No aeroporto JFK, em Nova York, o empresário Eike Batista, alvo de um mandado de prisão preventiva da Operação Eficiência, afirmou ao Globo que volta ao Brasil para responder à Justiça. Eike negou que já tenha negociado uma delação premiada. Ao ser perguntado se está tranquilo, disse que “tem que mostrar o que é” e precisa passar “as coisas a limpo”. O empresário embarcou às 21h45m deste domingo (0h45m no horário brasileiro de verão) para se entregar à polícia. Eike veio no voo 973 da American Airlines, com pouso previsto para as 10h30m desta segunda-feira no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro.
“Eu tô voltando e (vou) responder à Justiça, como é o meu dever” — afirmou, acrescentando: “Sentimento é de tem que mostrar o que é. Está na hora de eu ajudar a passar as coisas a limpo”.
Eike confirmou que não tem ensino superior completo e que fez apenas dois anos do curso de engenharia na Universidade de Aachen e “saiu para trabalhar, para ganhar dinheiro”.
FAZENDO SELFIES – Ainda no aeroporto, foi parado para selfies. “É o carinho de quem enxerga que devo ter feito muita coisa boa no Brasil” — comentou.
Eike negou que já tenha negociado com algum advogado a possibilidade de propor um acordo de delação premiada. “Não. Estou me entregando, como é meu dever”.
Também desconversou ao ser perguntado se, em algum momento, vai levar a público fatos até agora desconhecidos. “Olha, como estou nessa fase, me entregando à Justiça, melhor não falar nada. Depois a Justiça, e o que for permitido falar, vai acontecer depois. Agora não dá”.
Questionado se errou em sua atuação, o empresário respondeu: “Se foram cometidos erros, você tem que pagar pelos erros que você fez. É assim, né?” — disse Eike, ao afirmar que não cometeu erros.
Quando indagado se poderia ter sido mal assessorado, Eike gesticulou com a cabeça deixando a entender que sim. O empresário disse que se surpreendeu quando teve a prisão decretada: “Não (fiquei nervoso), (fiquei) surpreso. Estou voltando porque, sinceramente, vou mostrar como são as coisas, simples assim”.
VÍTIMAS DA CORRUPÇÃO – O empresário afirmou que não pensou em ir para a Alemanha. Eike tem cidadania alemã, o que poderia dificultar sua captura pelas autoridades brasileiras caso chegasse ao país europeu. “Não, não. Eu venho sempre para Nova York a trabalho, tá, obrigado”.
Ao ser perguntado se considera que os empresários são vítimas do sistema de corrupção que está sendo desvendado, Eike concordou: “São, né (empresários são vitimas). As regras têm que ser claras e transparentes, e o que está acontecendo vai permitir que o Brasil seja um país em que todo mundo vai querer investir. Por isso está passando essa fase difícil, mas na frente todo mundo vai dar uma nota diferente para o Brasil em termos de transparência”, disse Eike, que acha a Operação Lava-Jato “espetacular”.
AS ACUSAÇÕES – As investigações apontam que Eike e Flávio Godinho, do grupo EBX, pagaram propina de US$ 16,5 milhões ao ex-governador Sérgio Cabral, usando a conta Golden Rock no TAG Bank, no Panamá. Esse valor foi solicitado por Cabral a Eike Batista em 2010 e, para dar aparência de legalidade à operação, foi realizado em 2011 um contrato de fachada entre a empresa Centennial Asset Mining Fuind Llc, holding de Eike, e a empresa Arcadia Associados, por uma falsa intermediação na compra e venda de uma mina de ouro. A Arcadia recebeu os valores ilícitos numa conta no Uruguai, em nome de terceiros mas à disposição de Sérgio Cabral, de acordo com o MPF.
Eike Batista, Godinho e Cabral também são suspeitos de terem cometido atos de obstrução da investigação, porque numa busca e apreensão em endereço vinculado a Eike em 2015 foram apreendidos extratos que comprovavam a transferência dos valores ilícitos da conta Golden Rock para a empresa Arcádia. Na oportunidade os três investigados orientaram os donos da Arcadia a manterem perante as autoridades a versão de que o contrato de intermediação seria verdadeiro.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Sensacional a reportagem de Henrique Gomes Batista, que fez também as fotos. Eike respondeu a todas as possíveis perguntas e demonstrou que fará delação premiada, sinalizando que realmente vai colaborar com as autoridades. E isso significa que vai atingir em cheio não somente Sérgio Cabral no âmbito federal, mas também os dois grandes facilitadores no âmbito federal — os ex-presidentes Lula da Silva e Dilma Rousseff, além do economista Luciano Coutinho, que foi o operador deles e jogou na lama o nome do BNDES. (C.N.)
30 de janeiro de 2017
Henrique Gomes Batista
O Globo
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