A confusão é tamanha entre os petistas e seus aliados que eles deram agora para comemorar crises internacionais como se elas confirmassem o que a presidente Dilma mais gosta de dizer, que os problemas brasileiros são causados pela má situação econômica e financeira do mundo.
Assim, a crise das bolsas da China, que vai repercutir em toda a economia global e principalmente nos países periféricos como o Brasil, está sendo quase que comemorada pelos estrategistas petistas, esquecendo-se de que se estamos nessa situação econômica delicada sem que os motivos externos fossem os verdadeiros culpados, agora que existem realmente esses problemas, a situação só tende a piorar.
Durou pouco também a comemoração dos que viram no “Não” do plebiscito grego uma rejeição ao programa de ajuste das contas públicas exigido pela União Européia. O Primeiro-Ministro grego Alexis Tsipras deu um golpe político nos radicais de seu próprio partido ( e nos torcedores de outros cantos do mundo, inclusive brasileiros) e, vencedor do plebiscito, mas sabedor que a vitória não lhe dava um mandato para sair da zona do euro, apresentou proposta muito semelhante aos termos que a Grécia rejeitara, e em alguns pontos mais dura ainda, na tentativa de conseguir um socorro financeiro de € 53,5 bilhões durante três anos e uma promessa de reestruturação da dívida.
Os petistas e quejandos comemoraram o resultado do plebiscito grego como se ele pudesse indicar que aqui também o povo deveria dizer não ao programa de ajuste fiscal da presidente Dilma, que o ministro da Fazenda Joaquim Levy tenta levar a bom termo. Lá como cá, no entanto, quem tem a responsabilidade de governar sabe que não pode brincar com o desequilíbrio fiscal, embora possa vencer eleições prometendo coisas que não serão cumpridas.
Aqui, Dilma venceu em 2014 vendendo um país que já não existia desde seu primeiro mandato, mas que o governo petista sustentou às custas de “pedaladas” fiscais e emissão de moeda que deu no que deu: inflação já na casa de 2 dígitos em algumas regiões, crescimento negativo, juros na estratosfera.
Na Grécia, o Syriza, partido vencedor das eleições, chegou ao poder depois de defender durante anos a rejeição ao programa de ajuste. Muitos nefelibatas políticos, ou simples populistas na Grécia e em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil, viram a vitória do “Não” como uma virada de mesa contra a União Européia, o que absolutamente não acontecerá.
O ajuste proposto pelo governo grego prevê corte de € 13 bilhões nos gastos públicos através de elevação de impostos, fim de benefícios tarifários para as ilhas gregas, reformas previdenciárias e privatizações, quando o plano anterior previa cortes de até € 8 bilhões. O superávit primário que tanta ojeriza causa aos nefelibatas petistas está lá presente no plano grego: 1% este ano; 2% em 2016; 3% em 2017 e, finalmente, 3,5% em 2018.
A China, cujos índices de ações recuaram mais de 30% nas últimas semanas, está conseguindo controlar sua crise às custas da força bruta que lhe confere o capitalismo de Estado. O impacto foi tão forte que autoridades chinesas proibiram a venda de ações por grandes investidores, como bancos e fundos de pensão, os mesmos que haviam recebido incentivos governamentais para gerar o que acabou sendo uma bolha.
Os que aqui no Brasil quase chegaram a comemorar a crise chinesa que vem ao encontro de uma tese antiga da presidente Dilma, esquecem que ela desborda para a economia real e nos atinge diretamente, e também aos BRICS, reduzindo os preços de commodities como o petróleo, desvalorizando nossas reservas, e prejudicando as exportações da Russia, e o minério de ferro, maior produto do comércio exterior do Brasil para a China, derrubando nossa balança comercial.
A situação é tão ridícula que, depois do “Não” grego, esses estrategistas que vivem em outra dimensão chegaram a pensar que a Grécia poderia se livrar da pressão de Ângela Merkel e da União Européia para ser ajudada pelos BRICS, cujo novo Banco de Desenvolvimento poderia dar o apoio que a Grécia não receberia dos organismos europeus e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Agora, vamos ter que lidar com uma crise verdadeira.
