"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

VERSÕES PETISTAS: GENÉRICOS DA VERDADE INCÔMODA

A nação, aos poucos, foi identificando a distância que se estabeleceu entre o discurso que levou o PT ao poder e a posterior prática na gestão dos negócios públicos. Alguns, entre os quais me incluo, predisseram, bem antes, os riscos aos quais se expunha uma sociedade que confiasse poderes de governo e de Estado a uma organização que fazia uso das práticas que caracterizavam a ação petista. Refiro-me, especificamente, aos seguintes meios:

a) organização e manipulação de movimentos sociais para atos que atentavam à ordem pública, à lei, ao direito de propriedade e às determinações judiciais;

b) desrespeito pela honra alheia e o assassinato das reputações de quaisquer adversários que se colocassem no caminho traçado pelo partido;

c) articulação partidária internacional com governos totalitários, com organizações terroristas e com movimentos revolucionários de esquerda, dos quais o Foro de São Paulo é apenas um exemplo regional em meio a inúmeros outros mundo afora;

d) transformação de instituições do Estado, de setores importantes da administração pública, bem como de conselhos profissionais, órgãos de cultura, instituições de ensino e organismos religiosos como a CNBB, em aparelhos do partido.

Os milhões de brasileiros que saíram às ruas, bem como os autores das cinco dezenas de requerimentos de impeachment formulados por juristas munidos de exaustiva coletânea de fundamentos, respeitaram a legitimidade de três sucessivos mandatos presidenciais do PT. Três mandatos cuja lisura, aliás, com as revelações da força-tarefa da Lava Jato, ingressam na mais nebulosa suspeita. Bastaria isso para descredenciar a veemência da tropa de choque do governo extinto. Do início ao fim desse exaustivo processo conviveram, braços dados, a obra e o conjunto da obra de uma específica mandatária. Na gênese deste impeachment, conviveram o crime de responsabilidade e uma vultosa mistura de ingredientes. Eles vão da incompetência, passam pelo conhecimento de que uma organização criminosa causou um dos maiores casos de corrupção da história e deságuam na mais tormentosa crise econômica e social da vida republicana.

Como reage o petismo diante desse quadro? Com arrogância, virulência e irresponsabilidade. Em momento algum, desde março do ano passado, o partido, seus agentes e a própria presidente demonstraram qualquer preocupação com a situação nacional. Nada! Brandiam os números dos tempos de bonança, da China compradora e do petróleo em alta, como se fossem méritos, e méritos permanentes, do governo. Nunca dedicaram uma palavra sequer aos 14 milhões de desempregados de agora, nem às famílias cuja renda despenca, nem às vítimas da criminalidade que se abastece do ódio de classes, raça e "gênero" semeado, nem às empresas que fecham as portas. Só os mobiliza a construção de discursos que possam pavimentar uma viela de retorno ao poder.

Não lembro de outra circunstância em nossa história na qual os ditames constitucionais tenham sido tão minuciosa e longamente observados. Para o petismo, porém, tratava-se de uma nova queda de Jango, de um novo suicídio de Vargas. Impossível não ver em tudo isso o mesmo petismo de sempre, dedicado à dissimulação da realidade, às mentiras, ao espargimento de ódios e à construção de versões como genéricos da verdade incômoda. Portanto, onde alguns veem combatividade e dedicação à causa eu identifico conturo de 2016mácia, vícios empedernidos, incorrigibilidade. Já não queimam pneus, os artífices do caos?


01 de setembRO 2016
Percival Puggina, membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor

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