Desde que passamos a ter um governo interino no País com a defenestração justa e merecida de Dilma em maio passado, a política econômica brasileira apresentou certa leniência durante esse breve período, sem conseguir apresentar os avanços indispensáveis que revelassem as mudanças efetivas em nossa conjuntura econômica.
Esta interinidade vem sendo comentada no mercado financeiro pelos empresários e analistas econômicos diante de algumas “generosidades” distribuídas em poucos meses pela nova gestão.
Por enquanto, ainda não há o que se contestar com relação à reconhecida competência da equipe que assumiu o comando da nossa economia, a qual, desde sua chegada, tem demonstrado firmeza no controle da inflação e na busca incessante do amplo equilíbrio exigido pelas contas públicas.
Entretanto, já vinha também sendo sentida certa bondade por parte dos agentes econômicos, mesmo enfrentando um ambiente fiscal inalterado e extensamente deteriorado.
A partir do momento em que Temer se acomodou no trono principal do Planalto, tem se esforçado para demonstrar aos brasileiros sua grande preocupação com o controle das contas públicas. Sem dúvida, tem se utilizado desse importante “gancho” que está intimamente relacionado à fatalidade da “Nova Matriz Econômica” adotada desde o primeiro desgoverno de Dilma.
De imediato, acolheu o prejuízo, procurando planejar uma nova estratégia que envolvesse com responsabilidade o ajuste fiscal e a equalização da crise política dominante.
Pessoalmente, acho que pouco poderia fazer em tão pouco tempo diante da “herança maldita” recebida de sua antecessora, talvez somente articulações e negociações na construção de uma nova base aliada de sustentação ao seu governo até o final da decisão do impedimento pelo Senado.
Usualmente não é uma missão fácil compatibilizar os desequilíbrios existentes nas contas públicas com um ambiente de crescimento econômico.
Fazer isso acontecer, dentro de um cenário de profunda recessão que estamos atravessando torna-se, indiscutivelmente, um gigantesco desafio.
A extensão dessa problemática pode ser agravada pelo fato de nos encontrarmos impregnados por uma forte contração em nossa atividade econômica que vem impactando consideravelmente na renda; em função disso, a arrecadação mergulhou numa acentuada queda, abrangendo a esfera governamental.
É indiscutível o vigoroso desaquecimento na economia e, simultaneamente, um descontrole considerável no desemprego, permitindo, consequentemente, ampliar as demandas pelo crescimento dos gastos diante de uma posição extremamente crítica do ponto de vista social.
As circunstâncias da interinidade deste governo têm inibido de alguma forma seu desempenho, fato que está sendo ansiosamente esperado por todos nós. Por enquanto, o seu raio de ação encontra-se certamente reduzido, conjuntamente com seu evidente propósito de promover uma consistente ação de política econômica durante esses últimos três meses em que se encontra à frente dos destinos da Nação.
Em momento algum desconheceu as reformas estruturais indispensáveis, principalmente a da Previdência, em regime de urgência. Não julgo admissível prognosticar que esse tema tão “polêmico” poderia ser levado adiante sem que o governo saísse formalmente da sua condição transitória de interino para definitivo.
Da mesma forma, existem outros pontos estreitamente ligados às questões fiscais que já se encontram estabelecidos na agenda de trabalho da administração Temer e, que, oportunamente, deverão ser entronizados na pauta.
O governo tem demonstrado uma enorme dificuldade para elaborar um mínimo necessário para o encaminhamento do ajuste das contas públicas; inúmeras pressões por reajustes salariais do funcionalismo público pipocaram e, paralelamente, também surgiram exigências para novos gastos de forma recorrente.
Estas são uma das principais adversidades enfrentadas atualmente, o que faz com que o governo tente, sempre que possível, contorná-las, praticando o “jogo” pesado que é travado dentro da nossa classe política.
O atual ministro da Fazenda sinalizou, após sua posse, uma possibilidade indecorosa e cômodasolução via aumento de impostos e/ou danosas contribuições (exemplo da CPMF) para resolver esse confronto, o que, prontamente, foi veementemente criticada pela sociedade brasileira, que rejeita aceitar novos aumentos de tributos sem uma contrapartida do governo na adoção de um profundo ajuste na estrutura dos seus gastos.
Pelo visto, é possível que a condescendência dos agentes econômicos para com o novo governo tenha um limite e já pode até ter um prazo de validade estipulado.
A posição e o redirecionamento das diretrizes estratégicas desde a mudança de governo, com certeza, foram bem recebidos.
É natural o comportamento até então apresentado pela sociedade que permaneceu em clima de total expectativa neste período de arrumação, embora continue agonizando com os efeitos dos desmandos praticados pela seita petista.
O impeachment, felizmente e, finalmente, encontra-se consolidado e, agora, a nossa grande esperança é que o governo assuma definitivamente os rumos da política econômica e, comece, de fato e de direito, o processo dos ajustes imprescindíveis que é exigido para a revitalização da economia brasileira.
Resumindo - a partir desse momento, a política econômica com suas propostas, nos próximos meses, jamais poderá ser tratada em “fogo brando”.
Essas propostas terão que ser executadas com determinação, objetividade e, principalmente, com seriedade.
Caso contrário, a frustração retornará ao âmago da sociedade brasileira e, lamentavelmente, seremos levados novamente a um “fogaréu” eminentemente político por este novo governo, muito antes que ele conclua seu presente mandato.
01 de setembro de 2016
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).
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