"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 11 de fevereiro de 2018

TENDÊNCIA DE "ARQUIVAMENTO" DE INQUÉRITO POR SEGÓVIA FOI UM TIRO PELA CULATRA


Entrevista foi um recado ao delegado Cleyber Malta
As declarações feitas pelo diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, na última sexta-feira, dia 9, em entrevista à agência de notícias Reuters, sobre a possível recomendação pelo arquivamento do inquérito dos portos contra Temer por falta de provas, desencadeou uma enorme crise dentro da corporação e acabou com o aparente sossego do feriado carnavalesco do presidente na Restinga de Marambaia, no Rio de Janeiro.
INTIMAÇÃO – Após a desastrosa repercussão, delegados do grupo de inquéritos da Lava Jato reagiram imediatamente, uma vez que ninguém da corporação havia sido consultado ou apoiado a insana manifestação de Segovia. Além disso, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso o intimou a explicar as declarações que ameaçaram o delegado responsável pelo caso, “que deve ter autonomia para desenvolver o seu trabalho com isenção e livre de pressões”.
Segóvia logo tentou consertar o que já estava quebrado. Enviou mensagem para colegas do Sindicato de Delegados da PF do Distrito Federal, negou o tom das declarações, a interferência nas investigações e se desculpou admitindo apenas que deu uma “opinião pessoal” e teve uma “conclusão apressada” sobre o inquérito no qual afirmou não existirem indícios de que a Rodrimar tenha sido beneficiada pelo decreto de Temer.
Não é a primeira vez que Segóvia explicita seu papel de frágil defensor de Temer. No fim do ano passado, questionou o ritmo da investigação conduzida pela Procuradoria Geral da República contra o emedebista, declarando que “uma única mala talvez não desse toda a materialidade para apontar se houve ou não crime, e quais os partícipes“, ao se referir ao episódio do “deputado da mala”, em que Rocha Loures foi flagrado recebendo R$ 500 mil que seriam de propina da JBS. E o diretor da PF acrescentou que os resultados da investigação seriam um “ponto de interrogação” no imaginário dos brasileiros.
INDICAÇÃO POLÍTICA – A escolha de Segóvia para a Diretoria da PF foi ancorada pela articulação dos ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco, do ex-presidente José Sarney e do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Augusto Nardes, com o rubrica final de Temer, mesmo sem ser o nome preferido pelo ministro da Justiça, Torquato Jardim, a quem a Polícia Federal está subordinada. 
Pouco antes de sua posse, Fernando Segovia já registrava visitas ao presidente, mesmo fora da agenda oficial. Após assumir o cargo, continuou a encontrá-lo, inclusive na semana em que Temer entregaria as 50 respostas à Polícia Federal sobre o inquérito dos portos. Tanto o Planalto, quanto Segóvia negaram que o assunto do encontro tenha sido esse, mas quem acredita?
PEDRA NO SAPATO – Assim que Segóvia assumiu a PF, o foco em Cleyber Malta Lopes, que conduz o inquérito em que Temer é investigado, aumentou. O delegado sempre foi uma das pedras no sapato presidencial e já era desafeto antigo de Segóvia, desde a época em que presidiu um inquérito envolvendo a família Sarney, quando o atual diretor da PF era superintendente no Maranhão.
Não foi por acaso que Cleyber Malta teve o nome citado na entrevista dada à Reuters, na qual Segóvia destacou que uma investigação interna poderia ser aberta para apurar a conduta do delegado pelos questionamentos enviados a Temer no caso. O discurso inclinado, além de ameaçador, deixa clara a relação próxima e dependente entre Segóvia e Michel Temer.
PELA CULATRA – A declaração de Segóvia que provocou essa hecatombe política acabou por se tornar um tiro no pé, dele próprio e, por consequência, do já tão impopular Temer. Com a atrapalhada entrevista, intencionava-se mandar um “sutil” recado público e direto para Cleyber Malta, na tentativa de contê-lo e, em seguida, extirpá-lo das preocupações presidenciais, provocando sua saída das investigações. A ingênua estratégia, entretanto, não durou. Provocou descontentamentos dentro da corporação e questionamentos do Ministério Público e do Supremo.
As previsões de Segóvia sobre um inquérito em curso, conduzido por outra pessoa, suas garantias e perigosas ligações agora exigirão mudanças nos próximos passos do governo para contornar a questão dos portos que foi reaquecida.  
Se a intenção de Segóvia era matar no peito o inquérito da Rodrimar, agora terá que amargar o gol contra marcado. E Temer, que já não sabe mais o que fazer para evitar tantos desgastes, continuará na mira das investigações, buscando desesperadamente uma solução para manter o foro privilegiado e ficar a salvo da Justiça.

11 de fevereiro de 2018
Marcelo Copelli

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