O ritmo acelerado que a gestão Eduardo Cunha imprime às votações na Câmara tem consistência parecida com a persona oposicionista recentemente assumida pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, em suas defesas de projetos ditos moralizantes.
Em matéria de artificialismo, os movimentos de ambos guardam semelhança com a decisão da presidente Dilma Rousseff de considerar o ajuste fiscal “página virada” nem bem as medidas entraram em vigor, e o início de uma agenda positiva que inclui fotografias em passeios de bicicleta ao redor do Palácio da Alvorada com o intuito de, segundo seus assessores, conferir à figura presidencial caráter “mais humano”.
Como não se tem notícia da pesquisa em que se baseou o Planalto para chegar à conclusão de que Dilma parece aos olhos do brasileiro um ser de outro planeta, resta-nos aguardar detalhes da estratégia antes de avaliar a chance de êxito nos resultados.
A respeito da agenda positiva, trata-se do mesmo de sempre: dar por encerrado um tema desagradável de maneira unilateral e inventar uma série de outros a fim de mudar de assunto e tentar mudar o humor do público.
Aqui é possível dizer com certeza: não há chance de dar certo. Pelo simples fato de que o sucesso da agenda depende dos fatos. E, estes, objetivamente, não se expressam no lançamento de novos planos de financiamento para a agricultura familiar, em mais uma etapa do programa Minha Casa, Minha Vida ou aumento de impostos para instituições financeiras.
Essas coisas estão distantes do dia a dia da população. Próximos estão problemas como o desemprego, o endividamento, a queda na renda, o aumento de preços, a roubalheira desenfreada. Isso é o que faz a presidente Dilma Rousseff não poder sair nem falar em público.
E, segundo avaliações de seus auxiliares feitas longe dos comunicados oficiais, a expectativa é a de que não poderá fazê-lo tão cedo. E o que seria por eles considerado “cedo”? Até pelo menos que a economia desse algum sinal “mesmo que medíocre” de recuperação. Algo que não se espera antes do fim do ano.
Portanto, saibam a senhora e o senhor que nem o Palácio do Planalto acredita na eficácia real da agenda positiva. Ou melhor, da agenda postiça.
Tão afetada e carente de substância quanto a espetaculosa pauta do Congresso sob o comando de um PMDB reinventado de valente agora que o governo está nas cordas – não por obra do partido nem da oposição, mas por ação da entrada em cena dos protestos populares.
Sim, a Câmara começou a votar a reforma política, mas não votou nada que prestasse nem discutiu coisa alguma que alterasse ou melhorasse a relação entre eleitores e eleitos. Renan Calheiros e Eduardo Cunha fazem barulho, demonstram poder, pressionam o Executivo, mas na hora do vamos ver – como as votações das medidas do ajuste – basta dar uma volta no Congresso para perceber que o debate de fundo ainda é sustentado no fisiologismo.
Os dois vão e voltam e a caravana do governo passa. No que interessa, o Planalto ganha. Não com a facilidade de antes, quando a popularidade era farta, mas ganha porque o sistema é presidencialista, e não parlamentarista, como parece querer fazer crer o espetáculo do fingimento proporcionado pela gritaria algo inconsistente.
De concreto o que se tem é a aprovação de um “contrabando” embutido em medida provisória autorizando a construção de um shopping no Parlamento. De resto, a cada hora é uma invencionice ao molde de factoide.
A última diz respeito à transferência do controle da escolha de dirigentes das estatais e bancos públicos ao Congresso. A justificativa, “abrir a caixa-preta das estatais”, melhorar a transparência e governança das empresas.
Para isso, suas excelências dispõem das comissões permanentes de fiscalização e controle. Basta fazê-las funcionar com eficácia, seriedade, lisura e independência.
03 de junho de 2015
Dora Kramer
Em matéria de artificialismo, os movimentos de ambos guardam semelhança com a decisão da presidente Dilma Rousseff de considerar o ajuste fiscal “página virada” nem bem as medidas entraram em vigor, e o início de uma agenda positiva que inclui fotografias em passeios de bicicleta ao redor do Palácio da Alvorada com o intuito de, segundo seus assessores, conferir à figura presidencial caráter “mais humano”.
Como não se tem notícia da pesquisa em que se baseou o Planalto para chegar à conclusão de que Dilma parece aos olhos do brasileiro um ser de outro planeta, resta-nos aguardar detalhes da estratégia antes de avaliar a chance de êxito nos resultados.
A respeito da agenda positiva, trata-se do mesmo de sempre: dar por encerrado um tema desagradável de maneira unilateral e inventar uma série de outros a fim de mudar de assunto e tentar mudar o humor do público.
Aqui é possível dizer com certeza: não há chance de dar certo. Pelo simples fato de que o sucesso da agenda depende dos fatos. E, estes, objetivamente, não se expressam no lançamento de novos planos de financiamento para a agricultura familiar, em mais uma etapa do programa Minha Casa, Minha Vida ou aumento de impostos para instituições financeiras.
Essas coisas estão distantes do dia a dia da população. Próximos estão problemas como o desemprego, o endividamento, a queda na renda, o aumento de preços, a roubalheira desenfreada. Isso é o que faz a presidente Dilma Rousseff não poder sair nem falar em público.
E, segundo avaliações de seus auxiliares feitas longe dos comunicados oficiais, a expectativa é a de que não poderá fazê-lo tão cedo. E o que seria por eles considerado “cedo”? Até pelo menos que a economia desse algum sinal “mesmo que medíocre” de recuperação. Algo que não se espera antes do fim do ano.
Portanto, saibam a senhora e o senhor que nem o Palácio do Planalto acredita na eficácia real da agenda positiva. Ou melhor, da agenda postiça.
Tão afetada e carente de substância quanto a espetaculosa pauta do Congresso sob o comando de um PMDB reinventado de valente agora que o governo está nas cordas – não por obra do partido nem da oposição, mas por ação da entrada em cena dos protestos populares.
Sim, a Câmara começou a votar a reforma política, mas não votou nada que prestasse nem discutiu coisa alguma que alterasse ou melhorasse a relação entre eleitores e eleitos. Renan Calheiros e Eduardo Cunha fazem barulho, demonstram poder, pressionam o Executivo, mas na hora do vamos ver – como as votações das medidas do ajuste – basta dar uma volta no Congresso para perceber que o debate de fundo ainda é sustentado no fisiologismo.
Os dois vão e voltam e a caravana do governo passa. No que interessa, o Planalto ganha. Não com a facilidade de antes, quando a popularidade era farta, mas ganha porque o sistema é presidencialista, e não parlamentarista, como parece querer fazer crer o espetáculo do fingimento proporcionado pela gritaria algo inconsistente.
De concreto o que se tem é a aprovação de um “contrabando” embutido em medida provisória autorizando a construção de um shopping no Parlamento. De resto, a cada hora é uma invencionice ao molde de factoide.
A última diz respeito à transferência do controle da escolha de dirigentes das estatais e bancos públicos ao Congresso. A justificativa, “abrir a caixa-preta das estatais”, melhorar a transparência e governança das empresas.
Para isso, suas excelências dispõem das comissões permanentes de fiscalização e controle. Basta fazê-las funcionar com eficácia, seriedade, lisura e independência.
03 de junho de 2015
Dora Kramer
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