O telefone de Michel Temer (PMDB) tocou por volta de 7h30 da manhã nesta quinta-feira. Era o aviso de que havia uma decisão no STF (Supremo Tribunal Federal) para afastar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), do mandato. Os aliados se apressaram em alardear um suposto “alívio” do vice-presidente com a notícia, mas não foi assim. Temer montou quase de imediato uma equação problemática: se Cunha não era mais o presidente da Câmara, então, quem era? O substituto lhe traria complicações? Seria preciso intermediar uma nova eleição para o comando da Casa? Afetaria a montagem de seu possível governo? Seria, de fato, uma boa notícia a uma semana da votação do afastamento de Dilma Rousseff no Senado?
O vice tentou responder a todas essas perguntas e se reuniu com os principais aliados, futuros ministros e dezenas de deputados. Fez questão de não explicitar nenhum comentário que pudesse melindrar Cunha.
IMPACTO PROFUNDO
O revés vivido pelo peemedebista suscitou especulações sobre qual poderia ser o impacto se, por exemplo, pressionado pela Justiça, decidisse fazer uma delação.
Para além das dúvidas que se instalaram nesta manhã, havia uma certeza: provocar um homem com o potencial ofensivo de Cunha certamente não era uma boa ideia.
Os que falavam em alívio no início da manhã avaliavam que a saída do presidente da Câmara afastava um dos fantasmas que rondam a possível gestão do vice.
Diziam que, com o peemedebista fora do jogo, não haveria espaço para o discurso de que Cunha seria o “vice do vice” e assumiria o Planalto em eventual ausência de Temer.
Mas, no início da tarde, o discurso otimista já havia dado lugar a um tom cauteloso. Em uma das únicas avaliações que fez do julgamento, Temer considerou desmedido o afastamento do peemedebista não apenas do cargo de presidente, mas também do mandato.
NOTA DO “CENTRÃO”
A decisão de Teori contaminara todas as conversas já agendadas por Temer. Um grupo de parlamentares do chamado “centrão”, aliado a Cunha, assinou uma nota de solidariedade ao peemedebista na varanda do Palácio do Jaburu.
O vice foi chamado a comentar o texto. Recusou-se. Disse que era um assunto interno da Câmara, e que preferia não se meter.
Ao final do dia, o grupo de Temer ainda tinha dúvidas sobre qual a melhor alternativa: um mandato tampão do vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), até início de 2017 ou o apoio a uma nova eleição na Casa.
Defensores da segunda tese justificam a preferência com o histórico do pepista. Maranhão votou contra o impeachment de Dilma e criticou o processo de afastamento da petista. Como presidente da Câmara, teria agora nas mãos a chance de dar andamento a um pedido semelhante do qual o vice é alvo.
MAIS DÚVIDAS
Há ainda o indicativo de que aliados de Cunha querem uma nova eleição e de que, uma vez liquidadas as chances do peemedebista voltar ao cargo, ele gostaria de participar da escolha de seu sucessor. Esse grupo sinaliza na direção de três nomes: André Moura (PSC-SE), Jovair Arantes (PTB-GO) e Rogério Rosso (PSD-DF), o favorito.
No entanto, há o temor de que uma disputa dessa natureza impeça Temer de aprovar medidas vitais para o início de sua gestão. A principal e mais iminente preocupação do vice é com a alteração da meta fiscal, que teria de ser feita até o dia 22, para evitar a interrupção do pagamento de despesas básicas do governo, como luz e telefone.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A matéria ficou restrita ao “bunker” de Temer, mas o clima de apreensão é geral, porque a possibilidade de Cunha fazer uma delação premiada causaria um tsunami na política nacional. Cunha só ficou famoso recentemente, mas há vários anos é o rei dos bastidores e das mutretas na política. Parodiando um grande sucesso do sambista Moreira da Silva, pode-se dizer que “vocês não se afobem que o homem dessa vez não vai falar”… Cunha só fará delação depois que for preso, e isso ainda depende do Supremo, porque ele ainda não perdeu o foro privilegiado. E a política nacional continua cada vez mais ensandecida. (C.N.)
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A matéria ficou restrita ao “bunker” de Temer, mas o clima de apreensão é geral, porque a possibilidade de Cunha fazer uma delação premiada causaria um tsunami na política nacional. Cunha só ficou famoso recentemente, mas há vários anos é o rei dos bastidores e das mutretas na política. Parodiando um grande sucesso do sambista Moreira da Silva, pode-se dizer que “vocês não se afobem que o homem dessa vez não vai falar”… Cunha só fará delação depois que for preso, e isso ainda depende do Supremo, porque ele ainda não perdeu o foro privilegiado. E a política nacional continua cada vez mais ensandecida. (C.N.)
06 de maio de 2016
Daniela Lima, Gustavo Uribe e Valdo Cruz
Folha
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