Amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ministro no governo do PT, o ex-prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho (PT), que deixou o cargo neste domingo (1º), defende um pacto político para a antecipação das eleições para o segundo semestre de 2017.Ele se diz contrário ao impeachment do presidente Michel Temer ou à cassação da chapa Dilma-Temer pela Justiça Eleitoral, o que, para ele, seria um “golpe dois”. Segundo o ex-prefeito, o Congresso deve assumir a responsabilidade de antecipar a eleição. Defende também a candidatura de Lula à Presidência, e diz que a hipótese de apoio a Ciro Gomes (PDT) é “quase zero”.
Qual é o saldo de 2016?Na cidade, saio como um prefeito altamente realizador. É o que me dizem nas ruas. No panorama nacional, do ponto de vista econômico, foi o pior dos últimos oito anos, desde que estou aqui [na prefeitura]. Ano passado não foi bom. Este foi muito pior. O maior problema de 2016 é que ele não aponta perspectiva para 2017. Se 2017 andar de lado, já vai estar bom. Mas o cenário é de piora. O governo Temer não conseguiu resolver os problemas. Todas as promessas pós-Dilma estão comprometidas.
Dizem que 2016 é o ano que não acabou.O Congresso deveria ter a coragem de chamar para si a responsabilidade de solução dos problemas políticos, colaborando com a economia, para salvar 2018. Deveria ter um remédio constitucional. Para um momento excepcional, medidas excepcionais. Vejo a necessidade de uma emenda constitucional para sair das eventualidades que leio pelos jornais. O TSE [Tribunal Superior Eleitoral] cassar a chapa Dilma-Temer é um erro. Novo impeachment, outro erro. Sangrará a economia, como já sangrou no impeachment da Dilma. O impeachment da Dilma já foi um erro. O impeachment do Temer seria o erro dois.
Como seria?Uma emenda constitucional antecipando as eleições. Pode ser para agosto de 2017, setembro. Faz um mandato excepcional, de cinco anos. A partir de 2022, 2020, voltaria a normalidade dos mandatos.
O Congresso teria esse desprendimento de reduzir o próprio mandato? E os governadores, deputados estaduais?Será preciso uma pactuação política entre partidos e líderes políticos. Seria uma mesquinharia falar no próprio mandato. Estamos falando do Brasil, de desemprego, da ausência de emprego para jovens, de não enxergarmos saída. Suportar a situação até as eleições de 2018 é sangrar demais a economia. A retomada de normalidade tem que passar por uma repactuação política da sociedade. E vai acontecer só no segundo turno das eleições, em 2018, que o Congresso deveria assumir a responsabilidade de puxar para 2017. E dessa forma, se faz uma pactuação nessa coisa de “fora, Temer”, de “não fora, Temer”. O Temer vai governar, mas vai governar no período de um ano ou menos.
O sr. acha que o Temer tem que conduzir esse processo?Temer tem que ser grande. Não pode se diminuir. Tem que ter essa compreensão de liderança política. Assim como a Dilma, como o Lula, como o Serra, como o Aécio, como o Alckmin. Todos os agentes políticos do país.
O PT abraçaria isso?O PT tem que dar sua contribuição. É a ideia que serve para as lideranças de todos os partidos. Fala-se em eleições indiretas. Eleição indireta não é a solução. Eleição indireta é o golpe dois. Ou golpe três. Não vejo uma saída que não seja pelo voto direto.
Nesse caso, o Lula deveria ser candidato?O Lula deve ser candidato. Na circunstância de ataque, de agressão, de busca de destruição do legado do Lula, ele não tem saída a não ser sair candidato. Lula tem consciência disso.
O PT estaria disposto a negociar com Temer depois do processo traumático do impeachment?O PT não vai se recusar a discutir uma saída para o país. O governo Temer está mostrando que não tem capacidade. Temos que lançar mão dos elementos constitucionais para a saída da crise. Então, quem está trabalhando a partir da prestação de contas, forçando a barra da prestação de contas da campanha Dilma-Temer para afastar o Temer, condenar a Dilma-Temer para viabilizar uma eleição indireta, esse é outro grande golpe. Golpe dois.
Há no Congresso líderes capazes de conduzir esse processo?Claro. Até para recuperar sua imagem. Quando se está mais lascado, tem que ser mais ousado. Evidente que Temer tem responsabilidade, e as lideranças partidárias também. Se o Congresso estiver imbuído da busca de uma solução, a tendência é que as lideranças possam apoiar. Não devemos nos lançar num processo de revanchismo: porque a Dilma foi cassada, querer cassar Temer. Precisamos de uma saída. Aguentar o governo Temer até 2018 é muito sacrifício para o povo.
