"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

POLÍTICA: REPRESENTAÇÃO SOCIAL E CENTRO DECISÓRIO

Vivemos um evidente esgotamento do atual modelo de organização do sistema político brasileiro. Isso não é um fenômeno novo. 
Quando éramos do Conselho de Administração dos Correios, no final da década de 90, anualmente tínhamos acesso à pesquisa nacional que media a credibilidade das instituições brasileiras. 
Era uma lista de 40 instituições. Em primeiro lugar, disparados na frente, vinham os próprios Correios (na era pré-mensalão) e o Corpo de Bombeiros. Logo após, as igrejas, o Poder Judiciário, a imprensa etc. Nos dois últimos lugares, sempre, Congresso Nacional e partidos políticos.

Esse distanciamento crescente entre a sociedade e sua representação política não é também característica peculiar brasileira. Em todo o mundo, a democracia moderna, em seu formato clássico, encontra dificuldades de canalizar as expectativas dos mais variados segmentos sociais e de vocalizar a diversidade presente no tecido social contemporâneo.

Mas, em nosso caso, o problema ganha contornos dramáticos. Há muito o Brasil precisa acelerar suas reformas e se alinhar ao mundo contemporâneo. 
Construímos ao longo dos anos um verdadeiro imbróglio fiscal. Não reformamos a Previdência. 
Não flexibilizamos o mercado de trabalho diante de uma economia dinâmica. Cristalizamos um sistema tributário anacrônico, irracional e injusto. 
Descuidamos do que era essencial: a revolução educacional e o desenvolvimento tecnológico. Começamos a comer poeira de países como Coreia do Sul, Taiwan, Singapura e China. 
Até na América Latina assistimos a Chile, Peru e Colômbia modernizarem antes suas instituições.

O Brasil tem pressa. E as respostas só poderão emergir de nosso problemático sistema político: caro, distante da população, pulverizado partidariamente, inconsistente ideologicamente e acuado pela Lava Jato. 
É preciso superar os traumas do impeachment e as fragilidades do governo, aparar arestas, apaziguar os espíritos e tomar as decisões inadiáveis para que o Brasil não perca definitivamente o “bonde da história”.

No recesso, diante de realidade tão conturbada, fui a São João del Rei buscar inspiração no velho mestre Tancredo, visitando seu memorial e seu túmulo. Na crise de 1963, ele disse: 
“Que os ódios se retraiam, que as ambições se refreiem, para que possamos ter a mente tranquila e o pensamento limpo para buscar aquelas soluções que dizem respeito aos fundamentais interesses da pátria”. “Pátria”, esta palavra tão esquecida em nossos tempos. Em 1985, já eleito presidente, afirmou: “Venho em nome da conciliação. Não podemos, neste fim de século e de milênio, quando, crescendo em seu poder, o homem cresce em suas ambições e em suas angústias, permanecer divididos dentro de nossas fronteiras”.

Que o espírito de Minas, tão bem encarnado por Tancredo e também tão ausente hoje em dia, pavimente nossa capacidade de negociar e criar consensos em torno da agenda de retomada do desenvolvimento.


16de janeiro de 2017
Marcus Pestana é deputado federal pelo PSDB-MG.

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