Pode ter sido um voto emocional e apenas simbólico, mas o que simbolizou foi histórico. Votando “não” (“oxi”) num plebiscito que endossou a rebeldia do seu governo diante d0 capital financeiro da Europa os gregos foram os primeiros a desafiar, oficialmente, a ditadura da Austeridade, que há quase 8 anos - contados a partir da crise bancária de 2008 - martiriza populações inteiras sem mostrar nenhum resultado, a não ser aumentar o poder dos credores. Tudo em nome de uma “responsabilidade” fiscal amoral, que ignora o custo humano do arrocho.
O economista Paul Krugman, que tem sido o crítico mais constante da Austeridade, compara a sua receita para acabar com a crise com a dos médicos medievais cuja cura para qualquer doença era a sangria. Se a sangria não desse certo eles só tinham um recurso: mais sangria. Contra todas as evidências de que a Austeridade não está dando certo e só continua porque favorece os donos do dinheiro e, como um brinde aos neoliberais, desmonta, sob o disfarce da “responsabilidade”, as estruturas do bem-estar social da Europa que eram um exemplo para o mundo, dê-lhe sangrias.
O “oxi” não vai reverter esta situação e talvez a piore, dependendo da punição que vem aí para a má-criação grega. Mas o exemplo está dado. A única diferença entre a rebeldia grega e a inconformidade com o arrocho que tem enchido as ruas na Europa, até na Inglaterra, é que o “oxi” veio de uma consulta ao povo organizada pelo governo, enquanto os protestos em outros lugares são organizados, ou desorganizados, extraoficialmente. Nenhum país devedor se arriscaria a imitar a Grécia e só se pode especular sobre o resultado de um plebiscito parecido na Espanha, por exemplo. Lá o movimento chamado “Podemos” não quer outra coisa senão a oportunidade de também oxidar como os gregos.
O Brasil de Joaquim Levy adotou a sangria como tratamento. Sem consultar o paciente, a não ser que se considere a eleição da Dilma para seu segundo mandato como uma espécie de plebiscito. Neste caso, o resultado da consulta não foi respeitado. A maioria disse “oxi”, a Dilma ouviu “sim”. E chamou o Levy.
09 de julho de 2015
Luis Fernando Veríssimo
O economista Paul Krugman, que tem sido o crítico mais constante da Austeridade, compara a sua receita para acabar com a crise com a dos médicos medievais cuja cura para qualquer doença era a sangria. Se a sangria não desse certo eles só tinham um recurso: mais sangria. Contra todas as evidências de que a Austeridade não está dando certo e só continua porque favorece os donos do dinheiro e, como um brinde aos neoliberais, desmonta, sob o disfarce da “responsabilidade”, as estruturas do bem-estar social da Europa que eram um exemplo para o mundo, dê-lhe sangrias.
O “oxi” não vai reverter esta situação e talvez a piore, dependendo da punição que vem aí para a má-criação grega. Mas o exemplo está dado. A única diferença entre a rebeldia grega e a inconformidade com o arrocho que tem enchido as ruas na Europa, até na Inglaterra, é que o “oxi” veio de uma consulta ao povo organizada pelo governo, enquanto os protestos em outros lugares são organizados, ou desorganizados, extraoficialmente. Nenhum país devedor se arriscaria a imitar a Grécia e só se pode especular sobre o resultado de um plebiscito parecido na Espanha, por exemplo. Lá o movimento chamado “Podemos” não quer outra coisa senão a oportunidade de também oxidar como os gregos.
O Brasil de Joaquim Levy adotou a sangria como tratamento. Sem consultar o paciente, a não ser que se considere a eleição da Dilma para seu segundo mandato como uma espécie de plebiscito. Neste caso, o resultado da consulta não foi respeitado. A maioria disse “oxi”, a Dilma ouviu “sim”. E chamou o Levy.
09 de julho de 2015
Luis Fernando Veríssimo
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