outros, é daqueles que, quanto mais se mexe, mais fedem. Se nosso governo tivesse mantido seu sangue frio, as camisetas ― de estampa mais idiota que ofensiva ― teriam passado despercebidas.
No entanto, os peritos em comunicação que assessoram o governo viram lá uma excelente oportunidade para desviar, durante o tempo que for possível, o foco das atenções.
A fórmula é simples. Dá-se ao mundo conhecimento do assunto. O casto governo brasileiro e sua pudibunda presidente mostram-se escandalizados e profundamente ofendidos.
Em seguida, os comentários planetários vão-se dividir entre os que apoiam a indignação do Brasil e os que não lhe dão importância.
Enquanto se engalfinham os prós e os contras, o Planalto goza de uns dois ou três dias de alívio. Os problemas maiores continuam existindo, mas a vergonha da vez é atirada sobre terceiros. A pressão se arrefece.
O estratagema deu certo. Os jornais falados da rádio francesa de informação 24 horas por dia abriram o noticiário desta quinta-feira com a notícia da indignação de dona Dilma. Mencionaram até um vago ministério de defesa dos desprotegidos, algo assim. De dar dó no coração.
Essa manobra põe o Planalto na situação de vítima. Convenhamos, é sempre posição simpática. Melhor ser mártir que ser apontado como autoritário, repressor, intervencionista.
Só tem uma coisa: esqueceram de combinar com os russos. Adidas, a multinacional de origem alemã que fabrica as maliciosas camisetas, ganhou publicidade planetária sem desembolsar um centavo.
Os dirigentes da portentosa empresa bem que podiam usar o fruto dessa alavancada em suas vendas para mostrar agradecimento ao governo brasileiro.
Vaquinhas para prisioneiros e doações a partidos estão na moda. Custam pouco e podem trazer bom retorno.
26 de fevereiro de 2014
José Horta Manzano
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