"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

VOLUME DE DADOS DA LAVA JATO OBRIGOU A POLÍCIA FEDERAL A CRIAR NOVO SISTEMA




RIO DE JANEIRO, RJ, BRASIL, 14-12- 2016, retrato de Luis Filipe Nassif, perito da PF que desenvolveu um software que cria conexões entre os dados e monta quadros simplificados, que ajudou os investigadores a fazer, em poucos minutos, descobertas que poderiam levar meses em investigacoes importantes como Lava jato. Centro, Rio de Janeiro.
Luís Filipe Nassif criou um software para processar dados
O gigantismo e a complexidade da Operação Lava Jato impuseram desafios aos peritos da Polícia Federal, e para dar conta do recado foi preciso criar ferramentas e métodos de trabalho. As áreas de informática e engenharia da PF desenvolveram inovações que turbinaram as atividades e permitiram acompanhar o ritmo que o juiz federal Sergio Moro imprime ao caso.
O tamanho da Lava Jato pode ser medido pelo volume de dados coletados nas apurações: 1,2 milhão de gigabytes. O material veio principalmente de ações de busca e apreensão em servidores e computadores de empreiteiras.
Em 2014, ano inicial da operação, o setor de perícias da PF em Curitiba resolveu pedir a colaboração do perito Luís Filipe da Cruz Nassif, que desde 2012 vinha desenvolvendo um programa para acelerar o processamento de dados na PF.
MUITAS VANTAGENS – As primeiras versões desse software, batizado de IPED (Indexador e Processador de Evidências Digitais), já mostrava vantagens em relação a produtos similares no mercado, mas, a partir das exigências da Lava Jato, Nassif implementou outras ferramentas.
Uma delas permite processar de forma simultânea dados retirados de até cem diferentes equipamentos, como laptops e celulares. Com essa inovação, é possível que todo o material obtido em uma fase inteira da Lava Jato esteja disponível para pesquisa após um dia, afirma Nassif.
Outro problema eliminado com o IPED, na Lava Jato, foi o do tempo ocioso das máquinas no momento anterior a esse processamento, o de inserção dos dados no sistema da PF. O programa permite enfileirar os trabalhos de extração de dados de equipamentos. “Antes era preciso colocar um HD de cada vez. Agora o sistema trabalha no fim de semana, de um dia para outro, algo que os softwares do mercado não permitem”, diz.
DEDICAÇÃO TOTAL – Formado em engenharia da computação pelo IME (Instituto Militar de Engenharia) em 2005, Nassif conta que o desenvolvimento do IPED exigiu dedicação fora do horário de trabalho. “Fiz grande parte do trabalho no meu tempo livre pessoal, em casa. Mas, de 2014 para cá, outros colegas da PF têm me ajudado”, afirma.
Nassif diz que o perito Wladimir Luiz Caldas Leite criou um detector de nudez, usado em apurações sobre pornografia infantil, e Patrick Dalla Bernardina desenvolveu um identificador de locais onde fotos e vídeos foram feitos, por georreferenciamento.
O IPED também está gerando redução de gastos para a PF e outras polícias. Antes a corporação usava um programa de análises forenses cuja licença de uso custa cerca de R$ 30 mil, anualmente, para cada máquina. Só na superintendência da PF em São Paulo, onde dez cópias do IPED são usadas, a economia, portanto, é de R$ 300 mil.O programa já foi compartilhado com as polícias civis dos Estados do Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina.
ANÁLISE DE LICITAÇÕES – A análise de superfaturamento por conjuntos de licitações foi desenvolvida pelo grupo da Lava Jato chefiado pelo perito João José de Castro Baptista Vallim para detectar e mensurar desvios em mais de 100 concorrências sob suspeita na operação.
Foram criados dois grandes conjuntos: um com licitações com indícios de formação de cartel e outro em que houve disputa efetiva entre as empresas. A partir daí foi possível identificar padrões de superfaturamento.
Há muitas vantagens em relação ao método tradicional, porque permite identificar padrões de superfaturamento que podem ser aplicados a um grande número de situações. Assim, em seis meses foi realizado um trabalho que levaria oito anos pelo método tradicional.

03 de janeiro de 2017
Flávio Ferreira
Folha

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