O euro foi introduzido em 12 países da Europa no dia 1º de janeiro de 2002. Hoje, 19 Estados europeus utilizam a moeda. Foram necessários dez anos para o planejamento da troca de marcos, francos, escudos, dracmas etc. pela moeda única.
O projeto foi capitaneado por Alemanha e França, os dois mais industrializados e exportadores da região. Aos alemães interessava ter vizinhos-compradores com moeda forte para se endividar e adquirir seus BMWs e demais produtos.
À França, o mesmo. De quebra, os franceses acabariam com a hegemonia que o marco alemão mantinha na região, onde reinava como a moeda mais forte e menos inflacionada.
NOVOS RICOS
Quem visitou países como Portugal, Grécia e mesmo Espanha antes do euro e esteve lá pouco antes da crise global de 2008 viu a diferença que faz uma moeda forte. A paisagem se transformou, com megaempreendimentos imobiliários, novas lojas e um “novo riquismo” aparente.
Entre a criação do euro e a Grande Recessão a partir de 2009 o mundo teve o maior período de crescimento do pós Segunda Guerra. Isso permitiu aos países então “periféricos” da Europa viverem como se não houvesse amanhã.
Houve um “boom” de endividamento, pois os governos podiam tomar empréstimos tendo como lastro o euro, a mesma moeda de Alemanha e França.
Uma das boas imagens para a crise financeira global de 2008 é a de uma maré que esvaziou rapidamente, até o tornozelo dos países-banhistas.
ENDIVIDADOS
O que se viu foram os “novos ricos” Grécia, Portugal, Irlanda e mesmo Espanha quase pelados, sem condições de honrar compromissos assumidos. Nesse ambiente, a rolagem dos débitos ficou cada vez mais cara, fazendo explodir o endividamento.
Com a crise instalada e a praia seca, a Alemanha deu início ao processo de obrigar os endividados a ajustar suas contas. A cortar aposentadorias, benefícios sociais e outros gastos considerados exagerados. O interesse inicial de vender para os “novos ricos” se converteu em colocá-los na linha para que não fosse necessário socorrê-los.
Enquanto países como Espanha, Portugal e Irlanda ainda lutam para apertar os cintos e reduzir o endividamento, o tempo parece ter se esgotado para a Grécia.
Há mais de dois anos o sistema bancário europeu acumula reservas para enfrentar um possível calote grego. A quebra não será uma tragédia do ponto de vista dos demais.
NÃO HÁ MAIS O QUE SACAR
Internamente, os gregos já sacaram tantos euros dos bancos com medo da saída do país da moeda única que o sistema talvez não aguente nem uma semana de saques individuais de 60 euros/dia.
Sem solução para o impasse e sem euros, a Grécia será obrigada a imprimir um papel (bônus, dracmas?) para pagar salários, aposentadorias e abastecer os bancos.
A Grécia produz basicamente bens agrícolas de baixo valor agregado, têxteis, algo de produtos metálicos e pouco de petróleo e gás. Importa três vezes mais produtos do que exporta.
Seus fornecedores continuarão abastecendo o país em troca de um papel que não é mais o euro? Quanto esse papel vai se desvalorizar logo de saída? Haverá uma megarrecessão com hiperinflação?
Pode ser um caos. E a Alemanha terá um grande “case” para mostrar o que acontece a quem não segue as suas regras.
09 de julho de 2015
Fernando Canzian
Folha
Folha
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