Arrogante e picareta, Ideli Salvatti usa aeronave da Polícia Rodoviária, conveniada ao serviço de atendimento médico, para se deslocar em visitas ao estado onde é pré-candidata ao Senado
Cara de pau: Idelixo (de costas) embarca no helicóptero da PRF em Laguna, sul do Estado de Santa Catarina. A que ponto essa gente sem noção chegou!
O equipamento modelo Bell 407 (prefixo PT-YZJ), conveniado ao Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu), é equipado com uma maca, tubo de oxigênio e materiais de primeiros socorros. À disposição de Ideli, o helicóptero tem os equipamentos retirados e a escala de atendimento de urgência suspensa.
O Correio teve acesso a parte das ordens de missão para utilização do helicóptero e verificou que a ministra participou de eventos que não têm relação direta com a função de articulação política desenvolvida por ela. São entregas de casas, inauguração de obras, lançamento de projetos e até participação em formatura de bombeiros.
De olho nas urnas em 2014, a ordem é reforçar a imagem pública. A petista participou de 35 eventos em Santa Catarina nos últimos dois anos. Só neste ano, foram 18. “Aqui, todo mundo brinca dizendo que o governo federal vai retirar o logotipo do Samu da fuselagem do helicóptero e colocar um adesivo com o rosto da Ideli. Faz todo sentido”, diz um servidor da Polícia Rodoviária Federal de Santa Catarina.
No dia 25 de janeiro deste ano, uma sexta-feira, como de praxe, a maca foi retirada da aeronave porque a ministra precisava do Bell 407. Pela manhã, ela se deslocou no helicóptero até a cidade de Laguna, distante 130km de Florianópolis. Foi acompanhar a assinatura de uma ordem de serviço e verificar trabalhos de transposição do Túnel do Morro do Formigão.
De lá, voou até Timbé do Sul, onde participou do anúncio de publicação do edital de licitação de obras de pavimentação. Durante toda sexta-feira, dia em que os acidentes são mais frequentes devido ao aumento de fluxo nas rodovias, o Bell 407 ficou impedido de participar de operações de salvamento. Uma assessora acompanhava a ministra. Dois dias depois, o Governo do Estado de Santa Catarina enviou o helicóptero para auxiliar na remoção e transporte das vítimas que sobreviveram à tragédia da boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul.
No dia 25 de março deste ano, Ideli utilizou novamente a aeronave. Foi até o município de Mafra, a 300km da capital. Visitou obras na BR-280 e participou de reunião com prefeitos da região. Em 24 de agosto do ano passado, ao lado do então ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, a aeronave ficou à disposição das 9h até 18h.
No município de Blumenau, mais uma vez, Ideli participou do anúncio de lançamento de um edital para duplicação de rodovias. De lá, partiu para Jaraguá do Sul, onde se reuniu com empresários da região. Em outubro de 2012, Ideli viajou para o município de Tubarão, que fica a pouco mais de 100km de Santa Catarina.
Em 2009, a aeronave ficou parada por três meses. Em maio de 2012, o Departamento de Polícia Rodoviária Federal, em Brasília, determinou a transferência do equipamento de resgate para o Rio Grande do Sul. A mudança foi justificada alegando que a demanda gaúcha era maior do que a catarinense.
Na época, diante da importância do helicóptero, o superintendente da PRF no Estado, Paulo Roberto Coelho, conseguiu reaver a aeronave meses depois. “Lamentamos muito pois a PRF de SC estava realizando um trabalho muito bom na área de resgate aéreo”, explicou na época.
Outro lado
Por meio da assessoria de imprensa, a Secretaria de Relações Institucionais (SRI) informou que “o helicóptero da Polícia Rodoviária Federal utilizado em Santa Catarina é multifunção e, de acordo com o Decreto Presidencial 4.244/12, é utilizado para transporte de autoridades, policiamento e missões de resgate”.
Na resposta, a SRI comunica ainda que “a ministra chefe da Secretaria de Relações Institucionais fez uso desta aeronave sempre em agendas oficiais, amparada pelo decreto presidência já mencionado, de acordo com disponibilidade da aeronave e anuência da Polícia Rodoviária Federal”.
O Correio questionou por que alguns trajetos não eram realizados por via terrestre e se a ministra considerava um equívoco a utilização de uma aeronave que primordialmente é destinada ao resgate de vítimas, mas não obteve resposta.
A assessoria de comunicação da Polícia Rodoviária Federal em Santa Catarina comunicou que as autorizações para o deslocamento com autoridades são concedidas pela coordenação geral de operações em Brasília. Também confirmou que, quando há este tipo de transporte, a aeronave é desconfigurada, com a retirada da maca e demais materiais de auxílio a feridos.
Ao todo, foram 35 eventos que Ideli participou em Santa Catarina nos últimos dois anos.
Correio Braziliense online
A mesma aeronave, cumprindo sua real tarefa, transportanto ferido em acidente