Quem chega primeiro a 5: o litro de gasolina, o dólar, o número de ministros que aguentam ficar no Governo ou a popularidade da presidente Dilma?
A ideia de ter até 2018 uma presidente cuja base política se esfacelou (e que perde uma votação importante no Senado por 62×0, com os votos de seu próprio partido) desagrada muita gente. O PSDB está pedindo a renúncia de Dilma; e um militante esquerdista como Celso Lungaretti, que lutou na guerrilha e hoje escreve blogs anticapitalistas, diz que, se o PT não estivesse tão aferrado ao poder pelo poder, seria a hora de pensar seriamente na renúncia da presidente.
O Ibope é terrível para Dilma: índice de aprovação, 9% – maior apenas que o de Sarney no finalzinho de seu Governo, quando nenhum candidato à sucessão aceitou seu apoio; índice de reprovação do Governo, 68%; a maneira de governar da presidente é rejeitada por 83%.
E esses números são confirmados pelas estranhas atitudes de profissionais de área pública que, de repente, estão loucos para abandonar os cargos pelos quais tanto lutaram. Michel Temer ameaça deixar a coordenação institucional do Governo, José Eduardo Cardozo se diz cansado de ser ministro, Eduardo Cunha quer que o PMDB rompa com Dilma. Quem conhece, sabe: o PMDB largar cargos promissores é coisa que não existe. Esse tipo de político só larga posição de poder quando poder já não há.
Perspectivas de recuperação? Nada é impossível. Mas a mesma pesquisa mostra que, para 61% do eleitorado, os próximos anos do Governo Dilma serão ruins ou péssimos. Apenas 11% veem perspectiva de melhora.
Feliz 2019!
E, já que a gata não tem sequer quem lhe faça um gesto de carinho, os ratos dispensaram os pudores e saqueiam a despensa. Enquanto o Governo defende um ajuste fiscal (que, embora tímido, é essencial para que o país não seja rebaixado como receptor de investimentos), institucionaliza-se a festa do caqui.
Os 55 vereadores de São Paulo (por que tantos?) aprovaram a contratação de 660 novos assessores. Cada vereador tinha 18 assessores – um time de futebol, mais reservas. Agora, serão 30. Custo: R$ 130 mil mensais por vereador, mais obrigações trabalhistas, vale-transporte, vale-refeição, plano de saúde.
E toda essa tropa está dispensada de trabalhar na Câmara. Podem ficar nos escritórios políticos de Suas Excelências – o que é ótimo, porque nos gabinetes não caberiam mesmo. Mas não os chame de cabos eleitorais, que eles não gostam. Assessor é mais chique.
Talvez vereadores não tenham tanta noção de problemas nacionais, embora devessem ter. E ministros do Supremo Tribunal Federal? Pois saiu do Supremo a proposta de reajustar o salário dos servidores do Judiciário entre 53% e 78%, ao custo de R$ 25,7 bilhões até 2018, e de R$ 10,5 bilhões ao ano daí em diante.
Não há ajuste fiscal que dê jeito. A proposta foi encaminhada pelo presidente do Supremo, ministro Ricardo Lewandowski.
O Governo bem que tentou negociar, o presidente do Senado, Renan Calheiros, disse que concordou com a negociação, o presidente do Supremo também disse que negociaria, os representantes dos servidores prometeram negociar.
Mas Dilma foi viajar. Seus ministros são o que se sabe: ninguém se mexeu.
O projeto andou. Se o presidente do Supremo pedisse a Renan Calheiros o adiamento da votação, Renan concordaria. Mas Lewandowski não fez o pedido. E o Senado aprovou o reajuste – que arrebenta as finanças do país – por 62×0. O PT votou a favor. O PSDB, que adoraria chegar ao poder e, portanto, é candidato a herdar o rombo, votou a favor. Mais importante do que o país foi a possibilidade de enfraquecer ainda mais a presidente.
Dilma diz que vai vetar a proposta. E tem grande chance de perder de novo.
Lembra do juiz Nicolau dos Santos Neto, condenado a 26 anos de prisão por desvio de verbas, estelionato e irregularidades na construção do Fórum Trabalhista de São Paulo? Pois bem: Nicolau foi indultado no Natal de 2012, como todos os presos de mais de 70 anos que tivessem cumprido um quarto da pena.
Mas não ficou inteiramente satisfeito: pediu agora para reaver sua aposentadoria (cassada após a condenação) e os bens confiscados para cobrir os prejuízos que havia provocado.
O Ministério Público já se manifestou contra o pedido, mas o processo está rolando. É preciso manter-se alerta para não ser surpreendido.
O delegado Igor Romário de Paulo, da Polícia Federal, um dos coordenadores do trabalho da Operação Lava-Jato, desmentiu que o prejuízo da Petrobras com a roubalheira seja, ao contrário do que se divulgou, de R$ 6 bilhões. Nada disso.
De acordo com o delegado Igor Romário de Paulo, as evidências encontradas pela Polícia Federal apontam para um prejuízo de R$ 19 bilhões com os desvios. O percentual da ladroeira estaria longe dos 3%: ficaria entre 15 e 20%.
Esta coluna se iniciou com um enigma e termina com outro. Aloizio Mercadante é pior como inimigo ou como amigo?
06 de julho de 2015
Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados
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