"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 21 de julho de 2015

À SOMBRA DAS CONFERÊNCIAS EM FLOR PARA A ODEBRECHT




O título está inspirado em obra de Marcel Proust e o texto na reportagem de Chico de Gois, Eduardo Bressiani e Francisco Leali, edição de ontem de O Globo. A matéria revela as ações desenvolvidas em diversos países pelo presidente Lula em favor da realização de obras da Odebrecht, várias das quais com financiamento do BNDES. Em sete viagens realizadas o ex-presidente da República foi acompanhado por Marcelo Odebrecht, presidente da empresa e em alguns casos pelo ex-ministro José Dirceu, um dos condenados no processo do mensalão.
As viagens foram realizadas em 2011, 2012, 2014, portanto ao longo do governo Dilma Rousseff, cujo silêncio diante dos fatos realçados inclusive pela diplomacia brasileira, endossou as articulações desenvolvidas. Os pagamentos a Lula foram realizados sob a forma de remuneração da empresa por palestras que ele realizou. Ora, é evidente que as conferências foram apenas um pretexto para o pagamento de intermediações as quais foram desenvolvidas com apoio do governo. Não fosse assim, na verdade não haveria palestras, porque qual o interesse da Odebrecht em que fossem feitas?
Aliás, penso eu, efetivamente nenhuma empresa se interessa pelo conteúdo exposto em qualquer palestra, seja de governante, ou de ex-governantes. As empresas se interessam, isso sim pela repercussão nos jornais dos eventos que patrocinam e que, portanto, destacam seus nomes e marcas. De outro lado, empresários não querem ouvir teorias e sim iluminar caminhos para alcançar seus objetivos de empreendedores. É natural tal comportamento. Por parte dos empresários. Mas não é nada natural a aceitação por parte dos que ontem ocuparam o poder e mantêm prestígio político e influência administrativa nos seus países.
REFLEXOS POLÍTICOS
Não me refiro apenas a Lula, mas também a outros ex-presidentes, como Fernando Henrique Cardoso e Bill Clinton. Este último, nos EUA, certamente agora receberá mais convites, pois sua mulher Hilary, disputa com chance de vitória, em 2016, a sucessão de Barack Obama. O caso de Lula é diferente do de FHC, porque as palestras deste são feitas em universidades, sob o patrocínio delas, e não de empresas diretamente interessadas em obras e financiamento. Seja como for, na grande maioria dos casos assistir palestras leva a uma sensação de sonolência. Mas esta é outra questão.
A reportagem de O Globo de ontem, domingo, produz reflexos políticos de peso. O maior deles a ampliação do isolamento da presidente Dilma Rousseff, que, se já podia contar pouco, agora não conta quase nada com um possível apoio de seu antecessor, personagem até de investigação promovida pela Procuradoria Geral da República do Distrito Federal. Investigação reforçada agora pelas manifestações das embaixadas do Brasil em Cuba em Portugal. Em Havana, inclusive o comunicado ao governo afirma que em sua chegada ao hotel Lula foi cumprimentado por José Dirceu e pelo empresário Marcelo Odebrecht. O primeiro cumpre prisão domiciliar, porém viajava para o exterior. O segundo encontra-se sob prisão preventiva por decisão do juiz Sérgio Moro. O caso de José Dirceu, inclusive conduz a um enigma. Como poderia ele viajar para o exterior, cumprindo pena em prisão domiciliar? Quem lhe forneceu passaporte?
BNDES É ÓRGÃO DE GOVERNO
Como se constata indiretamente, de todo esse quadro as restrições de comportamento ético não terminam apenas em Lula, que se revelou um político influente em favor da Odebrecht, apoiado em financiamento do BNDES. Estendem-se ao governo do país que não teve forças ou condições de divergir desse tipo de comportamento.
Por isso o processo de que Lula é alvo tem seu raio ampliado para a esfera do Palácio do Planalto. Torna-se, diante da evidência dos fatos, mais um fator negativo para a presidente Dilma Rousseff. Afinal de contas, o BNDES é um órgão do governo. E os empresários, no fundo das questões somente se mobilizam, no caso do Brasil em busca de apoio governamental. Seja por repercussão pública, seja através de ações nos bastidores. São muitos os bastidores no poder.

21 de julho de 2015
Pedro do Coutto

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