A jornalista Miriam Leitão escreveu um importante artigo hoje em defesa da democracia, constatando ameaças concretas a ela em nosso país. Reconhece que “há líderes que degradam a democracia, a enfraquecem ou com o comportamento desviante ou porque não são democratas, mas apenas se aproveitam dela”.
Em seguida, cita os exemplos de nossos vizinhos bolivarianos, que perderam a democracia parcial ou completamente, aos poucos, vendo-a ser corroída de dentro. Hayek, em O Caminho da Servidão, coloca na epígrafe frase de David Hume que resume bem isso, a história do sapo escaldado que acaba esturricado devagar: “Raramente se perde a liberdade de uma só vez”. Acrescenta a jornalista:
Foi esse o processo que enfraqueceu as bases democráticas de alguns vizinhos nossos. As eleições ficam viciadas, as instituições fingem que funcionam, mas a democracia vai perdendo sua essência. É isso que aconteceu na região e não estamos livres que aconteça aqui. O Brasil tem demonstrado ter instituições mais fortes. Mas não é uma fortaleza inexpugnável. Também nós temos que trabalhar para proteger nosso patrimônio. Melhor evitar o que aconteceu com Venezuela, Equador, Bolívia, Argentina. Em graus diferentes, a democracia deles foi perdendo qualidade, e em alguns países já nem merecem ser definidas com esse nome. E o ataque é sempre da mesma forma: tudo começa a morrer quando se mata o contraditório. A imprensa livre é um dos mais poderosos antídotos contra os excessos dos governantes. E é sempre o primeiro alvo.
Tiro meu chapéu. Como discordar? Basta ter olhos para enxergar. Basta conhecer a trajetória do PT para saber que ele flerta com esses modelos autoritários. Basta escutar o discurso do próprio Lula ou da Dilma. Mas Miriam nunca foi tão enfática ao constatar isso. E falo dela aqui para falar da classe jornalística em geral, com raras e honrosas exceções.
Onde estava Miriam quando o PT já dava todos os sinais de desejar essa destruição de nossa democracia de dentro? Estava adotando uma postura acovardada de “neutralidade”. Até mesmo para atacar os “petralhas”, os cães raivosos da militância paga do partido, teve que citar indiretamente Reinaldo Azevedo e eu em uma coluna, para combater “o radicalismo de ambos os lados”. Como é?
Miriam acha mesmo que o lado de cá faria algo parecido com o que o PT vem fazendo? Miriam acha que os conservadores de boa estirpe e os liberais são intolerantes e antidemocráticos como os petistas? Miriam acha que é “radicalismo” enfrentar um adversário com esse perfil autoritário com firmeza, sem contemporizar? Ela conclui:
Uma eleição pode ser uma grande festa da democracia, ou pode criar fendas no país difíceis de serem fechadas. Na Venezuela foram feitas muitas eleições, enquanto o país foi perdendo sua democracia. No México do PRI, também havia eleições e os vencedores eram escolhidos a dedo por uma oligarquia partidária.
O melhor da democracia é ela ser uma sociedade aberta. Está aí a sua força e a sua vulnerabilidade. Como proteger a democracia dos que não a respeitam sem criar limitações que a sufoquem? Vivemos dias intensos e eles estão terminando com várias sequelas. Precisaremos de muita sabedoria para curá-las e continuar a construção do futuro.
Precisaremos de muita coragem também, Miriam! Aquela que muitos jornalistas não têm demonstrado ter. Veja só que coisa: de que adiantou toda a sua tentativa de bancar a isenta entre o PT e os “radicais de direita”, no afã desesperado de não ser tachada – cruzes! – de uma de nós, até porque sabemos que você é claramente de esquerda? Nada!
O ex-presidente Lula, aquele sujeito que mente da hora que acorda até a hora de dormir, e provavelmente mente nos sonhos também, e que quer o poder pelo poder e nada mais, esse sujeito indecente citou nominalmente você como uma… inimiga! Você e o William Bonner, acusados em discurso recente como instrumentos da mídia golpista, e agora “somos nós contra eles”.
Para o PT, Miriam, você é uma representante da direita “neoliberal” golpista. Para os petistas, Miriam, você é “uma de nós”, um Reinaldo Azevedo de saias. Mesmo defendendo as cotas raciais, os movimentos indígenas, e fazendo tantas concessões ao lulopetismo. Com eles não tem conversa: ou adere in totum ao time podre, ou é um inimigo a ser eliminado. Era assim no nazismo e no comunismo também.
Espero, sinceramente, que tudo isso tenha servido para despertar aqueles que levaram tempo demais para perceber a natureza do PT. A esquerda social-democrata tem em mim e no Reinaldo Azevedo aliados bem mais próximos do que no partido seita, sócio de ditaduras mundo afora. Afinal, há muitas divergências, mas dentro do respeito às regras do jogo democrático. Resta saber se vocês realmente compreendem isso…
03 de junho de 2015
Rodrigo Constantino
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