Eduardo Cunha já vai tarde. Referendada pelo Supremo Tribunal Federal, a decisão do ministro Teori Zavascki de suspender o mandato dele fez o que a Câmara, por fraqueza e corporativismo, se arrastava para fazer, e tudo indicava que não faria: extirpar um mal que envergonhava o país, embora não envergonhasse a maioria dos deputados. Dilma comemorou a decisão de Zavascki. Ela não servirá ao seu desejo de escapar do impeachment, mas reforçará o discurso de que foi vítima de um golpe. O PT comemorou — quando nada, a suspensão do mandato de Cunha servirá como um prêmio de consolação diante do afastamento de Dilma do cargo de presidente.
O vice- presidente Michel Temer comemorou discretamente. Com tanto apetite pelo poder, imagine o que Cunha não cobraria por ter ajudado Temer a assumir a Presidência da República. Incomodava Temer a hipótese de, como presidente da Câmara, Cunha vir a substituí- lo em suas eventuais ausências.
Cunha tem muitos aliados na Câmara como já demonstrou à farta. Mas tudo se pode pedir a um político, tudo — menos que se suicide. Poucas horas depois de conhecer a decisão de Zavascki, e apesar de surpreendida por ela, uma parcela expressiva dos deputados já discutia nomes com chances de sucederem Cunha na presidência da Câmara. Cunha já era.
O sucessor completará o mandato de Cunha, que se encerraria no início de fevereiro do próximo ano. O segundo semestre de 2016 será tomado pela realização das eleições municipais. A Câmara ficará esvaziada, como de resto o Senado. Pouco importa, porém. Presidir a Câmara, mesmo que por pouco tempo, enriquece a biografia de qualquer deputado.
O pragmatismo dos políticos acabará por apressar na Câmara o julgamento de Cunha, acusado de quebra de decoro por ter mentido em CPI sobre dinheiro que mantinha escondido na Suíça. A decisão de Zavascki não interromperá o processo a que Cunha responde no Conselho de Ética. Parecer do Conselho será votado mais adiante pelos 512 deputados.
Nem por isso deve-se subestimar a capacidade de resistência de Cunha, e a liderança que exerce entre colegas. Uma coisa é certa: a escolha do novo presidente da Câmara passará por Cunha, o maior eleitor que existe ali.
06 de maio de 2016
Ricardo Noblat, O Globo
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