As declarações feitas pelo diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, na última sexta-feira, dia 9, em entrevista à agência de notícias Reuters, sobre a possível recomendação pelo arquivamento do inquérito dos portos contra Temer por falta de provas, desencadeou uma enorme crise dentro da corporação e acabou com o aparente sossego do feriado carnavalesco do presidente na Restinga de Marambaia, no Rio de Janeiro.
INTIMAÇÃO – Após a desastrosa repercussão, delegados do grupo de inquéritos da Lava Jato reagiram imediatamente, uma vez que ninguém da corporação havia sido consultado ou apoiado a insana manifestação de Segovia. Além disso, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso o intimou a explicar as declarações que ameaçaram o delegado responsável pelo caso, “que deve ter autonomia para desenvolver o seu trabalho com isenção e livre de pressões”.
Segóvia logo tentou consertar o que já estava quebrado. Enviou mensagem para colegas do Sindicato de Delegados da PF do Distrito Federal, negou o tom das declarações, a interferência nas investigações e se desculpou admitindo apenas que deu uma “opinião pessoal” e teve uma “conclusão apressada” sobre o inquérito no qual afirmou não existirem indícios de que a Rodrimar tenha sido beneficiada pelo decreto de Temer.
Não é a primeira vez que Segóvia explicita seu papel de frágil defensor de Temer. No fim do ano passado, questionou o ritmo da investigação conduzida pela Procuradoria Geral da República contra o emedebista, declarando que “uma única mala talvez não desse toda a materialidade para apontar se houve ou não crime, e quais os partícipes“, ao se referir ao episódio do “deputado da mala”, em que Rocha Loures foi flagrado recebendo R$ 500 mil que seriam de propina da JBS. E o diretor da PF acrescentou que os resultados da investigação seriam um “ponto de interrogação” no imaginário dos brasileiros.
INDICAÇÃO POLÍTICA – A escolha de Segóvia para a Diretoria da PF foi ancorada pela articulação dos ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco, do ex-presidente José Sarney e do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Augusto Nardes, com o rubrica final de Temer, mesmo sem ser o nome preferido pelo ministro da Justiça, Torquato Jardim, a quem a Polícia Federal está subordinada.
Pouco antes de sua posse, Fernando Segovia já registrava visitas ao presidente, mesmo fora da agenda oficial. Após assumir o cargo, continuou a encontrá-lo, inclusive na semana em que Temer entregaria as 50 respostas à Polícia Federal sobre o inquérito dos portos. Tanto o Planalto, quanto Segóvia negaram que o assunto do encontro tenha sido esse, mas quem acredita?
PEDRA NO SAPATO – Assim que Segóvia assumiu a PF, o foco em Cleyber Malta Lopes, que conduz o inquérito em que Temer é investigado, aumentou. O delegado sempre foi uma das pedras no sapato presidencial e já era desafeto antigo de Segóvia, desde a época em que presidiu um inquérito envolvendo a família Sarney, quando o atual diretor da PF era superintendente no Maranhão.
Não foi por acaso que Cleyber Malta teve o nome citado na entrevista dada à Reuters, na qual Segóvia destacou que uma investigação interna poderia ser aberta para apurar a conduta do delegado pelos questionamentos enviados a Temer no caso. O discurso inclinado, além de ameaçador, deixa clara a relação próxima e dependente entre Segóvia e Michel Temer.
PELA CULATRA – A declaração de Segóvia que provocou essa hecatombe política acabou por se tornar um tiro no pé, dele próprio e, por consequência, do já tão impopular Temer. Com a atrapalhada entrevista, intencionava-se mandar um “sutil” recado público e direto para Cleyber Malta, na tentativa de contê-lo e, em seguida, extirpá-lo das preocupações presidenciais, provocando sua saída das investigações. A ingênua estratégia, entretanto, não durou. Provocou descontentamentos dentro da corporação e questionamentos do Ministério Público e do Supremo.
As previsões de Segóvia sobre um inquérito em curso, conduzido por outra pessoa, suas garantias e perigosas ligações agora exigirão mudanças nos próximos passos do governo para contornar a questão dos portos que foi reaquecida.
Se a intenção de Segóvia era matar no peito o inquérito da Rodrimar, agora terá que amargar o gol contra marcado. E Temer, que já não sabe mais o que fazer para evitar tantos desgastes, continuará na mira das investigações, buscando desesperadamente uma solução para manter o foro privilegiado e ficar a salvo da Justiça.
11 de fevereiro de 2018
Marcelo Copelli
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