Verdade, Eike pensa em se candidatar ao Senado. Veja o que ele diz sobre seus planos agora e como foram os dias na prisão
Numa conversa de duas horas e meia em seu escritório, no Flamengo, o ex-bilionário Eike Batista disse que estuda propostas para se candidatar ao Senado. Segundo ele, alguns partidos já o procuraram. “Não tenho nenhum impedimento judicial. Não fui sequer julgado em primeira instância”. Perguntei se não estava querendo foro privilegiado. “Não. Eu quero ajudar. Eu preciso me reinventar. Hoje, sou provavelmente a maior fake news do mundo. Ninguém sabe o que eu fiz pelo Brasil. Eu trouxe para o Brasil US$ 40 bilhões em investimentos. Eu vou ajudar a não deixar projetos desnecessários serem construídos.”
Calcula que perdeu US$ 34 bilhões e avisa que agora vai ser consultor. “Posso ganhar muito dinheiro com isso. Vai ser a Eike Batista Consulting. Como não tenho capital, eu posso entrar com suor e o cara me dá um pedaço do negócio. Sempre soube que eu poderia pintar novos quadros”. Em março, ele vai receber um grupo de 30 alunos de Stanford. Diz que eles querem saber o que ele pensa sobre Brasil, mundo e energia. “Estão vindo porque, na cultura dos americanos, fracasso é considerado um aprendizado. E hoje, modéstia à parte, eu sou um empresário melhor ainda”.
Diz que deu dinheiro para campanhas de Sérgio Cabral, mas que nunca recebeu contrapartida por isso. “Nem isenção fiscal ganhei”, jura Eike. “Sérgio Cabral era um pidão. Aquele acidente horroroso na Bahia interrompeu um lado disso. Por causa do acidente, avisei que nunca mais emprestaria meu avião para políticos. E nunca mais emprestei”. Agora nem adianta pedir, ele não tem mais jatinho. (Cabral viajou para a Bahia num avião de Eike; o acidente foi a queda de um helicóptero, com mortes, na sequência daquela viagem.)
Do BNDES pegou R$ 16 bilhões, foram R$ 3 bi para o Porto de Açu, outros R$ 3 bi para o Porto do Sudeste, e R$ 10 bilhões para a Termelétrica do Nordeste. Eike acha pouco, porque investira R$ 120 bilhões. “Todos os empréstimos tinham meu aval pessoal e seguro de bancos privados. E todos estão em pé, com donos fortes como os Moreira Salles, o Fundo Soberano de Abu Dhabi e um fundo gigante dos EUA”. Ele diz que estava enquadrado no padrão de financiamentos do banco. “Se fosse para comprar um frigorífico, estaria totalmente fora. Os meus eram projetos estruturantes”.
Os 90 dias de prisão foram “duros”. No começo houve uma romaria de funcionários do presídio passando em frente de sua cela. “Olhavam para dentro para se certificar que era eu mesmo. Me senti um tigre branco de bengala, um albino”. Depois que a porta se fechou e a curiosidade passou, a vida na cadeia começou a apresentar a conta.
Em Bangu, Eike ficou numa cela de 12 metros quadrados com duas outras pessoas. “Graças a Deus, um deles tinha TOC de limpeza. Toda hora passava álcool nas coisas”. O mais importante na cadeia, segundo ele, é manter a saúde. No dia em que o preso chega, ouve uma recomendação: “Faz de tudo para você não ir para a UPA, porque se você for para a UPA vai pegar tuberculose”. A incidência de tuberculose é alta nos presídios, e as pessoas com a doença são levadas para serem tratadas na UPA, que vira um foco. “Então, regra número um na cadeia, faça de tudo para não ficar doente. Higiene é fundamental”.
Medo de apanhar ele não teve. Diz que, por sorte, ficou na ala dos milicianos. “Eu sempre ajudei muito a polícia do Rio via UPPs. Dei R$ 80 milhões para a polícia pacificadora. Neste caso, parei no lugar certo e num ambiente adequado”. Afirma que não se desesperou porque recebia a visita diária de sua mulher Flávia. “Mas não havia visita íntima. Ela só podia ir todos os dias porque era advogada, e era como advogada que me visitava”.
