"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

FORRÓ: A MAIOR DE TODAS AS LENDAS

 

Americanos em Natal: para todos, menos eles
Americanos em Natal: para todos, menos eles
 
Em matéria de lenda, esta é a clássica das clássicas, aquela à qual muita gente adora se agarrar mesmo depois que lhe demonstram de forma indiscutível sua falsidade – teimosia que para ser vencida exigiria, mais do que informação, algum tipo de psicanálise cultural.
Crendices desse tipo demoram a morrer, motivo pelo qual é recomendável voltar ao tema abordado na coluna há dois anos e meio, em resposta à consulta de uma leitora.

A consulta era em resumo a seguinte: será verdade que a brasileiríssima palavra forró veio do inglês for all, expressão usada pelos militares americanos lotados na base de Natal durante a Segunda Guerra para, num trabalho de relações públicas com os nativos, qualificar suas festas “abertas a todo mundo”?
 
Não, não é verdade. Forró é uma palavra que já se encontrava dicionarizada em 1913 (por Cândido de Figueiredo, clássico da lexicografia, segundo a datação do Houaiss). Ou seja, situar sua criação depois disso não faz sentido algum. Simples assim.
 
Como forma de amenizar a decepção dos devotos da origem anglófona, registre-se não ser impossível – embora também isso careça de fontes históricas – que os tais americanos festeiros tenham se intrigado com a palavra forró e bolado, aí sim, um trocadilho com for all, a fim de promover seus furdunços. Quem sabe? O certo é que o vocábulo forró não lhes deve nada.
 
Se não saiu de for all, de onde terá vindo o forró? Nenhum estudioso sério parecer ter dúvida de que se trata da forma reduzida, surgida no Brasil, de forrobodó (“festa popular” e, por extensão, “confusão, briga”).
 
Forrobodó é um termo existente também em Portugal e registrado em dicionário desde 1899 – pelo mesmo Cândido de Figueiredo, aliás. Nas artes nacionais foi imortalizado em 1911 como nome de uma opereta da compositora carioca Chiquinha Gonzaga.
 
A origem de forrobodó é controversa, e sobre ela não falta sequer a contribuição daquela turma fixada nos militares americanos: ignorando datas, propõem alguns o hilariante étimo for all but dogs (“para todos, menos cachorros”). O dicionário da Academia das Ciências de Lisboa fala em “formação expressiva”. O pesquisador Nei Lopes menciona, em seu “Dicionário Banto do Brasil”, a possibilidade de um “hibridismo banto-português”.
 
Aposto minhas fichas na tese exposta pelo gramático Evanildo Bechara: estamos diante de uma variação do vocábulo galego forbodó, ligado ao francês faux bourdon, “cantochão, canto monótono”.
 
26 de fevereiro de 2014
Veja.com

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