"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 11 de fevereiro de 2018

NA PINDAÍBA, COM JUROS BAIXOS

BC avisa que juros vão ficar onde na verdade estão desde o fim de 2017

CASO NÃO apareça ninguém com um bom argumento para o Banco Central baixar a taxa de juros para, digamos, 5%, a discussão de cortes adicionais é bizantina. Nesta quarta-feira (7), o BC reduziu a Selic para 6,75%, baixa histórica.

A taxa de juro real no mercado, no atacadão de dinheiro, no entanto, anda em torno de 2,9% ao ano desde novembro do ano passado (taxa "ex ante", DI para um ano, descontada a inflação esperada para 12 meses). O Banco Central calibrou um fim suave para o desaperto monetário.

Em caso de surpresa positiva na inflação, o BC pode até cortar mais 0,25 ponto percentual, como afirmou na nota em que divulgou a decisão sobre a Selic. Não deve fazer grande diferença, se alguma, se parar por aí.

A taxa real deve ficar em torno de 2,8% por boa parte do resto do ano. Logo, é preciso mudar a conversa sobre política econômica, se por mais não fosse.

Como nota histórica, observe-se que a última vez em que a taxa real de juros básica beirou os 2,8% foi em maio de 2013, quando o Fed, o banco central americano, indicava que dará fim à política de relaxamento monetário, o que causou algum tumulto financeiro naquele ano. O Junho de 2013 faria algum estrago adicional.

Entre abril de 2012 e maio de 2013, o juro real básico ficou abaixo de 2,8%, raspando 1,3% no início de 2013, o ano em tudo terminou e ainda não acabou, ao menos no que diz respeito à política. A fim de bater o recorde de juro real baixo de Dilma Rousseff, então um sucesso pela culatra, seria preciso baixar a Selic a uns 5,5%. Alguém se habilita a defender a tese?

Nem é preciso lembrar que, ao contrário de agora, o juro real baixou sob Dilma 1 quando havia pressão inflacionária, tabelamentos de preços e desleixo crescente com as contas públicas. Não iria prestar, como estava claro, e não prestou. Deu em besteira grossa.

De mais novo no comunicado do Banco Central lê-se agora que a recuperação econômica é "consistente". Esse uso equivocado da palavra "consistente" é decerto um clichê, cada vez mais desgastado e vazio, mas contrasta com o palavreado dos comunicados anteriores, que qualificavam a recuperação de "gradual". O BC está mais animado, pois. Também não deu muita trela para o paniquito corrente nos mercados financeiros mundiais.

Mais importante que um corte de um quarto de porcentagem será o destino do crédito e das taxas de juros bancárias. Parece que o degelo enfim começou, no trimestre final do ano passado, mas o desentupimento do canal de crédito ainda está entre o parcial e o incerto.

Do lado dos gastos do governo, parece que vai haver uma descompressão Mandrake, um gasto maior do que o previsível, dadas as projeções de receita e a meta de deficit, grosso modo dinheiro de "sobras" do ano passado. Pelo bem ou pelo mal, é algum impulso adicional.

Resumo da ópera, podemos ter um ano de bom alívio, se não houver tumulto financeiro maior lá fora ou a eleição de boçais extremos em outubro. Foi adiado para 2019 o encontro com os nossos problemas teratológicos: governo quebrado, incapaz de manter infraestrutura e gasto social básico, com dívida crescente.


11 de fevereiro de 2018
Vinicius Torres Freire, Folha de SP

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