O pior momento era o do boi. O famoso sanitário sem assento, apenas um buraco no chão, e sem porta, dentro do mesmo ambiente. “Ruim é o cheiro. Mas tem algumas técnicas. O chuveiro está logo em cima, então você pode deixar o chuveiro ligado e fazer as necessidades. Aí a água escorre com tudo muito rapidamente. Some logo e o cheiro some também. Você precisa estar no ângulo certo. Um dos que dividiam a cela comigo, um doleiro grandalhão, tinha dificuldades no boi por causa da sua estatura. Aí a gente ficava ensinando, vai mais pra frente, vai mais pro lado”.
Eike fazia exercícios na cadeia. “Na cela eu fazia muitas flexões. E com o apoio das grades, fazia agachamento para fortalecer as pernas. Na minha hora de pátio, ficava correndo. Só me deixavam ficar num pátio interno pequeno. E eu ficava dando voltas, como um hamster. Dava cem voltas cada vez”.
Você não fica deprimido? Tudo o que você montou hoje está nas mãos de outros? “Não. Eu vou fazer de novo. E eu já sei onde”.
Onde? “No lugar certo”.
Alguns dos executivos que trabalhavam para você estão mais ricos do que você... “Estão, mas não por muito tempo”.
Você faz terapia? “Não. Me considero autorresolvido”.
Robôs na campanha
No julgamento do recurso de Lula no TRF-4, 5,5% das manifestações de apoio ao ex-presidente nas redes sociais vieram de robôs e não de apoiadores de carne e osso. Entre as mensagens de críticas a Lula, 5,1% também foram originadas por máquinas e não por gente. Os dados são da Diretoria de Análise de Políticas Públicas (Dapp) da FGV e projetam uma campanha eleitoral repleta de armadilhas e perigos.
A falta que Côrtes fará
Sérgio Côrtes era considerado um dos presos mais ativos de Benfica. Prestava serviços médicos nas 24 horas do dia. Aquela visita noturna que fez ao Garotinho foi apenas uma de muitas. Seus amigos dizem que ele fazia mais de 20 atendimentos por dia, desde consultas clínicas até curativos de feridas por traumas ou cortes e pequenas cirurgias em abscessos e pés diabéticos. A grita em Benfica é unânime: Volta, Côrtes!
Aperto na família de Cabral
O filho mais velho de Sérgio Cabral, João Pedro, não paga há seis meses a taxa do condomínio do prédio em que mora no Jardim Botânico. Ele é filho de Susana Neves Cabral, primeira mulher do ex-governador. João Pedro mandou uma carta aos condôminos explicando que a situação dele e da família entrou em colapso desde a prisão do pai. Não se sabe como andam as contas de Adriana Ancelmo.
Boa notícia
Financiada exclusivamente com recursos privados, de pessoas físicas e empresas, a Pastoral do Menor do Rio atendeu e beneficiou 10.250 crianças e adolescentes em 2017. Os programas, que vão de cursos de capacitação até atendimento à saúde bucal dos jovens, são todos desenvolvidos em comunidades carentes do Rio. O programa que teve mais participantes no ano passado foi o de inclusão digital, com 3.250 beneficiários.
Cota para talento
Interessantes estes decretos que estabelecem cotas para projetos de filmes feitos por mulheres, negros e índios no pacote de financiamento do Ministério da Cultura. Afinal, é bom quando o dinheiro público ajuda a incluir. E quanto mais democrática sua distribuição, melhor. Tem que ver agora como garantir cota para talento, de modo que os filmes sejam vistos por serem bons. Mas, para burocrata, talento é apenas um detalhe.
Medo na Escola Parque
Além da mudança anunciada de uma de suas unidades na Gávea, a Escola Parque deu outras explicações aos pais de seus alunos sobre segurança. 1) Manterá contato permanente com o Bope para monitorar a segurança local; 2) Pede que pais não busquem seus filhos no momento de algum conflito, é pior; 3) Os confrontos na Rocinha ocorrem do outro lado do morro, sem acesso direto à escola; 4) Tiro reto não alcança a escola, só se for disparado para o alto, que aí não se sabe onde a bala pode cair.
De olho no televisor
O marqueteiro João Santana pediu retificação de nota publicada aqui de que estaria negociando a compra de uma TV na Bahia. Ele diz que, com seus bens bloqueados, não consegue comprar nem um televisor, imagine uma TV. Registrado.
