"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

POLICIAIS SE COMOVEM COM LADRÃO, PAGAM FIANÇA E CESTA BÁSICA. UMA HISTÓRIA DE HORROR QUE RETRATA A CARA DO BRASIL E OS ÍNVIOS CAMINHOS DA JUSTIÇA.


Em Brasília, após tentar furtar 2kg de carne em um mercado de Santa Maria, o desempregado Mário Ferreira Lima foi preso em flagrante. 
Mas a polícia se comoveu com a história do rapaz: depois que o detido contou a história da vida dele, policiais pagaram a fiança e ainda fizeram compras para a família. Entregaram os mantimentos nesta terça-feira (13/5), na casa do suspeito, no Jardim Ingá.

Trata-se de um eletricista desempregado, que sustenta um filho com o benefício que recebe por mês do programa Bolsa Família. 
Como o dinheiro não havia sido depositado na conta, Mário tentou roubar 2kg de carne de um mercado, mas foi pego pelo dono do estabelecimento, que chamou a polícia.

Durante o depoimento, na 20ª Delegacia de Polícia (Gama Oeste), ele começou a passar mal. Depois de se acalmar, relatou que, há quase um ano, a mulher dele sofreu um acidente e passou oito meses no hospital. Por isso, Mário perdeu o emprego. Quando ela se recuperou, ela foi morar com um filho de outro casamento, porque a família estava sem dinheiro para lhe garantir os cuidados necessários.

Sobrou para o suspeito a responsabilidade de criar sozinho um filho, de 12 anos, que estuda na parte da tarde e demanda cuidados pela manhã. Enquanto o adolescente está na escola, o pai tenta fazer bicos para sustentar a casa. Mas, segundo relatou, há dois meses ele não consegue nada.

Diante da situação, o delegado colocou uma fiança estipulada em R$ 270, valor pago por uma agente da Polícia Civil que ficou sensibilizada com a história. Outro agente resolveu dar a ele R$ 30 para que ele pagasse o valor da carne.
No fim do dia, houve uma vaquinha e os policiais fizeram uma compra de mês. Entregaram tudo na casa dele, por volta de 19h30.

15 de maio de 2015
Bernardo Bittar
Correio Braziliense

NOTA AO PÉ DO TEXTO

Realmente é comovente a história do Mário... Há os que dirão cheios de certeza e desumanidade, mas sobretudo cegos diante do desarranjo do país, que "infelizmente", "dura lex, sed lex". 
Não restam dúvidas que o direito romano expresso no dito, tem lá suas razões, quando aplicado a todos, sem exceção, e segundo a gravidade do crime e a necessidade que leva o autor a pratica-lo. 
Hoje, assistimos a desintegração da República com os sucessivos escândalos de corrupção e com os assustadores valores que nos são apresentados pela mídia... Coisa de bilhões.
Hoje sabemos que aproximadamente duzentos e poucos juizes estão ameaçados de morte, geralmente pelo crime organizado, milícias, políticos organizados em quadrilhas etc. Facínoras de alta periculosidade que afrontam a justiça, pagam os melhores advogados, protelam suas sentenças e muitos desaparecem impunes...
Coisa de bilhões, minha gente... Aí, um desempregado, trabalhador, com responsabilidades acima da sua capacidade de respostas efetivas, rouba dois quilos de carne, cerca de R$ 30,00 e a 'cana dura' agarra o seu gogó e o manda para o xilindró. 
Interessante que policiais condoídos da sua sorte, promoveram comovente ação movidos pela compaixão. Interessante porque policiais, habituados a lidar com bandidos, não costumam penalizar-se ou se tomarem por sentimentos cristãos, pois 'duralex, sed lex'...
Mas a situação é tão insólita, que não resistiram. Quem sabe se cansados do 'entra e sai das celebridades' na Papuda, do horizonte ainda turvo da punição de fato, possa ter contribuído para aliviar o sofrimento de um 'pé-de-chinelo', se comparado com as excelências que andam frequentando as colunas policiais. 
Porque não bastam uma tornozeleira (seria de griffe?) e a prisão domiciliar, com bons vinhos e outras tantas iguarias.
O fato é ilustrativo, e me recorda outro, já faz muito tempo, também em Brasília, quando lá morava. Um pobre homem, sem dinheiro para comprar um determinado remédio, foi surpreendido, no Parque da Cidade, arrancando a casca de certa árvore para fazer um chá que aliviaria seu sofrimento. Foi preso por infringir a Lei de proteção ao meio ambiente.
Esse indigitado foi preso, por cometer um atentado contra a ordem universal da biodiversidade, do meio ambiente, da natureza... Porém, enquanto o indigitado era preso, lá, na distante região do Amazonas, Pará e outras, a devastação ocorria a céu aberto, desertificando quilômetros e quilômetros quadrados... O que ainda hoje, continua ocorrendo. sem que alguma madeireira tenha respondido por crime ambiental etc... etc... etc...
Pequenas histórias muito interessantes, que retratam pessoas humildes, que não são procuradas pela Polinter ou pela Interpol, mas extremamente perigosas... Historietas que retratam a cara de Pindorama.
m.americo

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