“Todo o poder ao Judiciário” foi o refrão que em 1945 serviu para substituir oito anos do Estado Novo que as Forças Armadas interromperam, mesmo tendo sustentado a ditadura naquele período. Não poderiam os militares continuar apoiando o fascismo interno quando, na Itália, formavam com os Aliados para impor a democracia no mundo.
Quem ocuparia o comando da nação, hoje, diante da falência das instituições erodidas pela corrupção desmedida, tão letal quanto a supressão dos direitos políticos durante o regime que assolou o país naqueles idos de chumbo?
Não dá para imaginar as Forças Armadas repetindo a performance, menos por sua cumplicidade com o regime anterior, mais porque, dez anos depois, implantaram ditadura ainda mais cruel do que a primeira. Estão, os militares, simplesmente expulsos da equação de recuperação do país, apesar de um louvável comportamento democrático adotado desde 1985. Mas continuam de quarentena, impossibilitados de participar do jogo por falta de confiança dos parceiros.
Os partidos políticos encontram-se tão mergulhados na sujeira a ponto de ser tidos como réus e não como patronos da causa libertária. Vale o mesmo para o Congresso, envolto na mesma trama. Muito menos os sindicatos, parte ativa na lambança que nos assola. Imaginar as igrejas desbastando o cipoal será ingenuidade, por conta dos conflitos que as dividem. O empresariado? Mas não partem dele as razões primárias das facilidades e até dos crimes que nos conduziram aos impasses atuais?
Pensar que a imprensa, por estar denunciando, seria capaz de corrigir? Jamais, por suas relações promíscuas com os objetos de suas denúncias. A intelectualidade, empenhada na elaboração de confusos diagnósticos desligados da realidade? Também não.
Há quem se volte para a derradeira instância que ainda sobrevive em meio à lambança a nos envolver: o Poder Judiciário. Mesmo contaminado por vícios comuns às demais instituições nacionais, é o que sobrou. A força de suas prerrogativas, se exercitadas com coragem e determinação, poderiam passar o país a limpo. Dos tribunais superiores até os juízes singulares, a Justiça detém a prerrogativa de ordenar a confusão. De interromper a queda para o desconhecido. Exatamente como a Força Expedicionária Brasileira contribuiu, lá fora, para a derrocada do fascismo aqui dentro, o Judiciário pode servir para interromper a corrupção que nos atinge.
O ARREPENDIMENTO MATA
Tivesse o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, limitado a última sexta-feira ao pronunciamento de prestação de contas do trabalho desenvolvido no primeiro semestre e permaneceria como objeto de elogios nacionais. Preferiu avançar e declarar guerra ao governo Dilma Rousseff. Arrebentou-se. Deveria saber que o seu partido, o PMDB, jamais abrirá mão das benesses do poder. Assim, ficou sozinho na aventura oposicionista. Vem aí o Sete de Setembro. Com que cara cumprimentará a presidente da República, no palanque?
21 de julho de 2015
Carlos Chagas
Nenhum comentário:
Postar um comentário