"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

EX-ASSESSORES REVEEM TRAJETÓRIA DE LEONEL BRIZOLA




Brizola tinha tudo para chegar a presidente, mas não aconteceu
Leonel Brizola (1922-2004) sabia o que precisava fazer para se tornar governador (venceu as três eleições que disputou), mas nunca conseguiu chegar à Presidência. Por quê?

Escrito por Clóvis Brigagão e Trajano Ribeiro, “Brizola” (editora Paz e Terra) fornece pistas valiosas para entender o que deu errado. O livro não é propriamente uma biografia, mas um testemunho de dois assessores sobre sua volta ao Brasil.

Para rebater as críticas de que o líder gaúcho “não tinha estratégia”, eles dão exemplos de sua capacidade de avaliar o cenário político.

O caso mais impressionante ocorreu na sua eleição para governador do Rio, em 1982. Quando todos acreditavam que a disputa seria vencida por Sandra Cavalcanti ou Miro Teixeira (candidato do governador Chagas Freitas), Brizola intuiu que seu grande adversário seria o candidato do governo federal.

Na época, o regime militar ainda nem tinha um candidato –tentara lançar o ministro Mário Andreazza, sem êxito. Mas depois se fixou no então prefeito de Niterói, Moreira Franco.

UM PACTO

Contudo, em vez de atacar Moreira, Brizola o procurou. Propôs um pacto: disse que o favorito era Miro, mas este não deveria ser o alvo inicial. Brizola se dispôs a atacar o candidato do PT (Lysâneas Maciel) para ganhar o eleitorado de esquerda, enquanto Moreira atacaria Sandra, para conquistar a direita. Miro ficaria para depois.

A estratégia deu certo: Sandra e, depois, Miro caíram nas pesquisas. Moreira assumiu a liderança, mas na reta final Brizola o ultrapassou – e acabou vencendo a eleição.

Apesar dessas apostas certeiras, Brizola não conseguiu “o que mais desejava”. O novo PDT nunca adquiriu a dimensão alcançada pelo velho PTB, e parte da culpa cabia ao próprio Brizola: a sutileza política que exibia nas eleições regionais desaparecia na articulação de sua candidatura à Presidência.

DESERÇÕES

Centralizador, excluía sumariamente políticos ou auxiliares aos primeiros atritos. As deserções de aliados importantes eram rotineiras.

Tomava decisões que, embora atraentes no curto prazo, mais tarde se revelavam cheias de problemas. Expulso do Uruguai em setembro de 1977, recebeu ofertas de abrigo em Portugal e Argélia, porém insistiu em pedir asilo aos Estados Unidos, onde não era bem visto (tinha expropriado duas empresas americanas quando era governador gaúcho).

Sua solicitação foi levada diretamente ao presidente Jimmy Carter, que a aceitou. A iniciativa de Brizola constrangeu a ditadura brasileira, mas enfraqueceu sua retórica anti-imperialista – tanto que, meses depois, ele se mudou para Portugal. 

Só então pôde voltar a criticar os EUA por terem coordenado o Golpe de 1964 “para evitar a aplicação da Lei da Remessa de Lucros, que poria termo à espoliação do Brasil pelas empresas multinacionais”.

(artigo enviado pelo comentarista Mário Assis)

26 de junho de 2015
Mauricio Puls
Folha

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