Os prefeitos das capitais e demais cidades começam a trabalhar hoje. Alguns recomeçam. Junto com os governadores, serão as vítimas de um processo que lhes tirou a força e a dignidade em suas cidades e seus estados. Cada unidade da federação encontra-se em estado de penúria, atravessando a pior de suas trajetórias. Sua função será sacrificar-se para a recuperação do que foram e não são mais, graças ao esbulho de uma força situada além de suas fronteiras.
É a União que depende e que precisa dos governadores e prefeitos, jamais estes daquela. Torna-se necessário o presidente Michel Temer entender essa verdade absoluta: os estados e municípios são o país, formam a rede de proteção de um poder etéreo e até inexistente. Brasília só existe porque municípios e estados a cercam e sustentam. Nunca o contrário.
Assiste-se à inversão da natureza. Têm sido os governadores e os prefeitos que chegam mendigando à capital federal, de chapéu na mão, humilhados e exangues atrás de recursos para continuar existindo, quando na realidade a União é que existe por decisão e concessão deles. Brasília deveria desculpar-se e pedir perdão por ter-se omitido tanto. Se há lamentos, reprimendas e arrependimento, deve-se debitar à capital federal o ônus maior.
INCÚRIA DO PODER – Caberia ao governo central recuperar as estruturas estaduais e municipais por ele destruídas ao longo dos últimos anos. Sonhos inúteis e projetos impossíveis, entre muita corrupção, erodiram, desgastaram e quase destruíram os alicerces que sustentavam a unidade nacional. Um por um, estes mais, aqueles menos, municípios e estados foram conduzidos à situação de miséria pela incúria do poder federal. É inadmissível que agora se aceite a equação invertida, de que Brasília deve correr em auxílio das unidades federadas. Elas é que precisam cobrar o que lhes foi surripiado por ação do poder central. Sem estados e municípios Brasília permaneceria um deserto insípido.
A oportunidade não é de municípios e estados viram atrás de favores, como farão mais uma vez, senão de chegarem a Brasília para exigir e arrancar o que lhes foi tirado.
03 de janeiro de 2017
Carlos Chagas
Nenhum comentário:
Postar um comentário