Estudantes de licenciatura veem desvalorização da carreira, mas ainda acham que é possível promover mudanças
Os males do ensino público do Rio, que estão na origem da greve que se arrasta há mais de dois meses, aumentam a pressão sobre os futuros professores. Com a crise nas redes municipal e estadual, as reações de quem está terminando a licenciatura vão do ânimo injetado pelas manifestações à desilusão com as condições de trabalho e com a complexidade das tabelas salariais. No Dia do Mestre, nesta terça-feira, há muita incerteza sobre o futuro do magistério.
Viviane Magalhães Siqueira, que termina este ano o curso de letras na Uerj, não esconde o pessimismo. Tendo já participado de alguns projetos na rede pública estadual de São Gonçalo, ela não sabe o que fará.
— É claro que passa pela cabeça ir para o ensino público. No fundo, queremos chegar lá e fazer alguma diferença. Mas é complicado, com o que temos visto em relação à desvalorização dos professores — diz Viviane, que tem 34 anos e mora e estuda em São Gonçalo, onde a Uerj tem um campus.
Para ela, desvalorização é sinônimo de baixos salários (“há professores ganhando R$ 600”) e infraestrutura precária. Sobre a greve e as manifestações, Viviane diz que os professores “até demoraram para tomar uma atitude”:
— As salas são superlotadas, com 40, 50 alunos, sendo que 35 não querem assistir à sua aula e ficam conversando. Há ainda os que são violentos. O professor não tem muito amparo nem o que fazer.
Já Wamyr Junior, de 28 anos, mantém a fé no que chama de utopia da carreira e acredita em mudança após as manifestações. Morador do Complexo da Maré, ele está na reta final da licenciatura em história na PUC e planeja fazer concurso para as redes municipal e estadual.
— Eu vejo a possibilidade de transformar realidades sociais sendo professor. Hoje a educação é a única ferramenta que temos para mudar a sociedade — diz Wamyr, que em julho fez um discurso para o Papa Francisco no Theatro Municipal.
Oriundo da escola pública, ele participou de alguns protestos e diz sonhar com “uma educação pública de qualidade, mais participativa”. Viviane concorda com a necessidade de mudar:
— Falta um pouco de criatividade. Os professores têm muitas metas a cumprir, até impostas pelo próprio governo. Essa falta de liberdade desestimula. Nenhum professor tem a intenção de dar somente aula tipo cuspe e giz.
15 de outubro de 2013
LUDMILLA DE LIMA - O Globo
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