A presidente Dilma Rousseff foi à Rússia, mas deixou um rastilho de pólvora no Brasil. Ao chamar para si a discussão sobre se continuará ou não poder, agigantou a crise política que está matando a economia. No mercado financeiro, as declarações da petista à Folha de S.Paulo — “eu não vou cair” — só fizeram aumentar a desconfiança sobre os rumos da atual administração, que, neste momento, deveria estar fortalecida o suficiente para tocar um forte processo de ajuste fiscal e de combate à inflação por meio da alta de juros.
A imagem mais usada ontem pelos analistas para resumir a crise política foi a de que o Brasil se transformou em uma sala cheia de gás, um ambiente propenso a sérios acidentes. A pergunta que todos fazem é se, antes de as janelas serem abertas para limpar o ambiente, alguém acenderá a fagulha que levará tudo pelos ares. O clima de desconfiança se acentuou tanto que o risco de Dilma renunciar ou ser impedida de continuar no comando do país se tornou real. Deixou de ser especulação contida em relatórios confidenciais que circulam pelas mesas de operação de bancos.
Pelos cálculos de Christopher Garman, analista político da Eurasia Group, as chances de Dilma não terminar o mandato já são de 30%. Ele ressalta que, muito provavelmente, o governo sofrerá sérios revezes políticos nos próximos seis ou oito meses, prejudicando a arrumação das contas públicas prometidas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. No entender do especialista, a Operação Lava-Jato, que desbaratou a quadrilha que assaltava a Petrobras, é a maior ameaça ao mandato da petista.
RISCO BRASIL
A crise política que mina a cadeira presidencial fez com que o risco Brasil, medido pelo Credit Default Swap (CDS), espécie de seguro usado pelo investidores, voltasse a subir e descolasse de vez dos índices de países latinos que ostentam, como a economia brasileira, o selo de bom pagador (investment grade).
No entender dos donos do dinheiro que circula pelo mundo, mesmo pagando os maiores juros do planeta (13,75% ao ano), o Brasil está numa situação para lá de complicada, com a economia mergulhada numa severa recessão e a possibilidade de a presidente da República perder o mandato. Como bem ressalta o economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, maio e junho foram meses terríveis para o país e o terceiro trimestre começou sem sinais de estabilização. A piora vai continuar firme e forte.
A PRESSÃO AUMENTA
Nos dois dias em que ficou na Rússia, Dilma pôde respirar outros ares, tratar que temas bem mais agradáveis com os líderes da China, da Índia e África do Sul, países que, com o anfitrião do encontro e o Brasil, formam o Brics. Mas o movimento para lhe minar a caminhada na volta ao Palácio do Planalto está forte. A oposição mais organizada, a popularidade no chão, a base aliada esfacelada e a economia em frangalhos aumentarão a pressão sobre a sala de gás da qual pode vir o pior.
09 de julho de 2015
Vicente Nunes
Correio Braziliense
Correio Braziliense
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