"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 12 de maio de 2017

POBRE MARISA LETÍCIA

Foi tudo obra dela, segundo Lula. Foi ela que quis comprar o triplex
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua mulher, Marisa Letícia (Ricardo Stuckert/Instituto Lula/VEJA)


Para livrar-se do escândalo do mensalão em 2005, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entregou a cabeça do ex-ministro José Dirceu, o coordenador de sua campanha vitoriosa à Presidência da República.

Para livrar-se do escândalo dos aloprados, quando assessores seus forjaram, em 2006, documentos contra o PSDB, ele entregou as cabeças que pôde, inclusive a do coordenador de sua campanha à reeleição, Ricardo Berzoini.

Pouco antes, havia entregado a cabeça do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci quando restou provado que a máquina do seu governo fora usada para quebrar o sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa.

Nada demais, pois, que Lula tenha se valido de sua mulher, Marisa Letícia, para livrar-se da acusação de que ganhara o triplex do Guarujá como uma espécie de propina paga pela construtora OAS. Maria Letícia está morta.

Foi tudo obra dela, segundo Lula. Foi ela que quis comprar o triplex — ele, não. Quando visitou o apartamento, enxergou nele mais de 500 defeitos. Mesmo assim, ela insistiu em comprar para fazer investimento, ele não.

Marisa visitou o apartamento pelo menos duas vezes, lembrou o juiz Sérgio Moro. Lula retrucou que nunca soube da segunda visita. Admitiu tê-la acompanhado na primeira, da qual há registro fotográfico.

Moro perguntou sobre a reforma do apartamento, que ganhou cozinha moderna, um elevador e outras melhorias feitas pela OAS. Lula afirmou que não encomendou nenhuma reforma. Foi coisa de Marisa, portanto.

Diante da insistência do juiz em arrancar-lhe respostas mais precisas e detalhadas, Lula novamente invocou Marisa: “Perguntar coisa para mim de uma pessoa que já morreu é muito difícil, sabe? É muito difícil”.

O Lula eloquente, imbatível quando desafiado, dono de um estoque inesgotável de frases prontas, deu lugar a um Lula reticente, quase monossilábico em certos momentos, que tentava disfarçar o nervosismo.

Cobrou provas da acusação que pesa contra ele no processo. Mas, quando uma delas foi apresentada, desconversou. Moro perguntou sobre um documento rasurado de compra do triplex encontrado no seu apartamento.

Lula respondeu: “Não sei, quem rasurou? Eu também gostaria de saber”. E sobre o documento em si? Lula respondeu: “Não sei, nunca soube”. Consultou rapidamente o documento e o devolveu ao juiz.

A OAS pagou o armazenamento dos pertences de Lula depois que ele deixou o poder. Foi coisa de Paulo Okamoto, presidente do Instituto Lula, garantiu o ex-presidente. Ele só soube disso muito mais tarde.

Moro não perguntou por que Lula aceitou que a construtora pagasse uma despesa que somente a ele, Lula, caberia pagar. Foi um favor? Foi propina? Foi uma maneira de agradecer pelos contratos que firmou com o governo?

Um interrogatório como o de ontem serve como peça de defesa do réu. Mas serve também ao juiz para ajudá-lo a formar sua própria convicção a respeito da inocência ou da culpa do réu. Como peça de defesa, foi pífio

12 de maio de 2017
Ricardo Noblat, VEJA

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