Entre os efeitos da decisão do Supremo afastando Eduardo Cunha da presidência da Câmara, e também do mandato parlamentar, destaca-se sobretudo um extraordinário fortalecimento da Operação Lava Jato em todos os sentidos. Sinal de um avanço contínuo e inclusive mais profundo das investigações, nos indiciamentos, na relação dos réus e, por fim, nos julgamentos pela Justiça em todos os níveis.
O episódio pode ser visto também como um aviso ao governo Michel Temer da não possibilidade de qualquer recuo nos processos que expõem cada vez número maior de pessoas. Não quero dizer com isso que Temer pretendesse tal recuo. Pretender, não pode pretender. Mas correntes que o conduziram até agora, véspera do poder, poderia interpretar seu silêncio como uma espécie de sinal amarelo na trajetória das investigações e, principalmente das acusações.
IMPEACHMENT PROSSEGUE
Vale acentuar, de passagem, que seu principal aliado no cerco ao governo Dilma Rousseff foi, não há dúvida, Eduardo Cunha. Claro que a desclassificação de Cunha não desclassifica o processo , ao contrário do que sustentou o ministro Eduardo Cardozo, na vã tentativa de encontrar argumentos contra o julgamento de Dilma Rousseff.
Um degrau nada tem a ver com outro. Mesmo porque, quando aceitou o pedido de Hélio Bicudo, Miguel Reale e Janaina Paschoal, o ex-presidente da Câmara, ainda não tinha sido afastado do posto. Não se trata disso. Trata-se, no fundo da questão, das ações da própria presidente que, de fato, renunciou indiretamente ao tentar nomear Lula para o cargo inexistente de co-presidente da República.
Lula, sequer conseguiu assumir o cargo fantasiosamente criado para dividir o poder. O que era impossível. Primeiro, porque o poder não se divide. Segundo porque o ato revestia-se de uma manobra para lhe fornecer uma imunidade impossível.
AS CILADAS FALHARAM
O que aconteceu concretamente? As ciladas legais falharam. As ciladas políticas, mais ainda. Agora verifica-se terem fracassado igualmente as armadilhas de Eduardo Cunha, transformado em réu no Supremo pelas acusações do Procurador Geral Rodrigo Janot contra ele, das quais, inclusive, examinando-se bem as coisas, não conseguiu defender-se.
Procurou desfocar as revelações que foram surgindo e se acumulando, em momento algum tentou sequer contestá-las quanto ao seu conteúdo. A perda da presidência da Câmara preocupa diretamente a equipe formada por seus aliados, também quanto à própria exposição pública que ameaça surgir a qualquer momento. São os integrantes da chamada bancada do Cunha.
OUTROS EFEITOS
Os efeitos da decisão do Supremo não se esgotam aí. Pelo contrário. De um lado, alivia Michel Temer das naturais pressões dos que cerram fileiras em sua campanha, mas de outro vai levá-lo a usar de maior cautela na nomeação dos ministros de seu governo. Isso porque não podem causar colisões entre a face política e a face jurídica de uma situação gravíssima que se projeta em todos os setores da vida brasileira.
Qualquer deslize pode desestabilizar o projeto de poder que se armou em Brasília. Curiosamente tanto pelos erros do Palácio do Planalto, quanto pelas articulações no Palácio Jaburu.
O panorama é extremamente sensível. A capacidade de Michel Temer, finalmente, será exposta à prova no Executivo.
06 de maio de 2016
Pedro do Coutto
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