As quatro horas e trinta minutos, tempo que durou o questionamento de Lula pelo juiz Sérgio Moro transformaram-se numa divertida farsa, que não pode ser levada a sério, mas pode ter se tornado suficiente para livrá-lo de uma condenação, pelo menos no que se refere ao triplex do Guarujá. O ex-presidente da República negou as evidências que se encontram no processo, transferindo os entendimentos com a OAS a senhora Marisa Letícia, recentemente falecida. Isso de um lado.
De outro lado, em toda relação de documentos sobre o imóvel não existe um sequer com sua assinatura. Da mesma forma, uma das acusações de maior peso contra si foi desfechada pelo ex-diretor da Petrobrás, Renato Duque, que foi aceito no programa de delação premiada. Renato Duque afirma que Lula o chamou advertindo-o que se tivesse alguma conta bancária no exterior agisse como se dela não fosse o titular. Afirmação grave. Porém dela não existem provas concretas.
SEM ACAREAÇÃO – Dificilmente o juiz Sérgio Moro irá convocar uma acareação entre alguém que ele já condenou e um ex-presidente da República até agora foco de uma série de fatos, mas nenhum deles trazendo consigo conteúdo concreto.
Luiz Inácio Lula da Silva defendeu-se ao longo de uma série de negativas, como se não fosse ele o responsável pelas falhas que lhe foram apontadas. Partiu para a negativa como é de seu hábito e transformou seu depoimento numa divertida comédia do antigo cinema francês, a exemplo da grandes manobras de René Claire.
Baseou-se – incrível isso – numa nuvem de “non sense”, criando clima exigido para formular negativas em série à base de um tom coloquial. Conseguiu o que queria, inclusive uma atmosfera de simpatia por parte da opinião pública.
CANDIDATURA – Era isso exatamente o que desejava para alimentar sua pré-candidatura à sucessão presidencial de 2018. Com o depoimento, iniciou a campanha eleitoral. Basta não ser condenado para se lançar novamente ao plano alto do Planalto. Os acusadores ficarão com seu acento reservado na planície das opiniões.
Lula, analisando-se bem seu vulto, deve ter um lugar de destaque na história do país. Vejam só os leitores: ele praticamente disputou por 7 vezes a presidência da República. Perdeu para Collor e duas vezes para Fernando Henrique Cardoso. Mas derrotou Serra em 2002, Geraldo Alckmin em 2006, elegeu Dilma Rousseff em 2010 novamente contra Serra e em 2014 contra Aécio Neves.
TIROU BRIZOLA – Por um ponto de diferença, em 1989, desclassificou Leonel Brizola para o desfecho final contra Fernando Collor. Brizola nunca se recuperou desta derrota. Teve 15% dos votos e na eleição seguinte, em 94 desceu para o universo de apenas 3 pontos. O rastro político de Lula, como se vê, é bastante amplo e historicamente merece destaque. Tanto é assim que para 2018 ei-lo novamente entre os nomes prováveis.
Seu nome repercute nas classes de renda menor, mas nem por isso é totalmente rejeitado pelas classes média e rica. Aliás, diga-se de passagem, não há porque ser rejeitado pelos ricos, uma vez que em Brasília tornou-se o centro das atenções das grandes empreiteiras. Deixou de assustar e sua rejeição atual parte muito mais dos assalariados do que dos capitalistas. A divisão entre assalariado e capitalistas é apenas de caráter ideológico, pois é verdade que os assalariados não desejam o comunismo e tampouco o socialismo como forma de governo.
TIGRE DE PAPEL – Assim, sob o ângulo de Lula, o capitalismo é um tigre de papel. Vale falar contra ele, porém não desejar estabelecimento de seu oposto como forma de governo.
Aliás, Lula, entre suas qualidades pode se destacar sua visão realista da política e dos políticos. Entre seus defeitos, ressalte-se o personagem que ele criou para si próprio e de uma forte dose de fatalismo que marca sua incapacidade de escolher vários setores de sua equipe, como ficou nítido no caso do enorme escândalo que envolveu a Petrobrás. Basta ver as pessoas que ele nomeou e em que situação hoje se encontram. Segundo ele próprio, nada tem a ver com os desastres que provoca. Lula nunca tem nada com isso. Parece habitar um reino como o do Mágico de Oz. Está sempre inocente, os culpados são os outros, quando o culpado maior é ele próprio.
12 de maio de 2017
Pedro do Coutto
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