Na Europa, falar em Troika quer dizer Banco Central Europeu, Comissão Europeia e FMI. E, é claro, a palavra vem sempre acompanhada da decisão de governos locais para impor às populações de países diversos uma pesada agenda de ajuste fiscal. Alguém até me disse que Angela Merkel, chanceler alemã, sem usar armas, estaria conseguindo fazer na Europa o que Hitler não lograra obter à custa da guerra e do holocausto.
No domingo que passou, ainda não eram 17h quando emissoras de TV começaram a divulgar que Angela iria encontrar-se no dia seguinte com François Hollande, o inoperante presidente francês. Fiquei certa de que os gregos haviam feito o que ninguém até agora conseguira: nas urnas, em memorável referendo (que para eles tem significado distinto do que aqui quer dizer o instituto), estavam rejeitando os termos das novas medidas de austeridade exigidas pela Troika. Vitória dos jovens de Syriza. Quase um milagre. Pouco depois, urnas apuradas, um sonoro “não” ao que ainda se pretendia: mais arrocho salarial, menores aposentadorias, desemprego, enfim, todo o cortejo de agruras pelas quais passa um povo quando submetido a um ajuste fiscal. (Nome bonito para tão pesado ônus, concordam?!)
Minha cabeça rodou. Fui parar na oração de Péricles na batalha do Peloponeso, saudando as virtudes do povo ateniense. Revi tudo quanto essa civilização legou ao Ocidente, na construção – ou tentativa de construção – daquilo que mais de 20 séculos depois ainda buscamos atingir: a democracia. A felicidade da sociedade. O bem comum. O bem-estar dos cidadãos. A vida boa num Estado.
OLIMPÍADA FATAL
Depois, lembrei-me do desconforto de um guia turístico em 2007, tentando fazer entender a visitantes o que estava se passando na Grécia: a ele, parecia que gastos inúteis ou injustificáveis com as Olimpíadas de 2004 haviam deixado como legado estádios ociosos, verdadeiros elefantes brancos, erigidos por imposição do Comitê Olímpico Internacional. (Qualquer semelhança com certo país em que vivo é mera coincidência…)
No ano seguinte, 2008, começaram a crise financeira e a ciranda de cortes nos gastos públicos. O país ainda deve mais que a soma daquela época depois de um corte salarial de mais de 38%, de 40% a menos nas aposentadorias, do recorde de mais de 50% de desemprego entre os jovens. De nada adiantaram as exigências de aperto nos cintos.
Seriam os gregos uns perdulários? Ciente da história, sempre imaginei que, se a Alemanha e a Inglaterra, apenas os dois países, pagassem o que tiraram em arte e cultura de lá, o país seria certamente credor. Conheço o Pérgamo em Berlim. Conheço o Museu Britânico. Sei dos saques em túmulos e templos de antigos deuses. Estive em Delphos e maravilhei-me vendo o templo de Apolo, tendo a meus pés a gruta da pitonisa e acima da cabeça as ruínas de um antigo estádio olímpico.
Não sei o que vai acontecer com a Grécia. Sei que a esperança renasce também em Portugal, Espanha e tantos outros países.
Que os deuses abençoem o que no domingo fizeram os gregos. E os cumulem de graças.
12 de julho de 2015
Sandra Starling
O Tempo
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