Na sua ânsia de tentar mudar a face da igreja católica, colocando-a a serviço dos mais necessitados, criticando o consumismo, como expresso na sua encíclica Laudato si, e demonstrando simplicidade e despojamento por todos o países que visita mundo afora, o Papa Francisco é obrigado a ouvir resignado a observação do cocaleiro Evo Morales, através da qual este declara sentir-se feliz e esperançoso ao receber Sua Santidade depois de "momentos na História em que a Igreja foi obrigada a subjugar e oprimir ", referindo-se àqueles mesmos acontecimentos pelos quais o Papa recorrentemente se desculpa, numa especie de "meu passado me condena".
Mas nada se compara à surpresa estampada em seu semblante quando foi presenteado por Evo, que na ocasião exibia um certo sorriso maroto, com um estranho e assimétrico crucifixo com a desnecessária forma da foice e do martelo, simbolo do comunismo.
"Isso não está certo"(sic).
Assim reagiu o Papa Francisco, segundo tradução divulgada pela provedora de notícias relacionadas ao catolicismo, Catholic News Agency (CNA), ao desconforto gerado pelo inusitado presente, embora não se tenha esquivado de recebê-lo.
Não há dúvida que, com esta polêmica oferenda, o presidente boliviano roubou a cena e esvaziou a importância da visita do sumo pontífice, mudando o foco do evento principal para uma pirueta política da qual foi o maior beneficiário, no contexto de uma disputa conflituosa entre seu governo e as autoridades eclesiásticas de seu país que teve seu auge mais ou menos na metade da última década.
Isso está certo, Sr . Evo?
12 de julho de 2015
Paulo Roberto Gotaç
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