"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 10 de novembro de 2013

SE ROUBAR, FAÇA.

 

Obras sem projeto ou com projetos precários, caras, superfaturadas, com contratos aditados por uma, duas e sabe-se lá por quantas vezes. Boa parte delas atrasada, postergada, paralisada. Ano após ano, o governo joga nos bolsos de alguns poucos os bilhões de impostos dos muitos que trabalham e produzem riqueza, e que quase nada têm de volta. Algo de dar engulho, de alimentar a desesperança.

Mas a indignação da presidente Dilma Rousseff é o avesso disso. “Eu acho um absurdo parar obra no Brasil”, disse, ao comentar a recomendação do Tribunal de Contas da União (TCU) ao Congresso Nacional de suspender a remessa de recursos para sete obras, todas elas com vícios graves, em que a roubalheira corre solta.

Para Dilma, o que importa é concluir o que for possível antes das eleições de 2014. Até porque o máximo que ela conseguir entregar será muito menos do que o prometido no palanque de 2010.

Em tom de desafio, de quem faz mesmo o diabo, garantiu: “De qualquer jeito, essa obra vai ficar pronta. E nós vamos inaugurá-la”. Uma variante do clássico “rouba, mas faz”, tão popular na política brasileira.

Obras na BR-448

A presidente se referia à BR-448, extensão de 22,5 quilômetros entre Porto Alegre e Sapucaia do Sul, essencial para aliviar o tráfego saturado da BR-116 na região metropolitana da capital gaúcha. Em abril, a obra custaria R$ 530 milhões. Agora, já passa de R$ 1 bilhão. O TCU diz que R$ 91 milhões são originários de falcatruas. Mas Dilma afirma que vai inaugurar a obra assim mesmo.

As terras do sul esperam outra obra que já nasce atiçando pulgas por detrás das orelhas: a nova ponte sobre o Rio Guaíba, promessa de campanha, que teve seu edital publicado na quinta-feira, 7. Como não saiu do papel, a travessia ainda não é alvo do TCU. E, se não sofrer embargos, deve ficar pronta em 2020.

A estimativa em 2011 era de que a obra custaria em torno de R$ 400 milhões. Hoje, ultrapassa R$ 900 milhões. Isso para erguer uma ponte de menos de dois quilômetros. Mais de R$ 450 milhões por quilômetro, valor quase três vezes superior ao do quilômetro da maior ponte do mundo, de 42 quilômetros, construída entre Qingdao-Hiawann, na China.

Sobre as outras seis obras – esgoto em Pilar (AL), ferrovia Caetité-Barreiras (BA), Avenida Marginal Leste, Teresina (PI), Vila Olímpica de Parnaíba (PI), ponte sobre o Rio Araguaia (TO-PA) e ferrovia Norte-Sul –, Dilma não bateu de frente. Afinal, não tem chance de vê-las concluídas.

Podem apostar: a culpa por promessa não cumprida será do TCU, jamais de Dilma. Por sua vez, ela vai correr para acelerar o que der a qualquer custo. Não pode correr o risco de seu governo ser taxado como “rouba e não faz”.

10 de novembro de 2013
Mary Zaidan é jornalista.

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