11 de fevereiro de 2018
Ascânio Seleme, O Globo
Numa conversa de duas horas e meia em seu escritório, no Flamengo, o ex-bilionário Eike Batista disse que estuda propostas para se candidatar ao Senado. Segundo ele, alguns partidos já o procuraram. “Não tenho nenhum impedimento judicial. Não fui sequer julgado em primeira instância”. Perguntei se não estava querendo foro privilegiado. “Não. Eu quero ajudar. Eu preciso me reinventar. Hoje, sou provavelmente a maior fake news do mundo. Ninguém sabe o que eu fiz pelo Brasil. Eu trouxe para o Brasil US$ 40 bilhões em investimentos. Eu vou ajudar a não deixar projetos desnecessários serem construídos.”
Calcula que perdeu US$ 34 bilhões e avisa que agora vai ser consultor. “Posso ganhar muito dinheiro com isso. Vai ser a Eike Batista Consulting. Como não tenho capital, eu posso entrar com suor e o cara me dá um pedaço do negócio. Sempre soube que eu poderia pintar novos quadros”. Em março, ele vai receber um grupo de 30 alunos de Stanford. Diz que eles querem saber o que ele pensa sobre Brasil, mundo e energia. “Estão vindo porque, na cultura dos americanos, fracasso é considerado um aprendizado. E hoje, modéstia à parte, eu sou um empresário melhor ainda”.
Diz que deu dinheiro para campanhas de Sérgio Cabral, mas que nunca recebeu contrapartida por isso. “Nem isenção fiscal ganhei”, jura Eike. “Sérgio Cabral era um pidão. Aquele acidente horroroso na Bahia interrompeu um lado disso. Por causa do acidente, avisei que nunca mais emprestaria meu avião para políticos. E nunca mais emprestei”. Agora nem adianta pedir, ele não tem mais jatinho. (Cabral viajou para a Bahia num avião de Eike; o acidente foi a queda de um helicóptero, com mortes, na sequência daquela viagem.)
Do BNDES pegou R$ 16 bilhões, foram R$ 3 bi para o Porto de Açu, outros R$ 3 bi para o Porto do Sudeste, e R$ 10 bilhões para a Termelétrica do Nordeste. Eike acha pouco, porque investira R$ 120 bilhões. “Todos os empréstimos tinham meu aval pessoal e seguro de bancos privados. E todos estão em pé, com donos fortes como os Moreira Salles, o Fundo Soberano de Abu Dhabi e um fundo gigante dos EUA”. Ele diz que estava enquadrado no padrão de financiamentos do banco. “Se fosse para comprar um frigorífico, estaria totalmente fora. Os meus eram projetos estruturantes”.
Os 90 dias de prisão foram “duros”. No começo houve uma romaria de funcionários do presídio passando em frente de sua cela. “Olhavam para dentro para se certificar que era eu mesmo. Me senti um tigre branco de bengala, um albino”. Depois que a porta se fechou e a curiosidade passou, a vida na cadeia começou a apresentar a conta.
Em Bangu, Eike ficou numa cela de 12 metros quadrados com duas outras pessoas. “Graças a Deus, um deles tinha TOC de limpeza. Toda hora passava álcool nas coisas”. O mais importante na cadeia, segundo ele, é manter a saúde. No dia em que o preso chega, ouve uma recomendação: “Faz de tudo para você não ir para a UPA, porque se você for para a UPA vai pegar tuberculose”. A incidência de tuberculose é alta nos presídios, e as pessoas com a doença são levadas para serem tratadas na UPA, que vira um foco. “Então, regra número um na cadeia, faça de tudo para não ficar doente. Higiene é fundamental”.
Medo de apanhar ele não teve. Diz que, por sorte, ficou na ala dos milicianos. “Eu sempre ajudei muito a polícia do Rio via UPPs. Dei R$ 80 milhões para a polícia pacificadora. Neste caso, parei no lugar certo e num ambiente adequado”. Afirma que não se desesperou porque recebia a visita diária de sua mulher Flávia. “Mas não havia visita íntima. Ela só podia ir todos os dias porque era advogada, e era como advogada que me visitava”.