Nessa fórmula, o senhor seria candidato a governador em 2017?Todo mundo que seria candidato em 2018 concorreria em 2017. Até hoje, à exceção de ser presidente de sindicato, não reivindiquei nada. O caminho me levou. Se tiver alguém no PT em melhores condições de ser candidato em 2017, não tem absolutamente óbice.
Mas assumir a presidência do PT de São Paulo é um plano. Por quê?Os resultados eleitorais levam a uma inquietação de nossas bases e à necessidade de pensar direções que respondam a essa inquietação. Essa é a razão de a gente construir para presidente nacional uma unidade em condições de enfrentar as eleições de 2018, ou 2017. Da mesma forma, isso acontece em São Paulo. Um conjunto de lideranças insiste para que me disponha a presidir o partido. Eu me disponho. Pedi para não ter a tarefa de presidente nacional. Essa rechacei.
O sr. defende que Lula seja presidente do partido.Defendo que seja presidente do partido e candidato a presidente da República. É a liderança que melhor reúne condições de construção de unidade partidária nessa fase conjuntural. Para a Presidência, não há outra liderança em melhor situação eleitoral do que o Lula. Então, para que perder tempo e divagar sobre isso?
Existe a possibilidade de apoiar Ciro Gomes?A hipótese é quase zero. O PT tem candidato. E não é o Ciro Gomes. A próxima eleição vai reproduzir a de 1989. Muitas candidaturas e uma pactuação no segundo turno, que significará a pactuação política para conduzir o país. Vejo a candidatura do Ciro Gomes com bons olhos. Mas não como candidato do PT.
Como o sr. avalia a derrota do PT no grande ABC, especialmente em São Bernardo, apontando para o ocaso do partido?Quem é candidato à reeleição é mais flagrante. No nosso caso não é assim. Se fosse candidato à reeleição, tenho certeza que seria reeleito.
Então o que aconteceu no entorno, no grande ABC, berço do PT?O PT foi vítima de um processo contínuo de espancamento público que culminou na boca da eleição com ações espetaculosas, da PF, do MPF, do seu Moro, da prisão desnecessário do Guido e do Palocci, na oferta de denúncia contra Lula. E pintou esse tsunami eleitoral. O grande fenômeno Doria conseguiu espalhar isso. Agora, o grande fenômeno Doria não chegou a 30% do eleitorado da capital. É isso que a mídia tem que refletir, o tamanho da irresponsabilidade da mídia, que ajuda a conduzir a um processo perigoso, que é a minoria estar decidindo.
O Instituto Lula divulgou uma nota afirmando que a Lava Jato atingiu um grau de loucura para inviabilizar a candidatura. Há um risco de a candidatura Lula ser inviabilizada?Acredito que a loucura irresponsável da condução da Lava Jato, se não é, parece que querem inviabilizar a candidatura da Lula. A melhor maneira de Lula é denunciando, fazendo enfrentamento. Não é baixar a cabeça para Moro nem para ninguém.
Não existe o risco de o PT ficar sem plano B?Não acredito que vão condenar o Lula e tirá-lo da eleição. Acredito que seja um desejo. A melhor maneira de impedir essa irresponsabilidade é fazer o debate conforme o Lula está fazendo.
Que avaliação o sr. faz dos agentes da Lava Jato, Sergio Moro, procuradores…Poderiam estar na indústria cinematográfica. São ações espetaculosas. Não somos contrários às ações de combate à corrupção. Mas temos que combater toda a hipocrisia presente na sociedade em relação aos sistemas. Para Vaccari estar preso, a rigor, todos os tesoureiros de todos os partidos, com raríssimas exceções, deveriam estar presos. Se não é perseguição contra o PT, parece.
Então, o sr. vê perseguição política dos agentes. Eminentemente. Ou uma indução política e eles estão cegos.
No caso específico de São Bernardo, uma denúncia sobre o Museu do Trabalhador aponta desvio de R$ 7,8 milhões. O que aconteceu?Estamos buscando interpretar o que aconteceu. De uma coisa tenho certeza. Desafio qualquer um a provar que houve desvio de R$ 7,8 milhões dessa obra. Desafio a juíza, o Ministério Público, a Polícia Federal, ser extraterrestre. Qualquer um.
03 de janeiro de 2016
Catia Seabra
Folha
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