12 de julho de 2015
Merval Pereira
Assim, a crise das bolsas da China, que vai repercutir em toda a economia global e principalmente nos países periféricos como o Brasil, está sendo quase que comemorada pelos estrategistas petistas, esquecendo-se de que se estamos nessa situação econômica delicada sem que os motivos externos fossem os verdadeiros culpados, agora que existem realmente esses problemas, a situação só tende a piorar.
Durou pouco também a comemoração dos que viram no “Não” do plebiscito grego uma rejeição ao programa de ajuste das contas públicas exigido pela União Européia. O Primeiro-Ministro grego Alexis Tsipras deu um golpe político nos radicais de seu próprio partido ( e nos torcedores de outros cantos do mundo, inclusive brasileiros) e, vencedor do plebiscito, mas sabedor que a vitória não lhe dava um mandato para sair da zona do euro, apresentou proposta muito semelhante aos termos que a Grécia rejeitara, e em alguns pontos mais dura ainda, na tentativa de conseguir um socorro financeiro de € 53,5 bilhões durante três anos e uma promessa de reestruturação da dívida.
Os petistas e quejandos comemoraram o resultado do plebiscito grego como se ele pudesse indicar que aqui também o povo deveria dizer não ao programa de ajuste fiscal da presidente Dilma, que o ministro da Fazenda Joaquim Levy tenta levar a bom termo. Lá como cá, no entanto, quem tem a responsabilidade de governar sabe que não pode brincar com o desequilíbrio fiscal, embora possa vencer eleições prometendo coisas que não serão cumpridas.
Aqui, Dilma venceu em 2014 vendendo um país que já não existia desde seu primeiro mandato, mas que o governo petista sustentou às custas de “pedaladas” fiscais e emissão de moeda que deu no que deu: inflação já na casa de 2 dígitos em algumas regiões, crescimento negativo, juros na estratosfera.
Na Grécia, o Syriza, partido vencedor das eleições, chegou ao poder depois de defender durante anos a rejeição ao programa de ajuste. Muitos nefelibatas políticos, ou simples populistas na Grécia e em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil, viram a vitória do “Não” como uma virada de mesa contra a União Européia, o que absolutamente não acontecerá.
O ajuste proposto pelo governo grego prevê corte de € 13 bilhões nos gastos públicos através de elevação de impostos, fim de benefícios tarifários para as ilhas gregas, reformas previdenciárias e privatizações, quando o plano anterior previa cortes de até € 8 bilhões. O superávit primário que tanta ojeriza causa aos nefelibatas petistas está lá presente no plano grego: 1% este ano; 2% em 2016; 3% em 2017 e, finalmente, 3,5% em 2018.
A China, cujos índices de ações recuaram mais de 30% nas últimas semanas, está conseguindo controlar sua crise às custas da força bruta que lhe confere o capitalismo de Estado. O impacto foi tão forte que autoridades chinesas proibiram a venda de ações por grandes investidores, como bancos e fundos de pensão, os mesmos que haviam recebido incentivos governamentais para gerar o que acabou sendo uma bolha.
Os que aqui no Brasil quase chegaram a comemorar a crise chinesa que vem ao encontro de uma tese antiga da presidente Dilma, esquecem que ela desborda para a economia real e nos atinge diretamente, e também aos BRICS, reduzindo os preços de commodities como o petróleo, desvalorizando nossas reservas, e prejudicando as exportações da Russia, e o minério de ferro, maior produto do comércio exterior do Brasil para a China, derrubando nossa balança comercial.
A situação é tão ridícula que, depois do “Não” grego, esses estrategistas que vivem em outra dimensão chegaram a pensar que a Grécia poderia se livrar da pressão de Ângela Merkel e da União Européia para ser ajudada pelos BRICS, cujo novo Banco de Desenvolvimento poderia dar o apoio que a Grécia não receberia dos organismos europeus e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Agora, vamos ter que lidar com uma crise verdadeira.
12 de julho de 2015
Merval Pereira
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