A expressão popular significando que alguém foi passado para trás adequa-se no momento ao ex-presidente. Isto porque, ele e seus mandarins petistas foram abalroados pela aliança entre Eduardo Campos (PSB-PE) e Marina Silva (sem partido).
Eufóricos, depois que Marina parecia fora do páreo por não ter conseguido as assinatura necessárias para a criação de seu novo partido, os petistas se refestelaram nas palavras do propagandista oficial, João Santana, segundo o qual: “Dilma vai ganhar no primeiro turno em 2014, porque ocorrerá uma antropofagia de anões”. “Eles vão se comer lá em baixo e ela, sobranceira, vai planar no Olimpo”.
Esta certeza olímpica do Goebbels lulista tinha razão de ser. Que anão poderia enfrentar um gigante presidente em busca de reeleição? Tal adversário já está no Olimpo na medida em que dispõe de tempo ilimitado na mídia, especialmente nas TVs; recursos financeiros astronômicos, contabilizados ou não; abundância de “bondades” a serem distribuídas fartamente por todo país; cargos às mãos-cheias usados como moeda de compra de partidos sequiosos por se darem bem; caridades oficiais para os pobres e lucros fabulosos para os ricos; aporte de estatais, ainda que isto as quebre; mobilidade infinita de viagens pagas pelo contribuinte. Tudo em nome da governabilidade e não como abuso de poder econômico e financeiro.
Contudo a vida, notadamente a vida política é dinâmica e dá voltas surpreendentes para descambar em resultados inusitados. E como no pântano escorregadio da politicagem a marca é o salve-se quem puder, ora se trai, ora se adere para alcançar o objetivo fundamental da politica: o poder. Não há escrúpulos nesse jogo e sempre foi assim em todas as épocas e em todas as sociedades.
Exemplo do que se comenta foi a constatação de Lourenço de Médici, o Magnífico, na primavera de 1485. Disse ele: “A afeição e a fidelidade de meus amigos não duram a partir do momento em que me afasto dezesseis quilômetros de Florença”.
Lula, o sabido, o mandachuva, dormiu de touca. Não podia imaginar que seus dois ex-ministros, gente de casa, iriam lhe dar uma rasteira. Aliás, coisa que o ex-presidente entende muito bem, pois é perito nesse golpe.
Entretanto, tudo ainda é uma incógnita. Muita água vai correr debaixo da ponte durante este ano que antecede as eleições. Definições e defecções acontecerão no jogo político que promete ser pesado, pois o PT usará todas suas táticas intimidadoras e suas teias de intrigas contra os “anões”.
Para Eduardo Campos a luta interna é igualmente difícil. Não se definiu ainda quem será o vice da chapa. Além do mais, Marina e seus seguidores teriam de abrir suas mentes. Deixar de lado a defesa do desenvolvimento sustentável fundamentalista que conduz ao empobrecimento sustentado, uma vez que o agronegócio é que salva o Brasil na balança comercial.
Isto não parece plausível porque o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), um dos representantes do agronegócio no Congresso e que chegou a ser cogitado para ministro da Agricultura numa eventual gestão do PSB, já foi vetado por Marina. Mau sinal. Talvez, ela prefira como método agrícola a coivara.
O mesmo destino pode acontecer com Jorge Bornhausen e Heráclito Fortes, antagonistas dos partidos da chamada esquerda, que paradoxalmente vive em conluio com o grande capital. Para complicar mais, Erundina, ex-petista no momento militando no PSB, não quer saber do apoio a Alckmin e propõe candidatura própria de seu partido, ou seja, dela mesma, em que pese ter perdido disputas para a prefeitura de São Paulo, em 2000 e 2004.
No páreo presidencial também está Aécio Neves (PSDB-MG), se Serra não atrapalhar. Infelizmente, os tucanos não souberam ou não quiseram ser oposição e sempre demonstraram grande encantamento por Lula da Silva. Recorde-se que FHC sustentou o pelego verborrágico no poder, impedindo seu impeachment e lhe deu todo suporte de governo que os petistas chamaram de herança maldita.
Em um ano ocorrem muitas mudanças, mas tudo indica que o embate será entre o gigante e os anões que, subindo um no ombro do outro crescerão em estatura. Em termos de conteúdo será mais do mesmo, ou seja, PT contra PT.
Na verdade nos falta um verdadeiro estadista que defendesse para valer o Estado Democrático de Direito, a livre concorrência, a atividade comercial com países desenvolvidos, que combatesse a corrupção e a excessiva burocracia. Esse líder cuidaria de fato e não através de marketing da Saúde e da Educação para os mais necessitados. A toda Nação garantiria Segurança, pois para isso foi criado um poder comum.
Este estadista de estilo liberal não existe no Brasil. Não se enquadra na mentalidade do atraso latino-americana. Aguardemos, então, 2014 e, como sempre, votemos no menos ruim, porque do totalmente ruim que está aí já é tempo de nos livrarmos.
15 de outubro de 2013
Maria Lucia Victor Barbosa é escritora e socióloga.
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