"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

ALGUMAS PERPLEXIDADES DE UM CIDADÃO APÓS O PROCESSO DE IMPEACHMENT

Charge do Oliveira, reprodução do Diário Gaúc


O Ministro Ricardo Lewandowski, ao dividir ao meio a sanção constitucional, una e explicitamente indivisível, decorrente do impedimento da Presidente da República pelo cometimento de crimes de responsabilidade, dando um entendimento esdrúxulo ao Parágrafo Único, do Artigo 52 da Constituição, sob a justificativa de que se tratava de “um destaque”, semelhante aos que colocou em votação na Sessão de Pronúncia – levou o Senado a se assemelhar a um empregador que dispensa um empregado por justa causa e lhe entrega uma “carta de referência” positiva ao mercado, recomendando-lhe “como um honesto, competente e produtivo trabalhador”.

O dispositivo constitucional citado determina: “… limitando-se a condenação, que somente será proferida por dois terços dos votos do Senado Federal, à perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis.”

Ora, o entendimento literal, claro, cristalino, para qualquer alfabetizado, da preposição “com” traduz-se numa adição, numa companhia inseparável, vinculante, em simultaneidade, num acréscimo insubstituível que forma uma sanção única, indissolúvel. 

Não existe a conjunção alternativa “ou”. Nem a conjunção coordenativa aditiva “e”, que poderia ser entendida como uma “pena acessória”, como “algo mais”.

ERRO PRIMÁRIO
– No mínimo, o Presidente deveria dar ao Plenário o direito de decidir sobre o corte ao meio, a separação da sanção em duas sanções. 
Errou Lewandowski. Primariamente. E todos comeram moscas ao considerar que, no País, só existe função pública, que à Dilma não é possível, naturalmente, procurar ocupação ou emprego no setor privado, como faz a maioria dos brasileiros.

A presidente Dilma foi ao Senado na última quinta-feira. Não respondeu a uma pergunta sequer. Disse o que quis, como quis, no tempo que lhe conveio. Com um discurso deplorável na forma, prenhe de erros, e no conteúdo, falso, inverídico, infundado. Sem réplicas. Ginasianamente. Seus asseclas disseram que ela “demoliu a acusação”. Na realidade, houve uma auto-implosão asnal. 
Perguntada, nada disse. E tudo lhe foi perguntado. Melhor seria que nada se perguntasse. E tempo não se perdesse.

FALAS PATÉTICAS
– “Este Senado não tem moral para julgar a Presidenta Dilma” – ( Gleisi Hoffmann, inflando-se de moralismo e sem argumentos.)

“Eu acuso… Eu acuso… Eu acuso…” – (Lindbergh Farias, tentando ser tribuno, fingindo genialidade, ao plagiar mal o repetido recurso estilístico que Émile Zola utilizou – “J’acuse” – na carta ao Presidente Felix Faure, na França de 1898. 
Enquanto isto, os seus eleitores aguardam, até hoje, a sua prometida e devastadora ação parlamentar contra a privataria do PSDB, discurso com o qual se elegeu, enganando os eleitores em 2002.)

“A Presidenta Dilma vai ficar com uma aposentadoria de R$ 5 mil. Ela não vai poder dar aulas em universidades… Por isto, peço às senhoras e aos senhores que não votem pela inabilitação para o exercício de funções públicas.” 
(Kátia Abreu clamando ao plenário para não aplicar a devida pena de inabilitação, certa de que Dilma pode dar aula em universidades quando a falecida “Presidenta” está, há vinte anos, para concluir o curso de mestrado.)

ONOMATOPEIAS – Voz de manicure aflita e endividada. (Gleisi Hoffmann em arroubos de inconformismo)

Voz de menino contrariado, forçado a ir ao dentista e com mesada atrasada. (Lindberg Farias raivoso com Ronaldo Caiado)

PEÇAS DE HUMOR
– As falas críticas e verdadeiras do senador Magno Malta, em linguagem popular, repletas de adágios, folclore brasileiro, citações bíblicas e alcunhas perfeitas criadas por ele mesmo.

