Por que dizemos que um negócio é ‘da China’?
“Gosto muito de saber a origem das expressões idiomáticas e aproveito a discussão do papo/palpo de aranha para perguntar ao senhor: ‘negócio da China’ veio da China mesmo? Por quê?” (Nestor Mendes)
Esta coluna, que completa cinco anos este mês, ainda era um bebê quando, provocado pela leitora Maria de Lourdes Canedo, tratei aqui da locução “negócio da China”. A oportunidade que Nestor nos dá de voltar ao assunto é bem-vinda: trata-se de uma expressão rara, tão antiga que sua origem se perde nas bruma dos séculos, mas que permanece atual como se tivesse sido criada ano passado. Como se sabe, significa “negócio muito lucrativo, maravilhoso”.
Em casos como este, a literatura costuma ser nossa melhor lanterna. Eis a teoria mais difundida e provável sobre a expressão, nas palavras com que a registra o livrinho de divulgação etimológica “A casa da mãe Joana”, de Reinaldo Pimenta:
A expressão se originou das viagens de Marco Polo ao Oriente, no século XIII. Com a divulgação de sua narrativa, a China ficou conhecida como uma terra de coisas mirabolantes, exóticas, atraindo a ambição de comerciantes.
Faz sentido. Se as provas cabais são impossíveis de coletar, é fato que o relato do mercador veneziano teve, sim, impacto e permanência suficientes na Europa para criar um dos mais persistentes lugares-comuns da nossa língua. E não só dela: o inglês tem a expressão Chinese deal, uma tradução perfeita.
Mas calma: isso não quer dizer que “negócio da China” tenha alcance universal. Até onde me foi dado apurar, consta que o espanhol, o francês e o alemão não adotaram a expressão, embora esta seja uma conclusão necessariamente provisória, à espera de desmentidos bem-vindos na caixa de comentários abaixo.
Outro fator de provável relevância para a permanência da locução em nosso idioma é a história da presença portuguesa em Macau, com seus quase cinco séculos de negócios – neste caso, literalmente – da China.
03 de junho de 2015
Sérgio Rodrigues
Nenhum comentário:
Postar um comentário