Ciro Gomes não se emenda. Agora, acusa Campos-Marina de serem “zeros” e não terem propostas, e defende as propostas de Dilma. Alguém conhece alguma delas?
Com a conhecida truculência verbal, o ex-governador do Ceará e ex-ministro Ciro Gomes atacou com dureza a recém-formada aliança entre o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e a ex-ministra e ex-senadora Marina Silva, que obteve 20 milhões de votos nas eleições presidenciais de 2010 pelo PV.
“Eles (Marina e Campos) não têm proposta para o Brasil”, disse Ciro. “São dois zeros”, acrescentou, aparentemente esquecido de que foi colega de Ministério de Marina durante o governo Lula — oportunidade em que não expressou a mesma opinião — e de que, até há algumas semanas, integrava o partido de Campos, o PSB, no qual militou durante DEZ ANOS.
Só agora descobriu que seu ex-comandante é “um zero”?
E Ciro continuou:
– O Brasil precisa de reflexão. Propostas. O debate que está aí é alienado. Exceto a Dilma, quais outros têm propostas? O que a Marina entende de economia? Os candidatos não têm soluções. Não têm plano.
Pois bem, continuemos comentando o novo destampatório do ex-ministro.
Se Ciro pergunta o que Marina entende de economia, a ex-presidenciável poderia perfeitamente indagar o que Ciro, advogado que quase não advogou por haver ingressado muito jovem na política, entende de saúde, uma vez que se encontra desde o mês passado empoleirado na Secretaria da Saúde de seu irmão Cid, governador do Ceará.
O Brasil efetivamente precisa de “reflexão”, de “propostas” e de “soluções”, como diz Ciro.
Mas onde é que Ciro enxergou que a presidente Dilma é a única a ter propostas?
Quais são as propostas de Dilma? Alguém sabe? Será que pelo menos um de seus 40 ministros tem alguma ideia? Porque nós, os brasileiros, não sabemos de nada. Talvez venhamos a saber se a presidente dispõe de alguma proposta, de alguma reflexão e de alguma solução durante a campanha eleitoral — a ver.
A propósito, para um Brasil tão precisado de tudo isso, quais são, afinal de contas, as propostas do próprio Ciro — duas vezes candidato à Presidência da República?
Tem gente que não percebe a hora de ir embora para casa. Ciro, embora ainda jovem para a política, aos 56 anos já mostrou que não consegue contribuir para nada “neztepaiz”.
Foi um bom prefeito de Fortaleza (1989-1990), um eficiente governador do Ceará (1991-1994) e parou por aí. Convidado pelo Presidente Itamar Franco, tornou-se o ministro da Fazenda mais fugaz da história da República (118 dias), depois foi ministro e deputado sem que deixasse atrás de si qualquer realização digna de atenção.
Um dos maiores pula-pulas de partido do cenário político brasileiro, algo que certamente revela traços importantes de sua personalidade, começou no PDS, sucessor da Arena, o partido da ditadura, para depois transferir-se, sucessivamente, para o PMDB, o PSDB, o PPS, o PSB e, agora, esse espantoso saco de gatos denominado PROS.
Com sua verborragia incontrolável, jogou fora uma possível vitória na eleição presidencial de 2002, quando candidato pelo PPS: liderou as pesquisas de intenção de voto com folga durante largo período, para depois perder-se — e desabar nas pesquisas — em bate-bocas com ouvintes de rádio, discussões destemperadas com jornalistas e declarações grosseiras que não excluíram nem uma, infelicíssima, referente à sua própria mulher na época, a atriz Patrícia Pillar.
Com esse cartel, dispõe de um vasto telhado de vidro ao criticar adversários a torto e a direito.
08 de outubro de 2012
Ricardo Setti - Veja
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