O pior momento era o do boi. O famoso sanitário sem assento, apenas um buraco no chão, e sem porta, dentro do mesmo ambiente. “Ruim é o cheiro. Mas tem algumas técnicas. O chuveiro está logo em cima, então você pode deixar o chuveiro ligado e fazer as necessidades. Aí a água escorre com tudo muito rapidamente. Some logo e o cheiro some também. Você precisa estar no ângulo certo. Um dos que dividiam a cela comigo, um doleiro grandalhão, tinha dificuldades no boi por causa da sua estatura. Aí a gente ficava ensinando, vai mais pra frente, vai mais pro lado”.
Eike fazia exercícios na cadeia. “Na cela eu fazia muitas flexões. E com o apoio das grades, fazia agachamento para fortalecer as pernas. Na minha hora de pátio, ficava correndo. Só me deixavam ficar num pátio interno pequeno. E eu ficava dando voltas, como um hamster. Dava cem voltas cada vez”.
Você não fica deprimido? Tudo o que você montou hoje está nas mãos de outros? “Não. Eu vou fazer de novo. E eu já sei onde”.
Onde? “No lugar certo”.
Alguns dos executivos que trabalhavam para você estão mais ricos do que você... “Estão, mas não por muito tempo”.
Você faz terapia? “Não. Me considero autorresolvido”.
Robôs na campanha
No julgamento do recurso de Lula no TRF-4, 5,5% das manifestações de apoio ao ex-presidente nas redes sociais vieram de robôs e não de apoiadores de carne e osso. Entre as mensagens de críticas a Lula, 5,1% também foram originadas por máquinas e não por gente. Os dados são da Diretoria de Análise de Políticas Públicas (Dapp) da FGV e projetam uma campanha eleitoral repleta de armadilhas e perigos.
A falta que Côrtes fará
Sérgio Côrtes era considerado um dos presos mais ativos de Benfica. Prestava serviços médicos nas 24 horas do dia. Aquela visita noturna que fez ao Garotinho foi apenas uma de muitas. Seus amigos dizem que ele fazia mais de 20 atendimentos por dia, desde consultas clínicas até curativos de feridas por traumas ou cortes e pequenas cirurgias em abscessos e pés diabéticos. A grita em Benfica é unânime: Volta, Côrtes!
Aperto na família de Cabral
O filho mais velho de Sérgio Cabral, João Pedro, não paga há seis meses a taxa do condomínio do prédio em que mora no Jardim Botânico. Ele é filho de Susana Neves Cabral, primeira mulher do ex-governador. João Pedro mandou uma carta aos condôminos explicando que a situação dele e da família entrou em colapso desde a prisão do pai. Não se sabe como andam as contas de Adriana Ancelmo.
Boa notícia
Financiada exclusivamente com recursos privados, de pessoas físicas e empresas, a Pastoral do Menor do Rio atendeu e beneficiou 10.250 crianças e adolescentes em 2017. Os programas, que vão de cursos de capacitação até atendimento à saúde bucal dos jovens, são todos desenvolvidos em comunidades carentes do Rio. O programa que teve mais participantes no ano passado foi o de inclusão digital, com 3.250 beneficiários.
Cota para talento
Interessantes estes decretos que estabelecem cotas para projetos de filmes feitos por mulheres, negros e índios no pacote de financiamento do Ministério da Cultura. Afinal, é bom quando o dinheiro público ajuda a incluir. E quanto mais democrática sua distribuição, melhor. Tem que ver agora como garantir cota para talento, de modo que os filmes sejam vistos por serem bons. Mas, para burocrata, talento é apenas um detalhe.
Medo na Escola Parque
Além da mudança anunciada de uma de suas unidades na Gávea, a Escola Parque deu outras explicações aos pais de seus alunos sobre segurança. 1) Manterá contato permanente com o Bope para monitorar a segurança local; 2) Pede que pais não busquem seus filhos no momento de algum conflito, é pior; 3) Os confrontos na Rocinha ocorrem do outro lado do morro, sem acesso direto à escola; 4) Tiro reto não alcança a escola, só se for disparado para o alto, que aí não se sabe onde a bala pode cair.
De olho no televisor
O marqueteiro João Santana pediu retificação de nota publicada aqui de que estaria negociando a compra de uma TV na Bahia. Ele diz que, com seus bens bloqueados, não consegue comprar nem um televisor, imagine uma TV. Registrado.
11 de fevereiro de 2018
Ascânio Seleme, O Globo
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