O Brasil tornou-se um país de classe média, certo? Certo se você acredita na propaganda oficial e em algumas medições privadas que corroboram essa visão.
Errado, no entanto, segundo trabalho comparativo sobre a classe média mundial divulgado na quarta-feira (8) pelo Pew Research Center, referência global.
O estudo traz uma ótima notícia, em termos mundiais: 700 milhões de pessoas saíram da pobreza entre 2001 e 2011 (último ano para o qual há dados comparáveis).
Equivale a três "brasis" e meio deixando a pobreza (definida, como é da praxe internacional, como renda de até US$ 2 por dia ou R$ 6,44).
No Brasil também houve notável progresso, mas a maioria da população ainda é ou pobre ou de baixa renda (US$ 2 a US$ 10).
São 50,9% nesse patamar triste, divididos entre 7,3% de pobres e 43,6% de baixa renda.
Na classe média (US$ 10 a US$ 20), estavam, em 2011, apenas 27,8% dos brasileiros, de todo modo um auspicioso crescimento de 10,3 pontos percentuais em relação a 2001.
Como os anos mais recentes, não cobertos pelo estudo, foram de crescimento econômico relativamente reduzido ou quase zero, como em 2014, parece razoável deduzir que a classe média não deve ter engrossado muito desde 2011.
Houve, sim, alentador avanço, já que, na primeira década do novo século, caiu o número de pobres (8,7 pontos percentuais) e o de pessoas de baixa renda (8,5 pontos).
Mas são números que podem confortar apenas os governantes de turno, sejam quais forem, e seus áulicos.
Para quem quer mais, comparar os números do Brasil com o de outros países só traz tristeza.
Primeira comparação: com a Espanha, país desenvolvido que talvez seja mais compatível com o Brasil, seja pela história recente (longa ditadura seguida de democracia estável), seja pelo tamanho da economia.
Na Espanha, há quase tantas pessoas de renda média alta (49,5%) quanto os pobres e de baixa renda no Brasil somados (50,9%).
No Brasil, os de renda média alta (US$ 20 a US$ 50) são apenas 15,9% e os efetivamente ricos (mais de US$ 50) não passam de 5,4%.
Na Espanha, os ricos são 27,3%, cinco vezes mais que no Brasil.
Mesmo na comparação com a hoje depreciada Grécia, o Brasil faz feio: os pobres e de renda baixa na Grécia não passam, somados, de 5% (atenção, os dados são de 2011, quando apenas começava o "austericídio" que devastou o país).
No Brasil, repito, dez vezes mais.
Se se quiser comparar com a vizinhança, escolha-se o Chile, bem menor e menos dotado de recursos naturais.
Não obstante, sua classe média (33,8% da população) supera em cinco pontos percentuais a do Brasil. A soma de renda média e média alta dá 55,8%, bem mais que os 43,7% do Brasil.
Todos os cálculos levam em conta a paridade do poder de compra, ou seja, a adaptação do dólar ao que ele pode comprar em cada país.
Tudo somado, tem-se que a crise brasileira não vai incidir em um país de classe média, portanto com certa gordura para queimar, mas em um país pobre, muito pobre.
12 de julho de 2015
Clóvis Rossi
Errado, no entanto, segundo trabalho comparativo sobre a classe média mundial divulgado na quarta-feira (8) pelo Pew Research Center, referência global.
O estudo traz uma ótima notícia, em termos mundiais: 700 milhões de pessoas saíram da pobreza entre 2001 e 2011 (último ano para o qual há dados comparáveis).
Equivale a três "brasis" e meio deixando a pobreza (definida, como é da praxe internacional, como renda de até US$ 2 por dia ou R$ 6,44).
No Brasil também houve notável progresso, mas a maioria da população ainda é ou pobre ou de baixa renda (US$ 2 a US$ 10).
São 50,9% nesse patamar triste, divididos entre 7,3% de pobres e 43,6% de baixa renda.
Na classe média (US$ 10 a US$ 20), estavam, em 2011, apenas 27,8% dos brasileiros, de todo modo um auspicioso crescimento de 10,3 pontos percentuais em relação a 2001.
Como os anos mais recentes, não cobertos pelo estudo, foram de crescimento econômico relativamente reduzido ou quase zero, como em 2014, parece razoável deduzir que a classe média não deve ter engrossado muito desde 2011.
Houve, sim, alentador avanço, já que, na primeira década do novo século, caiu o número de pobres (8,7 pontos percentuais) e o de pessoas de baixa renda (8,5 pontos).
Mas são números que podem confortar apenas os governantes de turno, sejam quais forem, e seus áulicos.
Para quem quer mais, comparar os números do Brasil com o de outros países só traz tristeza.
Primeira comparação: com a Espanha, país desenvolvido que talvez seja mais compatível com o Brasil, seja pela história recente (longa ditadura seguida de democracia estável), seja pelo tamanho da economia.
Na Espanha, há quase tantas pessoas de renda média alta (49,5%) quanto os pobres e de baixa renda no Brasil somados (50,9%).
No Brasil, os de renda média alta (US$ 20 a US$ 50) são apenas 15,9% e os efetivamente ricos (mais de US$ 50) não passam de 5,4%.
Na Espanha, os ricos são 27,3%, cinco vezes mais que no Brasil.
Mesmo na comparação com a hoje depreciada Grécia, o Brasil faz feio: os pobres e de renda baixa na Grécia não passam, somados, de 5% (atenção, os dados são de 2011, quando apenas começava o "austericídio" que devastou o país).
No Brasil, repito, dez vezes mais.
Se se quiser comparar com a vizinhança, escolha-se o Chile, bem menor e menos dotado de recursos naturais.
Não obstante, sua classe média (33,8% da população) supera em cinco pontos percentuais a do Brasil. A soma de renda média e média alta dá 55,8%, bem mais que os 43,7% do Brasil.
Todos os cálculos levam em conta a paridade do poder de compra, ou seja, a adaptação do dólar ao que ele pode comprar em cada país.
Tudo somado, tem-se que a crise brasileira não vai incidir em um país de classe média, portanto com certa gordura para queimar, mas em um país pobre, muito pobre.
12 de julho de 2015
Clóvis Rossi
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