Famoso pelo estilo exaltado com que narra perseguições policiais no programa "Brasil Urgente", da Rede Bandeirantes, o apresentador José Luiz Datena decidiu se filiar ao PP para disputar a Prefeitura de São Paulo em 2016.
Embora seja cedo para especular sobre seu potencial eleitoral, já se pode afirmar que sua disposição para entrar no páreo constitui novo sintoma da crise de representatividade da política brasileira. A decepção difusa com personagens e partidos tradicionais parece abrir espaços cada vez mais generosos para candidaturas exóticas.
Não por acaso, o também apresentador Celso Russomanno (PRB) liderou as pesquisas de intenção de voto na capital paulista em 2012 até se ver abatido por uma declaração infeliz. Tendo sido o deputado federal mais votado do país no ano passado, no entanto, deve voltar com força à corrida paulistana.
Enquanto os antipolíticos sobem nas bolsas de apostas, as principais agremiações patinam.
Apesar de ter vencido três pleitos majoritários na metrópole, o PT enfrenta dificuldades conhecidas –a começar da necessidade de seduzir uma classe média tanto predisposta a apoiar figuras conservadoras quanto refratária ao petismo.
Os paulistanos se inclinaram para o PT apenas em casos excepcionais: Luiza Erundina venceu em 1988 sem maioria, devido à divisão do eleitorado de centro; o colapso da gestão Celso Pitta permitiu a vitória de Marta Suplicy em 2000; e, por fim, o desgaste de Gilberto Kassab minou a candidatura de José Serra em 2012.
Nada faz supor que o prefeito Fernando Haddad (PT) estará apto a mudar esse histórico: sua gestão é mal avaliada, sua legenda ostenta índices recordes de rejeição, sua aliança com o PMDB não está garantida e os redutos petistas devem ser em parte conquistados pela ex-prefeita e senadora Marta Suplicy (hoje sem partido).
A situação do PSDB, contudo, tampouco é animadora. Se a sigla parece não ter sofrido sério desgaste com a crise de fornecimento de água, por ora não apresentou um nome competitivo para a disputa.
Em condições normais, esse cenário já seria ruim para os tucanos; a presença de dois postulantes populares e conservadores batalhando pelos mesmos eleitores só agrava o quadro. O que impede a legenda de nem chegar ao segundo turno, como em 1996, 2000, 2008?
Nem perto de ser o mais provável, mas não chega a ser impossível, como se vê, que a fragmentação leve o paulistano a precisar escolher, na segunda rodada de votação, entre Datena e Russomanno.
A crise alimenta manifestações contra o sistema político, do voto de protesto à defesa de golpes militares. Nesse pântano vicejam supostos salvadores da pátria; alheios às estruturas partidárias, pretendem conduzir o povo errante à terra prometida. Tomara que São Paulo não se transforme num deserto.
31 de julho de 2015
Folha de SP
Embora seja cedo para especular sobre seu potencial eleitoral, já se pode afirmar que sua disposição para entrar no páreo constitui novo sintoma da crise de representatividade da política brasileira. A decepção difusa com personagens e partidos tradicionais parece abrir espaços cada vez mais generosos para candidaturas exóticas.
Não por acaso, o também apresentador Celso Russomanno (PRB) liderou as pesquisas de intenção de voto na capital paulista em 2012 até se ver abatido por uma declaração infeliz. Tendo sido o deputado federal mais votado do país no ano passado, no entanto, deve voltar com força à corrida paulistana.
Enquanto os antipolíticos sobem nas bolsas de apostas, as principais agremiações patinam.
Apesar de ter vencido três pleitos majoritários na metrópole, o PT enfrenta dificuldades conhecidas –a começar da necessidade de seduzir uma classe média tanto predisposta a apoiar figuras conservadoras quanto refratária ao petismo.
Os paulistanos se inclinaram para o PT apenas em casos excepcionais: Luiza Erundina venceu em 1988 sem maioria, devido à divisão do eleitorado de centro; o colapso da gestão Celso Pitta permitiu a vitória de Marta Suplicy em 2000; e, por fim, o desgaste de Gilberto Kassab minou a candidatura de José Serra em 2012.
Nada faz supor que o prefeito Fernando Haddad (PT) estará apto a mudar esse histórico: sua gestão é mal avaliada, sua legenda ostenta índices recordes de rejeição, sua aliança com o PMDB não está garantida e os redutos petistas devem ser em parte conquistados pela ex-prefeita e senadora Marta Suplicy (hoje sem partido).
A situação do PSDB, contudo, tampouco é animadora. Se a sigla parece não ter sofrido sério desgaste com a crise de fornecimento de água, por ora não apresentou um nome competitivo para a disputa.
Em condições normais, esse cenário já seria ruim para os tucanos; a presença de dois postulantes populares e conservadores batalhando pelos mesmos eleitores só agrava o quadro. O que impede a legenda de nem chegar ao segundo turno, como em 1996, 2000, 2008?
Nem perto de ser o mais provável, mas não chega a ser impossível, como se vê, que a fragmentação leve o paulistano a precisar escolher, na segunda rodada de votação, entre Datena e Russomanno.
A crise alimenta manifestações contra o sistema político, do voto de protesto à defesa de golpes militares. Nesse pântano vicejam supostos salvadores da pátria; alheios às estruturas partidárias, pretendem conduzir o povo errante à terra prometida. Tomara que São Paulo não se transforme num deserto.
31 de julho de 2015
Folha de SP
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