"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 12 de julho de 2015

"PALAVRAS O VENTO LEVA"


Em política, palavra não tem lá muito valor: fala-se o que dá voto, raramente o que se pensa. Mas a linguagem dos sinais é precisa. Diz que a crise é brava.
1 – A senadora Gleisi Hoffmann, do PT paranaense, ex-ministra de Dilma (e esposa de ex-ministro), estava no Senado no dia 8, na hora da votação que elevou o reajuste dos aposentados. Dilma precisava derrotar o reajuste. Gleisi sumiu, não votou. Também não votaram governistas radicais que estavam lá, como Angela Portela, PT de Roraima, e Vanessa Grazziotin, PCdoB do Amazonas. Sandra Braga, do PMDB do Amazonas, é governista e mulher do ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga; cadê? Eunício Oliveira é líder do PMDB, maior partido da base aliada. Não votou. Peemedebistas bem atendidos pelo Governo, como Dario Berger, José Maranhão, Simone Tebet e Waldemir Moka, estavam no Senado, mas não na votação. Do PMDB, 11 senadores votaram, sete contra Dilma. Dois petistas, o gaúcho Paulo Paim e o baiano Walter Pinheiro, votaram contra o Governo. Zezé Perrela, governista do PDT mineiro, também.
2 – A CPI da Petrobras convocou para depor o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. A lista das convocações é de autoria do relator, Luiz Sérgio, PT.
Traduzindo a linguagem dos sinais: o apoio político a Dilma se esvaiu. Petista votando contra o PT? Ou fugindo da raia na hora de votar para não se comprometer? Peemedebista bem atendido mordendo a mão que o alimenta? Como diria o padre Quevedo, “esso non ekziste”.
Ou só existe quando a crise é terminal.
O escudo do guerreiroJosé Dirceu deixou o Governo, onde era “o capitão do time”, segundo o presidente Lula, para defender-se sem comprometer seu partido e os demais dirigentes. Foi julgado, condenado, preso, jamais falou contra Lula, ou algo que pudesse comprometê-lo. Houve um zum-zum de que se considerava abandonado, mas ninguém assumiu a responsabilidade pela divulgação do rumor. Pois bem: agora, no pedido de habeas-corpus preventivo ao TRF-4 – Tribunal Regional Federal, em Porto Alegre, os advogados de Dirceu atribuem a Lula o medo de virar vítima.
Textual: “Tamanho o receio que as pessoas se encontram, haja vista os métodos investigatórios ultimamente empregados pela Operação Lava Jato, que até mesmo o sr. ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, disse estar temeroso de que será, também, provavelmente, o próximo alvo da referida operação, não obstante sequer seja um dos investigados nos procedimentos”.
José Dirceu revelando um temor de Lula e usando-o em seu favor? Esso também non ekziste. Ou só existe quando a crise é muito, muito grave.
Delação…Luiz Sérgio, o relator da CPI da Petrobras, que convocou o ministro José Eduardo Cardozo a depor, criando problemas para o Governo, foi duas vezes ministro de Dilma: primeiro, na Secretaria das Relações Institucionais; depois, na Secretaria da Pesca. Nos dois casos, é mais lembrado por sua aparência, uma espécie de Aloízio Mercadante ainda com cabelo, e pelo apelido: Garçom. Só transmitia as reivindicações dos parlamentares e as enviava a quem de direito, sem poder para atendê-las. Mas é tão dilmista que o PT o tornou relator da CPI.
Fora convocar o ministro, Luiz Sérgio convocou também a advogada Beatriz Catta Preta, que se especializou em acordos de delação premiada. Pois não é que Luiz Sérgio teve quase metade dos custos de sua campanha bancados por doações de empresas envolvidas na Operação Lava Jato? E um delator premiado disse que boa parte das doações a partidos vinha de dinheiro de propina?
… só contra os outros
Tradução: é preciso botar um freio nas delações premiadas, atingindo a profissional que mais acordos alcançou na Lava Jato. Beatriz Catta Preta irá depor sobre “a origem dos recursos com que seus clientes têm custeado os respectivos honorários”. A tese: se soubessem que os recursos são ilícitos, os advogados estariam envolvidos em lavagem de dinheiro. Na prática, claro, é diferente: primeiro, porque os contatos entre clientes e advogados são sigilosos por lei; segundo, porque não cabe a profissionais terceirizados investigar se o dinheiro de seus honorários foi obtido licitamente ou não pelo cliente, como não cabe ao tintureiro investigar de onde foi tirado o dinheiro para pagar seus serviços. O objetivo é claro: tentar desmoralizar as delações atingindo os advogados.
É briga difícil, envolve a OAB, cria inimigos — e só se explica quando a crise é explosiva.
Acredite se quiser
Um dia, a presidente da República, voltando da Rússia, resolve dar uma paradinha em Portugal. Lá, por coincidência, está o presidente do Supremo Tribunal Federal. E os dois se encontram, veja só! Como disse o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, foi “um encontro casual”. E que seria desconhecido se não fosse o repórter Gérson Camarotti ter descoberto e publicado a notícia.
Os dois, enfim, se encontraram por acaso e aproveitaram para conversar sobre o aumento dos servidores do Judiciário. Há uma possibilidade de que o Supremo de Lewandowski tenha de julgar um pedido de impeachment contra Dilma, mas ninguém falou nisso. Reuniram-se em segredo, noutro país, por acaso.
Então, tá.

12 de julho de 2015
Carlos Brickmann

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