"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 31 de julho de 2015

OS "YES, BWANA!" E OS "HAI, BWANASAN!" DO FINANCIAL TIMES



Financial Times foi vendido ao grupo japonês Nikkei
A imprensa brasileira destacou amplamente na semana passada o “duro” editorial da última quinta-feira do jornal inglês Financial Times sobre a crise política e econômica no Brasil. Com o título “Recessão e politicagem: a crescente podridão no Brasil”, o texto conclui que a “incompetência, arrogância e corrupção abalaram a magia” do nosso país.
Assim como há quem se pergunte, nos moldes da sabedoria popular, de que se riem as hienas, seria o caso de se perguntar de que estava falando o Financial Times, quando chamou o Brasil de “um filme de terror sem fim”, em seu editorial, prontamente reproduzido e incensado, com estardalhaço, por uma multidão de “Yes, Bwana!” nativos, prostrados – como os antigos criados negros na frente de seus mestres estrangeiros nos filmes de Tarzan – diante do trovejar do Grande Totem Branco do Reino Unido de Sua Majestade Elizabeth, quando ele se digna a contemplar com sua atenção este “pobre” e “subdesenvolvido” país.
Diante de tão poderoso édito e tão diligentes arautos, não há, no entanto, como deixar, também, de se perguntar:Afinal, na economia, de que estava falando – ou rindo, como hiena – o Financial Times? Se a Inglaterra, com uma economia do mesmo tamanho da nossa, tem uma dívida externa 20 vezes maior que a do Brasil, de 430% contra menos de 25% do PIB? Se as reservas internacionais britânicas são, também segundo o Banco Mundial, quase quatro vezes menores (107 bilhões contra 370 bilhões de dólares) que as do Brasil? Se o déficit inglês no ano passado, foi de 5,5%, o maior desde que os registros começaram em 1948, e a renda per capita ainda está 1.2% abaixo da que era no início de 2008, antes da eclosão da Crise da Subprime?
E A CORRUPÇÃO?
Quanto à corrupção, também seria o caso de se perguntar: de que estava falando – ou rindo, como uma hiena – o Financial Times? Se a Inglaterra é tão corrupta, que deputados falsificam notas para receber ressarcimento e aplicam a verba de gabinete até para a assinatura de canais pornográficos? Se a Inglaterra é tão corrupta, que o político conservador e ex-presidente do Comitê de Inteligência do Parlamento Malcolm Rifkind, que trabalhou por mais de uma década nos gabinetes da famigerada Margaret Tthatcher e do ex-primeiro-ministro John Major, e o político trabalhista Jack Straw, ex-secretário de Justiça, Ministro do Interior, Ministro de Relações Exteriores e ex-líder da Câmara dos Comuns, caíram em uma arapuca criada por um jornal e um canal de televisão, no início deste ano, e foram filmados sendo contratados para vender serviços de “consultoria” para pressionar embaixadores britânicos e líderes de pequenos países europeus para favorecer os negócios de uma empresa chinesa (fictícia), por quantias que variavam de 5.000 a 8.000 libras por dia?
Se em 2010, o mesmo tipo de reportagem, feita também pelo Channel 4, revelou que deputados e lordes britânicos, como os ex-ministros trabalhistas Stephen Byers, a ex-secretária (ministra) de Transportes, Governo Local e das Regiões, Patricia Hewitt o ex-secretário (m inistro) de Saúde, Geoff Hoon, e o ex-secretário (ministro) dos Transportes e ex-secretário (ministro) da Defesa Richard Caborn estavam dispostos a fazer lobby em favor de empresas privadas em troca de grandes somas de dinheiro, em um esquema que foi totalmente convenientemente blindado pelo governo do primeiro-ministro Gordon Brown?
Se, dois anos mais tarde, em maio de 2012, foram revelados que teriam sido oferecidos pelo tesoureiro do Partido Conservador, Peter Cruddas, jantares “íntimos” com o Primeiro-Ministro David Cameron – que está atualmente no poder – pela módica quantia de 250.000 libras, quase um milhão de reais, em “doação” para seu partido, e o gabinete do Primeiro-Ministro se recusou a revelar qualquer detalhe sobre esses jantares, nome dos “convidados” etc., alegando que eles eram “privados”?
E SE FOSSE O LULA?
Já imaginaram se fosse o Lula no lugar do Cameron? O que não iria dizer do Brasil o Financial Times em seus editoriais? Finalmente, quanto à questão política, de que fala, como uma hiena – o Financial Times, com relação à popularidade da presidente Dilma Roussef, se a desaprovação do primeiro-ministro James Cameron, segundo a empresa de monitoramento de redes sociais Talkwalker, subiu de 25% para 65%, e o número de cidadãos que o aprova caiu de 9 para 7 % nos últimos meses?
Não seria o caso – se nos preocupássemos com eles da mesma maneira que eles insistem em se meter em nossos assuntos – de escrever um editorial sobre a “permanente podridão da Grã Bretanha”? É por isso, por sua mania de dar lições aos outros, que os ingleses acabam tomando as suas. Quando a empáfia é muita, ela incomoda os deuses, e o castigo vem a cavalo. Na mesma quinta-feira passada, do seu arrogante editorial sobre a situação brasileira, em suave vingança poética, depois de 153 anos servindo de escudo e biombo para a hipocrisia de um império decadente, erguido por corsários, bandidos e traficantes de drogas – vide a Guerra do Ópio – o Grupo Financial Times – por incompetência e risco de quebra – incluído o próprio jornal e todas as suas outras publicações – foi vendido para o grupo japonês Nikkei.Inc, por 1,3 bilhões de dólares.
SOL NASCENTE
A partir de agora, os jornalistas, editores e “analistas” do FT, famosos pela visão colonialista que tem do resto do mundo, vão ter que se acostumar – os que sobrarem, depois das demissões – a trabalhar, debaixo de chibata – em sentido figurado, mas não menos doloroso – para o Império do Sol Nascente, como os figurantes do clássico filme de guerra a Ponte do Rio Kwai, e a pronunciar “Hai, Bwana-San!”, para seus novos donos nipônicos, expressão que deveria ser aprendida, por osmose – para que possam reconhecer quem são, a partir de agora, seus novos mestres – pelos “Yes, Bwana!” – nacionais.

31 de julho de 2015
Mauro Santayana
(Jornal do Brasil)

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