Todo governante se incomoda ao ser questionado sobre suas decisões, confrontado com seus erros ou escrutinado em seus gastos. Se estamos falando do governo mais corrupto da história democrática recente, com os piores índices de aprovação já registrados para um presidente da República, eleito graças à campanha política mais suja de todos os tempos, não espanta que o incômodo beire a histeria.
Esse estado de espírito, entre a cólera e o desalento, mas que tenta demonstrar controle da situação e bom humor, transpareceu nitidamente ontem, na nota do Ministério da Cultura respondendo a este artigo da Reaçonaria.
Reparem que em nenhum momento o artigo alega haver desvios, corrupção ou abuso de poder. Simplesmente faz questionamentos quanto à oportunidade e conveniência de alguns gastos específicos, de acordo com os princípios da Administração Pública previstos no art. 37 da Constituição Federal.
Foi o suficiente para que o Ministério da Cultura lançasse um esclarecimento cheio de ironia, desqualificação e empáfia, que mal disfarçam o intuito intimidatório. Ao final, o verdadeiro objetivo: exigem (sim, exigem) retratação ampla, geral e irrestrita.
Por que um post que aparentemente teve pouca repercussão (menos de 30 likes no facebook, menos de duzentos compartilhamentos no twitter) gerou tamanha reação?
Porque os governantes não lidam bem com questionamentos sobre suas escolhas de gestão, ainda mais quando são escolhas ruins, pouco transparentes e feitas ao modo de “ação entre amigos”, como a nota do MinC deixa claro, ao dizer que as verbas são fruto de emenda de um parlamentar de um petista, em favor de uma prefeitura petista, para execução de um serviço cujos resultados não estão acessíveis.
Fosse uma acusação de corrupção, desvio de verbas, as respostas já estariam prontas, bem como as providências jurídicas correspondentes. Os petistas estão acostumados a lidar com esse tipo de coisa. Não foi o caso.
A Reaçonaria nada mais fez que questionar as escolhas dos gestores federais e municipais, às quais tiveram a contribuição também de um parlamentar, como informa a nota. Tudo isso é mesmo relevante, de interesse público e conveniente, num momento de crise financeira e aperto orçamentário em todas as esferas do poder público? Esse dinheiro não poderia ser aplicado em algo mais urgente, ou melhor, ser simplesmente economizado, para diminuir, ainda que minimamente, o rombo orçamentário do governo federal?
Essas respostas não vieram na nota do MinC, nem virão. Não é esse o objetivo da nota, nunca foi. Os petistas nunca desenvolveram o hábito de prestar contas sobre suas escolhas de como gastam (mal) os recursos públicos. O entendimento geral dos atuais detentores do governo federal é: “quando roubamos, é em nome de uma causa; quando não roubamos é a causa em si, e isso, apenas isso, é o certo”.
Mas há outro ponto que assusta os atuais donos do poder: a perspectiva de perda do poder. Serem apeados dos cargos de polpudos salários e benefícios do Governo Federal já assusta os petistas a ponto de perderem o controle emocional. Perceber que estão analisando os canais pelos quais eles financiam sua militância cultural, front no qual são mais hegemônicos que na política, os deixam à beira de um ataque de nervos.
Tarde demais. As entranhas destas diversas frentes de financiamento já foram descobertas e estão sendo esquadrinhadas. Aos poucos, os nexos de suporte econômico entre o governo e diversas iniciativas “apartidárias” na música, no cinema, na “arte de rua” e nos “movimentos culturais” serão devidamente expostas e, quando Dilma for apeada do poder, estes fluxos serão encerrados.
É isso o que mais irrita os petistas. O governo, eles controlam há 13 anos; estas fontes indiretas de recursos, desde que elas existem, e até hoje ninguém se preocupava com elas. Essa folga acabou.
26 de junho de 2016
penso estranho
(Publicado em 18 de setembro de 2015)
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