A liberação de Aleppo Leste, que estava sob controle de milícias aliadas da Al-Qaeda, é ponto de virada decisivo na guerra contra a Síria. Todas as áreas de maior população e mais alta concentração de infraestrutura que definem o lado ocidental, de norte a sul do país, já estão quase integralmente sob controle do governo sírio.
POSIÇÃO ESTRATÉGICA – Mais que isso, a libertação de Aleppo Leste serve como importante plataforma de lançamento com vistas a interromper o vital corredor Turquia-até-Mosul, pelo qual passaram, durante anos, suprimentos e armas para o Estado Islâmico. Soldados sírios e aliados poderão agora mover-se para leste da cidade até o Rio Eufrates, e cortar a linha de sobrevivência Turquia-Estado Islâmico.
Com as bases sírias no oeste protegidas e os militantes muito enfraquecidos no sul, só restam, como desafios, as áreas do noroeste – mas são áreas muito amplamente ocupadas pelo Estado Islâmico, onde se travarão as batalhas finais para erradicar o grupo terrorista.
Assim sendo, o que exatamente os norte-americanos visam a obter com a insistente tentativa de divisão da Síria, que é a opção político-militar que lhes restou – e por quê?
VÁCUOS DE PODER – Guerras recentes no Afeganistão, Iraque, Iêmen e Líbia demonstram claramente que uma autoridade central enfraquecida cria vácuos de poder que grupos extremistas sempre correm a preencher. O presidente eleito dos norte-americanos Donald Trump disse que prefere homens fortes no governo desses países do que a instabilidade que brota dos conflitos para ‘mudança de regime’.
Qualquer divisão da Síria, portanto, beneficiaria em primeiro lugar o Estado Islâmico e a Al-Qaeda – e todos os lados do conflito sabem disso.
Os estados do Arco de Segurança (Egito, Turquia e Jordânia, três estados vizinhos críticos), cada um por razões diferentes, na luta contra grupos extremistas, sabem que se tornou inadiável participar dessa nova arquitetura de segurança regional, e podem competentemente erradicar o terrorismo de sua região. Mas Turquia e os EUA permanecem ainda como fatores de atrito permanente, os dois lados empenhados, contra os interesses de sua própria segurança, em reclamar para si fatias de território que têm alto valor estratégico.
UM CONTRA O OUTRO – Engraçado é que esses interesses jogam um contra o outro, embora EUA e Turquia sejam dois aliados da OTAN. O apoio de Obama aos curdos enviou Erdogan voando para o colo de iranianos e russos, pedindo socorro. É realmente irônico que esforços de tanto tempo, pelo Ocidente, para semear discórdia entre atores, seitas e etnias regionais, possam agora ser revertidos num único passo, com o apoio dos EUA ao nacionalismo curdo. Nada mais garantido, para criar solidariedade e causa comum entre árabes, iranianos e turcos, que a possibilidade de criar-se um país curdo independente. Nem o Estado Islâmico se arrisca nessa empreitada, que isola os EUA.
Depois da vitória em Aleppo, Assad novamente falou sobre Síria dividida: “É o que esperam os países ocidentais – e alguns regionais também… Se você observa a sociedade síria hoje, estamos mais unificados que antes da guerra. Não há o que faça os sírios aceitarem tal coisa – falo sobre a vasta maioria dos sírios… Depois de quase seis anos, posso garantir que a maioria dos sírios rejeitaria qualquer coisa que tenha a ver com desintegrar o país. É o contrário. Querem a Síria una, sem divisões.”
SEM DIVISÃO – E Assad tem razão. Para mais de 70% dos sírios que vivem em áreas controladas pelo governo, a disposição para mais conflitos é zero – e dividir o país só significa isso: novos conflitos. Além do mais, não só os sírios, mas todo o Arco de Segurança e seus aliados globais estão hoje dedicados a proteger-se, destruindo o terrorismo que ainda resiste em bolsões de território ocupado. Como a Síria de Assad – e grande parte da Europa hoje – todos esses países sabem que não erradicarão a ameaça radical islâmica se não exterminarem os terroristas e preservarem o Estado.
Nesse contexto de segurança, a firme intenção norte-americana de dividir a Síria está fora de questão. No contexto militar, uma partição forçada exigiria o emprego de tropas mais fortes que os exércitos de Síria, Irã, Rússia, Iraque, Egito e Hezbollah combinados – e esse exército não existe. No contexto político, o apetite internacional para uma repartição ‘imposta’ é nenhum.
Assim sendo, como se vê, não, a Síria não será dividida.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Mais um importantíssimo artigo enviado pelo jornalista Sergio Caldieri. A autora, Sharmine Narwani, é uma das principais analistas de geopolítica do Oriente Médio. Foi professora no St. Antony’s College, Oxford University, com pós-graduação em Relações Internacionais na Columbia University. Publica artigos no Al Akhbar English, The New York Times, The Guardian, Asia Times Online, Salon.com, USA Today, Huffington Post, Al Jazeera English, BRICS Post e outros. Seu brilhante artigo mostra que não haverá divisão da Síria. Pelo contrário, o resultado será a união de importantes países do Oriente Médio, com apoio da Rússia e da China. O jogo político no xadrez internacional está virando e no sábado o Conselho da ONU já aprovou o plano da Rússia e da Turquia. (C.N.)
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Mais um importantíssimo artigo enviado pelo jornalista Sergio Caldieri. A autora, Sharmine Narwani, é uma das principais analistas de geopolítica do Oriente Médio. Foi professora no St. Antony’s College, Oxford University, com pós-graduação em Relações Internacionais na Columbia University. Publica artigos no Al Akhbar English, The New York Times, The Guardian, Asia Times Online, Salon.com, USA Today, Huffington Post, Al Jazeera English, BRICS Post e outros. Seu brilhante artigo mostra que não haverá divisão da Síria. Pelo contrário, o resultado será a união de importantes países do Oriente Médio, com apoio da Rússia e da China. O jogo político no xadrez internacional está virando e no sábado o Conselho da ONU já aprovou o plano da Rússia e da Turquia. (C.N.)
03 de janeiro de 2017
Sharmine Narwani
Site RT
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