O Ministro Lewandowski chamando o Senador Cidinho Santos de “Senadora Cidinha Santos”, e o Senador Cristóvão Buarque de “Senador Cristóvão Colombo”.


JARGÕES MAIS OUVIDOS 


 “Todo esse processo é uma farsa, uma fraude nascida do ódio de Eduardo Cunha contra a Presidenta Dilma, uma vingança do ex-presidente da Câmara. Trata-se de um processo nascido de um desvio de finalidade. Não existem as digitais de Dilma…”

“A presidenta Dilma é uma mulher honrada, uma mulher honesta…”

“Não mente, nunca mentiu, nunca enganou ninguém…” – diziam alguns petistas.

“Não está provado o crime de responsabilidade.”

“Onde está o crime? Se não há crime, não há autoria. E onde está o autor?” – perguntou o petista. “No Alvorada” – respondeu um senador do PMDB.


01 de setembro de 2016
Marcelo Câmara


NOTA AO PÉ DO TEXTO

Narrativa impecável do que aconteceu no cenáculo do Senado. Impecável sob todos os sentidos... Não obstante, o Sr. Marcelo comete um erro, acredito mesmo que por delicadeza (considerando a senectude do Ministro, que promoveu o senador Cristovam Buarque ao navegante descobridor da América, e trocou o gênero de outro), ou simplesmente para preservar a nobreza do cargo, quando atribui ERRO ao Ministro Lewandowski, que trocou as mãos pelos pés e deu a um 'destaque' a severa importância de poder alterar a Constituição.
"O tempora, ou mores" diria o velho Cícero...
Mas não foi erro. Também não foi equívoco.Foi um grande conchavo tramado lá, bem lá atrás, quando se judicializou o processo de impeachment com claríssimas intenções. 
Lewandowski sempre deixou muito clara suas posições. 
Depois, o cenário cheio de rituais, salamaleques e formalidades, excelência pra cá, excelência pra lá; data venia; a 'democracia corrige os seus próprios erros'; a soberania do povo, a Constituição brandida como uma bandeira da legalidade etc... etc... etc... facilitou a trama de Renan armar o acordão (à socapa de Temer) no teatro político do cinismo e indignar aqueles que ainda têm a capacidade de se indignar, por já não se interessarem pela mesmice do espetáculo.
Dizia Dom Miguel de Unamuno, a respeito do cético Anatole France, que não lhe agradava o escritor por não saber indignar-se.
O brasileiro vem sendo assolado por tantas indignidades, que já se torna raro encontrar os que ainda sabem indignar-se, por se tornarem céticos também, ante um roteiro cansativo e prenhe de banalidades escandalosas.
Já perdemos a fé no futuro, estamos perdendo a esperança, e apenas nos sobra a condição humana de saber indignar-se. 
Mas parece que tramam até isso: nos roubar esse último suspiro...
Corrigindo a baboseira do discurso de Renan, e sua citação poética, eu elegeria, do mesmo Affonso Romano de Sant'anna, os seguintes versos do poema "QUE PAÍS É ESSE?":

"Uma coisa é um país, 
outra um fingimento.
Uma coisa é um país,
Outra um monumento.
Uma coisa é um país, 
outra o aviltamento.
(...)
Este é um país de síndicos em geral,
este é um país de cínicos em geral.
Este é um país de civis e generais."


Que país é esse? - Legião Urbana - YouTube

https://www.youtube.com/watch?v=z6uM7FehywQ

9 de abr de 2011 - Vídeo enviado por RenatoRussoALenda
"Que Pais É Este" by Legião Urbana Listen ad-free with YouTube Red. Show more. Show less ...

m.americo

http://lorotaspoliticaseverdades.blogspot.com/2016/09/algumas-perplexidades-de-um-cidadao.html

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