O Ibope aplicou uma bateria de perguntas sobre as expectativas em relação aos novos prefeitos e vereadores, sobre os motivos do voto, se o eleitor elegeu ou não seu candidato – entre outras questões. Usando técnicas estatísticas, agrupou as pessoas com respostas semelhantes e, assim, dividiu-as em três agrupamentos.
Como era de se esperar, a grande maioria dos otimistas conseguiu eleger seu candidato a prefeito. Mas nem todos os pessimistas perderam a eleição. Nem todo mundo que está esperando um prefeito melhor acha isso porque votou nele; tampouco todos os que esperam pioras votaram no perdedor. A opinião pública raramente é simples. Há nuances de todos os lados.
OTIMISTAS E PESSIMISTAS – É possível, porém, esboçar as características de cada grupo segundo os traços que mais se destacam em comparação à média. Os otimistas estão mais concentrados nas pequenas e médias cidades, têm um peso maior entre os evangélicos e são menos críticos em relação ao governo Temer. Eles ficaram mais satisfeitos com o resultado da eleição e dão um peso maior ao fato de o seu candidato representar a mudança. Nas suas cidades, houve mais troca do partido no poder do que na média do país.
Os pessimistas tendem a ser mais velhos e têm maior probabilidade de terem feito faculdade. Têm uma concentração maior nas capitais e nas grandes cidades. Desaprovam com maior veemência o governo federal. A maior parte desse grupo aposta que o próximo prefeito vai ser pior do que o atual.
Não dá para enquadrar os grupos em perfis pré-concebidos. Nenhum dos dois pode ser chamado de “coxinha” ou “petralha”. O que os divide e o que os une não é a preferência partidária.
INDEPENDE DE PARTIDOS – Não há diferença significativa entre os dois grupos segundo os partidos que governam as cidades onde moram. Isto é: há proporcionalmente tantos otimistas e pessimistas entre municípios que hoje são governados pelo PSDB ou pelo PT. O mesmo ocorre em relação ao partido dos eleitos. O otimismo não cresce nem diminui em função da agremiação política do novo prefeito.
O que se extrai do estudo do Ibope é que a expectativa positiva é mais baixa do que se poderia esperar para uma pesquisa feita tão próxima do resultado da eleição. Mesmo descontando-se o “fator derrota”, o otimismo tenderia a ser mais alto se as condições econômicas fossem melhores, e se a fé no processo eleitoral e na política não estivesse tão em baixa.
DUAS MANEIRAS – Repetindo a classificação do Ibope, há duas maneiras de encarar a pouca esperança em relação aos novos prefeitos. A visão otimista é que a avaliação de um governante é sempre o resultado da aprovação do seu governo subtraída a expectativa. Caso se espere pouco dele, maior a chance desse saldo ser positivo. Ele precisa fazer menos para surpreender positivamente.
A visão negativa é que os novos prefeitos já começam a governar em um clima de desconfiança de, em média, 46% da população. Qualquer deslize pode confirmar as expectativas negativas e levá-los, rapidamente, para os porões da impopularidade.
O risco é mais alto para quem se elegeu prometendo mudança. Maior a demora para convencer seu eleitor de que está mudando a prefeitura para melhor, maior a chance de decepcioná-lo e ver o “efeito Dilma” solapar seu apoio logo no começo do mandato.
03 de janeiro de 2017
José Roberto de Toledo
Estadão
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